Por Rafael Ferreira

Não há cinéfilo que se preze que não se encante com o trabalho desenvolvido pelo estúdio Pixar. Desde sua estreia nas telonas em 1995 com Toy Story, o estúdio transformou o cinema, a partir de então, os filmes de animação passaram a ter um certo apelo aos pais que acompanhavam seus filhos no cinema. Up: Altas Aventuras, o décimo filme da Pixar, lançado em 2009, é um bom exemplo de filme que agrada tanto crianças quanto adultos, foi o segundo de animação a concorrer ao Oscar de melhor filme.

Up conta a história de Carl Fredricksen, um velho ranzinza que decide realizar um sonho de criança, e para concretizá-lo, amarra milhares de balões em sua casa e parte para a América do Sul. Para a surpresa do velho, havia alguém na sua varanda quando sua casa levantou voo, o garoto tagarela Russell. Enquanto tentam levar a casa de Carl à cachoeira, os dois encontram diversos obstáculos, como um pássaro raro, um cão falante, e um velho aventureiro perdido na sua obsessão.

Muitos se impressionam com a qualidade técnica de seus filmes, mas o que realmente importa são seus personagens, a história existe em função deles, e não o contrário, portanto, começaremos esta análise por este tema. AVISO: haverá SPOILERS, portanto, se você ainda não assistiu a este filme, faça-o antes de continuar a leitura deste texto. De preferência, assista com seu avô ou avó, para uma experiência única.

Up começou a ser desenvolvido a partir de um desenho que o diretor Pete Docter fez: um velhinho rabugento segurando vários balões com palavras alegres. O contraste nesta imagem chamou a atenção de Pete. “Quem é este senhor?” “Qual a sua experiência de vida?”. São questões que raramente passam pela nossa cabeça quando nos deparamos com uma pessoa de idade num parque, principalmente porque vivemos uma cultura dominada por jovens (e até mesmo adultos tentando ser jovens). Devemos lembrar que um dia estaremos em seu lugar e esta será nossa maior conquista.

Em vinte minutos de projeção, acompanhamos a trajetória de Carl Fredricksen da sua infância até os seus 78 anos de idade, são vinte minutos que nos mostram o quanto a vida passa rápido. Esta introdução é o coração do filme, ela carrega a essência da animação, a arte de contar uma história sem diálogos – uma coisa que o mestre Alfred Hitchcock nos ensinou: assistir um filme sem volume, se você compreender, é um bom sinal, caso contrário, o filme tem problemas, veja a seqüência do assassinato em O Homem Que Sabia De Mais (1956), por exemplo, são doze minutos sem diálogo –, se o público não se encantar pelo relacionamento deste casal, ele não se convencerá dos motivos que levam Carl a fazer o que faz.

O que o diretor quer é nos colocar no lugar de Carl e que nos importarmos com ele, pois sua vida é como a nossa, cheia de altos e baixos, enfrentando obstáculos, pode ser um pneu furado ou um telhado quebrado, situações que nos forçam a recorrer àquele dinheiro que estávamos juntando para uma ocasião especial, e como a maioria de nós que coloca nossos sonhos de lado para simplesmente sobrevivermos, são essas pequenas aventuras mundanas deste casal, refletidas nas nossas vidas que nos levam à identificação com Carl e Ellie. É interessante observar que é sempre Carl quem quebra o jarro de moedas, e isso traz um sentimento de culpa ao personagem, por ele sempre ter sido responsável por eles nunca terem ido ao paraíso das cachoeiras. Depois da derradeira tragédia em sua vida, ele se torna um cara reservado (sempre foi, quando criança mal falava), e isso é claramente percebido no design do personagem (crédito para o diretor de arte Ricky Nierva, creio que ele se inspirou no rosto de Walter Matthau ou Spencer Tracy), na animação, a silhueta do personagem e o staging são dois princípios fundamentais. O formato quadrado da sua cabeça nos diz que ele é um homem encaixotado na sua própria vida, tudo relacionado a Carl tem um formato quadrado, desde sua poltrona favorita, às molduras de suas fotografias.

