Em 2019 Martin Scorsese gerou polêmica ao dizer que os filmes dos estúdios Marvel não eram cinema. Segundo o diretor, as produções se aproximam mais de um parque de diversões do que propriamente de uma obra de cinema. Obviamente a afirmação gerou discussão e colocou fãs dos dois lados em confronto.

Bom, dizer o que é ou não cinema é uma discussão longa e que não cabe aqui nesse texto. O que não dá para negar é que os filmes Marvel realmente oferecem altas doses de diversão. Basta ver nos vídeos que circulam pela internet com a reação da audiência à momentos chave de filmes como Vingadores: Ultimato (2019). Essa é uma das razões que fazem as produções sempre baterem recordes de público e de bilheteria.

Enquanto as séries Wandavision (2021), Falcão e o Soldado Invernal (2021) e Loki (2021 – ), pavimentam o futuro das produções do estúdio, nos longa metragens voltamos ao passado para contar a história de Natasha Romanoff (Scarlett Johansson) em Viúva Negra (2021) que, apesar de fazer parte dos Vingadores originais, tinha atuado apenas como coadjuvante nos filmes anteriores. Sua primeira aparição foi em Homem de Ferro 2 (2010), em que a ideia de um universo compartilhado ainda engatinhava.

A nova produção acontece durante os eventos de Capitão América: Guerra Civil (2016), em que os heróis estavam sendo caçados pelo governo, causando um racha na equipe encabeçada por uma briga que deixou Capitão América (Chris Evans) e Homem de Ferro (Robert Downey Jr.) em lados opostos. A Viúva Negra, tentando fugir das perseguições do governo, acaba se encontrando com um passado que ela julgava concluido. Mais especificamente quando ela se encontra com Yelena Belova (Florence Pugh), uma antiga conhecida.

A ideia aqui é mostrar como Natasha se tornou a Viúva Negra, seu treinamento numa instituição criada na União Soviética durante a Guerra Fria e demais eventos que a levaram a se tornar uma Vingadora. Além de arrematar algumas pontas soltas que tinham ficado no passado e que nem nós espectadores, nem a própria Natasha sabia que tinham ficado a resolver.

Como era de se esperar, Viúva Negra segue os tão falados (inclusive por mim em alguns textos aqui no Cinemascope) “padrões de qualidade Marvel”. Um filme de ação, cheio de referências a outras produções do universo dos Vingadores, com piadinhas e alívios cômicos e até cenas em que os personagens riem do próprio universo Marvel. Certamente é um prato cheio para quem acompanha tão fielmente as produções do time de heróis. Por outro lado, não acrescenta muita coisa para o andamento das futuras produções (ao menos à primeira vista). Serve mais no sentido de dizer “lembra aqueles flashbacks que a Natasha tinha, especialmente em Vingadores: Era de Ultron (2015), quando encontrou com a Wanda (Elizabeth Olsen) a primeira vez? Então, era isso aqui que ela estava lembrando”.

Um dos personagens mais interessantes (se não for o mais interessante) é uma espécie de “Capitão América Soviético”. Alexei (David Harbour) era o Guardião Vermelho e utilizava uma roupa bem parecida com a do herói estadunidense, mas defendia o lado oposto ao capitalismo. Inclusive, além das diversas tatuagens espalhadas no seu corpo, tem tatuado nos seus dedos o nome de Karl Marx, um filósofo escritor de livros como O Capital (1867) e Manifesto Comunista (1848). Ele é uma figura carismática, mas ao mesmo tempo pesada e barbuda que é o extremo oposto das espiãs que passaram pelo mesmo treinamento que a Viúva Negra. O que parece é que, de uma determinada parte do filme para frente, ele se tornou “legal demais” a ponto de tirar a atenção da protagonista, que acabou sumindo no meio da trama.

Não é crime, e nem acredito que essa foi a intenção de Scorsese ao escrever seu texto, um filme que seja puramente entretenimento. Aliás, esses momentos são muito bem-vindos em um mundo pandêmico e tenso que estamos vivendo atualmente em que não podemos nem sair de casa. Outra coisa que foi diferente nesse lançamento é que os filmes Marvel costumam ser eventos sociais em que amigos e familiares se reúnem para ir aos cinemas. Hoje isso também ocorreu, mas no sofá de casa, com Viúva Negra sendo lançado tanto nas salas quanto no streaming. Mas, olhando num macro, a produção acaba sendo mais um filme Marvel, sem nada de muito relevante a não ser uma volta numa montanha russa. Dá uma adrenalina somente enquanto estamos por lá.

Viúva Negra

Ano: 2021
Direção: Cate Shortland
Roteiro: Eric Pearson, Jac Schaeffer, Ned Benson
Elenco principal: Scarlett Johansson, Florence Pugh, David Harbour, Rachel Weisz
Gênero: ​Ação, Aventura, Ficção Científica
Nacionalidade: Estados Unidos

Avaliação Geral: 3