UP ALTAS AVENTURAS IMAGENS 1

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Primeiro desenho de Pete Docter; (Foto 2) Concept art de personagem; (Foto 3) Carl e Ellie sentados lendo, observe que a poltrona de Carl é quadradona, enquanto de Ellie é arredondada, seguindo o contorno do seu rosto; (Foto 4) Carl e Ellie idosos, ainda um casal apaixonado vivendo aventuras quotidianas; (Foto 5) Ellie fazendo Carl jurar levá-la ao Paraíso das Cachoeiras; (Foto 6) Carl entregando o Livro de Aventuras para Ellie, uma forma de motivá-la a seguir em frente; (Foto 7) Carl se dá conta de que ficou velho e não realizou o sonho; (Foto 8) Carl quebra a jarra de moedas após o incidente com o pneu furado; (Foto 9) Carl com a perna quebrada, motivo que o leva a quebrar o jarro de moedas pela segunda vez; (Foto 10) Carl empurra a poltrona de Ellie, enquanto Ellie empurra a poltrona de Carl; (Foto 11) Carl “emoldurado” atrás da janela quadrada; (Foto 12) Carl e Ellie limpando a janela; (Foto 13) Carl acorda sozinho, observe o contraste entre o abajour e o retrato do lado de Carl e Ellie, assim como o despertador, os objetos dele são quadrados, e os objetos dela são arredondados; (Foto 14) Novamente, as molduras das fotos de Carl são quadradas e de Ellie são redondas; (Foto 15) Casamento de Carl e Ellie; (Foto 16) Funeral de Ellie, na mesma igreja em que se casaram; (Foto 17) Walter Matthau, uma das referências para a criação do rosto de Carl; (Foto 18) Spencer Tracy, outra referência para a criação do rosto de Carl.

Se a figura de Carl é inspirada num quadrado, a de Russell é inspirada numa sementinha ou num ovo, um ovo macio e fofo, condizendo com a função do personagem, pois um ovo precisa ser cuidado e protegido, senão ele se quebra. Todo mundo conhece uma criança parecida com Russell, aquele menino que quer ajudar em tudo, mas sempre acaba atrapalhando, sempre segue o manual, mas mesmo assim acaba dando algo errado. Ele é uma criança agitada, entusiasmada, mas há um momento no filme que percebemos que há uma ferida dentro dele. Sem falar abertamente (observe que Russell se sente desconfortável e nem sequer olha nos olhos de Carl quando toca no assunto, a propósito, uma excelente animação), o público e Carl percebe o que se passa na vida de Russell, a separação dos pais o entristece, neste momento vemos que o pai faz falta na vida de Russell, esta figura paterna ausente é substituída por Carl Fredricksen, que por sua vez está lidando com a perda da esposa. Carl acredita na promessa que fez para Ellie, como se ao levar a casa para a cachoeira pudesse trazê-la de volta, da mesma forma Russell acredita que conseguir o último distintivo trará seu pai de volta, e a família ficará completa novamente, e vale observar que o espaço para o distintivo de ajuda ao idoso fica no peito esquerdo de Russell, representando este vazio em seu coração que precisa ser preenchido. Ao final do filme, o “distintivo Ellie” (uma tampinha de garrafa), que antes representava a amizade entre Carl e Ellie, agora liga Carl e Russell, essa ligação entre esses dois personagens também é sugerida de outra forma bem sutil, observe que quando Carl é apresentado quando criança, ele usa a camisa por dentro dos shorts, com a gola direita por cima do colete, e a parte de baixo da camisa do lado esquerdo pra fora do short, da mesma forma, quando Russell é apresentado, a sua gola esquerda está por cima do lenço, e a parte de baixo da camisa do lado direito por fora do short, como se um personagem fosse complemento do outro.

 

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Estudo de personagem, silhueta de Russell, em formato de semente; (Foto 2) Concept art, ainda não está no modelo final; (Foto 3 e 4) Character Sheet, expressões faciais de Russell; (Foto 5) Concpet art de personagem; (Foto 6) Design final de Russell com todos os equipamentos nas costas. Russell com sua sede de aventuras, seria o filho ideal para Ellie; (Foto 7) Russell constrangido ao falar da sua relação com seu pai; (Foto 8) Russell abraça Carl, sua nova figura paterna; (Foto 9) “Distintivo” Ellie no peito de Carl, simbolizando a amizade dele com Ellie; (Foto 10) “Distintivo” Ellie no peito de Russell, simbolizando a amizade dele com Carl; (Foto 11) Quando criança, Carl aparece com a gola direita por cima, e a parte de baixo da camisa do lado esquerdo por fora do short; (Foto 12) Russell, com a gola esquerda por cima do lenço, e a parte de baixo da camisa pra fora do short. Observe que o espaço reservado para o distintivo de ajuda ao idoso é bem no coração. Neste momento Russell diz: “And all the dads come, and they pin on our badges” (Todos os pais vão vir, e eles nos colocam os distintivos), expressando o desejo de receber esta condecoração para ter seu pai presente.

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Estudo de personagem, silhueta de Russell, em formato de semente; (Foto 2) Concept art, ainda não está no modelo final; (Foto 3 e 4) Character Sheet, expressões faciais de Russell; (Foto 5) Concpet art de personagem; (Foto 6) Design final de Russell com todos os equipamentos nas costas. Russell com sua sede de aventuras, seria o filho ideal para Ellie; (Foto 7) Russell constrangido ao falar da sua relação com seu pai; (Foto 8) Russell abraça Carl, sua nova figura paterna; (Foto 9) “Distintivo” Ellie no peito de Carl, simbolizando a amizade dele com Ellie; (Foto 10) “Distintivo” Ellie no peito de Russell, simbolizando a amizade dele com Carl; (Foto 11) Quando criança, Carl aparece com a gola direita por cima, e a parte de baixo da camisa do lado esquerdo por fora do short; (Foto 12) Russell, com a gola esquerda por cima do lenço, e a parte de baixo da camisa pra fora do short. Observe que o espaço reservado para o distintivo de ajuda ao idoso é bem no coração. Neste momento Russell diz: “And all the dads come, and they pin on our badges” (Todos os pais vão vir, e eles nos colocam os distintivos), expressando o desejo de receber esta condecoração para ter seu pai presente.

Outro exemplo de personagem que quer reunir a família é Kevin, esta ave misteriosa que não voa. Em resposta à pergunta que todos fizemos, Kevin é um pássaro que não existe no mundo real. Ele representa algo diferente para cada personagem, Russell a ama porque “O escoteiro é amigo de todos, seja planta, peixe ou uma topeirinha”, além do mais, é totalmente condizente com o personagem que está lidando com a separação dos pais querer ajudar Kevin a se encontrar com a sua família. Para Carl, Kevin representa o amor que Ellie tinha por pássaros, então ele acredita que se estivesse viva, Ellie ajudaria Kevin; para Muntz, Kevin representa a sua obsessão, sua loucura, um sonho inalcançável, ele passou os últimos 52 anos na tentativa de capturá-la, ela seria seu ingresso para a fama, visto que sua carreira afundou justamente porque deram por falso os ossos que Muntz apresentou ao mundo. Em resumo, Kevin é o McGuffin do filme – como Alfred Hitchcock (última vez que o cito neste texto, prometo) explica, “é inconseqüente, ainda que seja de grande interesse para o protagonista de um filme (ou antagonista). É um objeto ou dispositivo que conduz o enredo, geralmente no começo de uma história, mas que pode ser facilmente esquecido após atingir o objetivo.”

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Concept art de Kevin; (Foto 2) Russell perguntando para Carl: “Posso ficar com ele?”; (Foto 3) Russell e Carl conseguem reunir Kevin com os seus filhotes; (Foto 4) Um dos breves momentos que o filme mostra o amor de Ellie por pássaros. O Livro de Aventuras dela também está cheio de desenhos e penas de pássaros; (Foto 5) Momento em que Carl percebe que Kevin corre perigo e decide ajudá-lo(a); (Foto 6) Charles Muntz com seus 20 poucos anos apresentando o esqueleto do “Monstro do Paraíso das Cachoeiras”; (Foto 7) Charles Muntz com seus 90 e poucos anos perdido em sua obsessão pelo “Monstro do Paraíso das Cachoeiras”.

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Concept art de Kevin; (Foto 2) Russell perguntando para Carl: “Posso ficar com ele?”; (Foto 3) Russell e Carl conseguem reunir Kevin com os seus filhotes; (Foto 4) Um dos breves momentos que o filme mostra o amor de Ellie por pássaros. O Livro de Aventuras dela também está cheio de desenhos e penas de pássaros; (Foto 5) Momento em que Carl percebe que Kevin corre perigo e decide ajudá-lo(a); (Foto 6) Charles Muntz com seus 20 poucos anos apresentando o esqueleto do “Monstro do Paraíso das Cachoeiras”; (Foto 7) Charles Muntz com seus 90 e poucos anos perdido em sua obsessão pelo “Monstro do Paraíso das Cachoeiras”.

Pessoalmente, acho que Muntz ficaria mais rico se patenteasse a coleira que traduz os pensamentos dos cães. Todos esses anos recluso, sua única companhia (fora aqueles que apareceram em seu caminho, mas foram eliminados) foram seus cães, estes executam todo tipo de tarefa, desde piloto a chef de cozinha. Eles recebem nomes como Alfa, Beta, Gama, Delta, Épsilon, e assim subseqüentemente, mostrando que existe uma hierarquia entre eles, um sistema de castas, onde o Dobermann Alfa é o líder da matilha e o Rottweiler Beta é o seu braço direito, mas Dug não é uma letra grega, ele está abaixo desta hierarquia.

Dug é um cão Labrador, ele age como um cachorro de verdade, uma característica desta raça é que ele tem uma memória curta (tipo a Dory do Procurando Nemo), por isso é difícil treiná-lo a não fazer as necessidades no lugar errado, esse lapso de memória faz com que o cão fique mega entusiasmado toda vez que faz uma atividade, pode ser passear de carro, ir ao quintal, ou brincar de bola, mesmo que já tenha feito isso centenas de vezes, ele sempre irá achar que é a primeira vez. O grande mérito para os cães no filme serem tão parecidos com os cães no mundo real, é que a produção contou com um especialista em comportamento canino, Ian Dunbar, ele quem deu as dicas aos animadores sobre como os cães se comportam diante de outro para mostrar que não é uma ameaça, ele quem esclareceu as linguagens corporais, desde o abanar de rabo à posição da orelha.

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Concept art por Lou Romano; (Foto 2) O documentário mostrando como Muntz trata seus cães. O que me intriga é: pra que essa esteira estranha? (Foto 3) Muntz sendo servido pelos seus cães, à sua esquerda está o cão chef Épsilon, com um chapéu de cozinheiro. Se um rato pode cozinhar, por que não um cão?; (Foto 4) Primeira aparição de Alpha, num contra plongée, dando poder ao personagem, além de estar contra a luz; (Foto 5) Alpha se impõe para Beta e Gama, observe como os dois cães se acanham diante do líder, como cães de verdade fariam. Nesta cena, Gama sugere que Dug pode desafiar Alpha, uma antecipação para o que virá no terceiro ato; (Foto 6) Russell encontra Dug; (Foto 7) Ian Dunbar, o especialista em comportamento canino, é possível ver no quadro atrás do palestrante, um endereço eletrônico, http://www.dogstardaily.com/, seu site com centenas de informações sobre cães; (Foto 8) ESQUILO! (Foto 9) Dug entusiasmado com a bola “I so ever do want the ball!”; (Foto 10) Dug constrangido, observe a postura e a posição das orelhas para se expressar.

Da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Concept art por Lou Romano; (Foto 2) O documentário mostrando como Muntz trata seus cães. O que me intriga é: pra que essa esteira estranha? (Foto 3) Muntz sendo servido pelos seus cães, à sua esquerda está o cão chef Épsilon, com um chapéu de cozinheiro. Se um rato pode cozinhar, por que não um cão?; (Foto 4) Primeira aparição de Alpha, num contra plongée, dando poder ao personagem, além de estar contra a luz; (Foto 5) Alpha se impõe para Beta e Gama, observe como os dois cães se acanham diante do líder, como cães de verdade fariam. Nesta cena, Gama sugere que Dug pode desafiar Alpha, uma antecipação para o que virá no terceiro ato; (Foto 6) Russell encontra Dug; (Foto 7) Ian Dunbar, o especialista em comportamento canino, é possível ver no quadro atrás do palestrante, seu endereço eletrônico com centenas de informações sobre cães; (Foto 8) ESQUILO! (Foto 9) Dug entusiasmado com a bola “I so ever do want the ball!”; (Foto 10) Dug constrangido, observe a postura e a posição das orelhas para se expressar.

Muitos dos meus amigos não sabem, mas estou na metade do caminho para me formar em Arquitetura e Urbanismo, assim como muitos de meus colegas de faculdade não sabem que trabalho com desenhos animados, portanto, isso me dá propriedade para falar dos dois assuntos. Posso dizer que a escolha de um material leve, madeira, nos faz acreditar que a mesma poderia, sim, ser levantada do chão. A presença de varanda, bay window, as cores vibrantes, principalmente depois que Carl e Ellie a reformaram, o telhado com uma inclinação de mais de 45% e telhas ardósia arredondada, detalhes talhados na caixa da janela, são características do estilo vitoriano, que fazem referência à infância de Walt Disney na cidade de Marceline, Missouri, descrita no primeiro capítulo da biografia escrita por Neal Gabler.

Analisando o entorno, é um bairro antigo, esta humilde residência resistiu aos cinqüenta anos de crescimento, enquanto as casas ao redor deram espaço a outros tipos de loteamento, tornando a casa de Carl uma “casa prego”, uma situação que me faz lembrar outro curta da Disney, The Little House (1952). Em 2006 (Up começou a ser produzido em 2004) um caso semelhante aconteceu em Seattle, Washington, uma senhora de 84 anos de idade, Edith Macefield, recusou uma proposta de um milhão de dólares pelo seu terreno e sua casa de 108 anos, para a construção de um shopping, o projeto teve de ser mudado para contornar a casa dela. Dois anos depois ela veio a falecer de câncer no pâncreas.

No interior da casa de Carl vemos como é cheia de lembranças, ele e sua esposa gostam de colecionar recordações. Quanto à iluminação, a janela bay window oferece ótima iluminação natural, nota-se que enquanto Ellie é viva a sala de estar é sempre bem iluminada, mas após sua partida, Carl se enclausura num ambiente escuro. Em vários filmes, a casa é apenas um componente do cenário, neste caso não. Literalmente e figurativamente, Carl está preso à casa porque ela representa Ellie e toda a vida que tiveram juntos, mesmo depois que a personagem parte, sua presença é sentida durante o filme, é uma experiência catártica para Carl quando ele finalmente chega ao paraíso das cachoeiras e se dá conta de que Ellie não é a casa e nem os móveis, ela está em seu coração (meio piegas, mas verdadeiro), assim que ele se dá conta disso, ele começa a se desprender do passado para poder seguir em frente. Podemos refletir sobre este momento da seguinte forma: vista de longe, a cachoeira realmente parece ser o paraíso, mas quando Carl finalmente a alcança, ele vê que não era bem o que ele imaginava, o solo é rochoso, sem vida, chato, como se aquilo fosse um sonho vazio, por isso que, mesmo que Carl tenha chegado ao seu destino, não está feliz, pois ele ainda não está completo.

 

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Casa de Edith Macefield, resistiu à construção de um shopping; (Foto 2) Carl e Ellie se mudando para a casa dos seus sonhos; (Foto 3) A casa dos sonhos de Carl e Ellie transformada depois da reforma, com as mesmas cores que eles imaginavam quando criança; (Foto 4) Mega construções ao redor da casa de Carl; (Foto 5) Quando criança, Ellie brincava de pilotar a casa, usando uma roda de bicicleta como leme; (Foto 6) Uma rosa dos ventos servia de eixo na sua brincadeira; (Foto 7) Anos mais tarde, Carl pilota a casa do mesmo lugar onde Ellie brincava, assim como uma criança que transforma um utensílio comum em algo com outra finalidade, ele usa um moedor de café como leme, e lençóis como vela; (Foto 8) Carl também usa a rosa dos ventos como eixo; (Foto 9) Carl e Ellie guardam muitas lembranças na casa, até mesmo as passagens da viagem que não puderam fazer, Carl as guarda; (Foto 10) A casa de Carl não é tão diferente da dos nossos avós; (Foto 11) Enquanto Ellie é viva, a sala de estar é bem iluminada; (Foto 12) Depois que Ellie morre, Carl se torna um recluso, a sala de estar se torna um local sombrio; (Foto 13) Carl preso literalmente e metaforicamente à casa; (Foto 14) Poltronas de Carl e Ellie no Paraíso das Cachoeiras depois de Carl se desprender do passado; (Foto 15) Ao longe, o sonho parece bonito; (Foto 16) Quando finalmente Carl chega ao seu destino, é sem graça.

Da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Casa de Edith Macefield, resistiu à construção de um shopping; (Foto 2) Carl e Ellie se mudando para a casa dos seus sonhos; (Foto 3) A casa dos sonhos de Carl e Ellie transformada depois da reforma, com as mesmas cores que eles imaginavam quando criança; (Foto 4) Mega construções ao redor da casa de Carl; (Foto 5) Quando criança, Ellie brincava de pilotar a casa, usando uma roda de bicicleta como leme; (Foto 6) Uma rosa dos ventos servia de eixo na sua brincadeira; (Foto 7) Anos mais tarde, Carl pilota a casa do mesmo lugar onde Ellie brincava, assim como uma criança que transforma um utensílio comum em algo com outra finalidade, ele usa um moedor de café como leme, e lençóis como vela; (Foto 8) Carl também usa a rosa dos ventos como eixo; (Foto 9) Carl e Ellie guardam muitas lembranças na casa, até mesmo as passagens da viagem que não puderam fazer, Carl as guarda; (Foto 10) A casa de Carl não é tão diferente da dos nossos avós; (Foto 11) Enquanto Ellie é viva, a sala de estar é bem iluminada; (Foto 12) Depois que Ellie morre, Carl se torna um recluso, a sala de estar se torna um local sombrio; (Foto 13) Carl preso literalmente e metaforicamente à casa; (Foto 14) Poltronas de Carl e Ellie no Paraíso das Cachoeiras depois de Carl se desprender do passado; (Foto 15) Ao longe, o sonho parece bonito; (Foto 16) Quando finalmente Carl chega ao seu destino, é sem graça.

Em contraste com a humilde casa voadora de Carl, há a luxuosa casa/dirigível/museu de Charles Muntz (esse nome não me é estranho, já ouvi antes), um símbolo da glória da era das naves mais leves que o ar nos anos 30, e claro não podemos deixar de lembrar da tragédia do dirigível Hindenburg em 6 de maio de 1937. Este tipo de aeronave usava gás hidrogênio para flutuar, pois é mais leve que o oxigênio, porém, é extremamente inflamável, perigoso e imprevisível, uma bomba que pode explodir com facilidade, assim como o próprio Charles Muntz. O Espírito de Aventura pode ser visto também como o interior da mente de Muntz, quanto mais fundo você entra, mais sombrio fica, é preenchida por objetos que mostram o seu poder, sua imensa ambição e obsessão por encontrar Kevin, ele me lembra um Howard Hughes, e não é por acaso, pois o aviador foi uma das inspirações para o design do personagem, assim como os atores Errol Flynn, Clark Gable, e Walt Disney…Ah, me lembrei por que o nome Charles Muntz me pareceu familiar, é uma referência a Charles Mintz, o executivo do Estúdio Universal que em 1928 afanou os direitos do personagem Oswald, criado por Walt Disney, o que o levou a criar o Mickey Mouse. Para mais detalhes, leia o capítulo 3 da biografia do Walt Disney.

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Interior do Espírito de Aventura, mostrando um luxuoso piano de cauda. Pra quê?; (Foto 2) Museu particular de Muntz. O curioso é que tudo isso deve pesar toneladas, dentro de um dirigível que deveria ser mais leve que o ar; (Foto 3) Fóssil de um Arsinoitherium. Se a história que ele conta for verdade, este deve ter sido o último da espécie, morto para satisfazer o ego de Muntz; (Foto 4) Muntz nas sombras. O interior do seu dirigível reflete na sua personalidade, a sua obsessão a sua sala de troféu; (Foto 5) Aparição de Charles Muntz no ponto de virada do filme, este olhar me lembra o Don Vito Corleone, pouco iluminado, não dando para ver o branco nos seus olhos, tirando a humanidade do personagem; (Foto 6) Tragédia do Hindenburg; (Foto 7) Concept art de personagem, este se parece muito com Howard Hughes; (Foto 8) Concept art de personagem, este já se parece mais com Errol Flynn; (Foto 9) Concept art de personagem; (Foto 10) Howard Hughes, que serviu de inspiração para o personagem de Charles Muntz; (Foto 11) Errol Flynn, que serviu de inspiração para o personagem de Charles Muntz; (Foto 12) Clark Gable, que serviu de inspiração para o personagem de Charles Muntz; (Foto 13) Walt Disney, que serviu de inspiração para o personagem de Charles Muntz.

Da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Interior do Espírito de Aventura, mostrando um luxuoso piano de cauda. Pra quê?; (Foto 2) Museu particular de Muntz. O curioso é que tudo isso deve pesar toneladas, dentro de um dirigível que deveria ser mais leve que o ar; (Foto 3) Fóssil de um Arsinoitherium. Se a história que ele conta for verdade, este deve ter sido o último da espécie, morto para satisfazer o ego de Muntz; (Foto 4) Muntz nas sombras. O interior do seu dirigível reflete na sua personalidade, a sua obsessão a sua sala de troféu; (Foto 5) Aparição de Charles Muntz no ponto de virada do filme, este olhar me lembra o Don Vito Corleone, pouco iluminado, não dando para ver o branco nos seus olhos, tirando a humanidade do personagem; (Foto 6) Tragédia do Hindenburg; (Foto 7) Concept art de personagem, este se parece muito com Howard Hughes; (Foto 8) Concept art de personagem, este já se parece mais com Errol Flynn; (Foto 9) Concept art de personagem; (Foto 10) Howard Hughes, que serviu de inspiração para o personagem de Charles Muntz; (Foto 11) Errol Flynn, que serviu de inspiração para o personagem de Charles Muntz; (Foto 12) Clark Gable, que serviu de inspiração para o personagem de Charles Muntz; (Foto 13) Walt Disney, que serviu de inspiração para o personagem de Charles Muntz.

Por falar em “obsessão por encontrar”, filmes da Pixar são famosos pelos seus easter eggs. Se você não está familiarizado com o termo, são pequenos segredos escondidos pelo filme, que fazem referência direta a outras obras do mesmo estúdio ou do mesmo diretor – tenho uma teoria de que esta prática começou com Hitchcock, e depois o Kubrick adotou, em seguida a Disney – não são importantes para a história, mas é divertido descobri-los, pois mostra que você está atento aos detalhes. Particularmente no caso deste estúdio, os easter eggs surgiram como uma reciclagem de objetos virtuais, na necessidade de uma bola para o quarto de Andy em Toy Story, para poupar tempo e não precisar criar outra, “vamos utilizar a mesma do curta Luxo Jr. (1986)”; precisando de um carro velho para compor um cenário em Vida de Inseto (1998), “vamos usar aquele carro do Pizza Planet que criamos para Toy Story”, precisamos de um personagem para ser o restaurador de brinquedos em Toy Story 2 (1999), “vamos usar este velhinho do curta Geri’s Game (1997), sempre achei que ele tinha cara de restaurador de brinquedos”, e o resto é história. Como mais de um projeto é desenvolvido ao mesmo tempo, o estúdio começou a plantar pistas sobre seu filme seguinte, mas é claro que não devemos saber disso de antemão, somente numa revisão anos depois é que percebemos esta brincadeirinha dos realizadores, às vezes o projeto é abortado, mas a referência permanece. Para os cinéfilos mais ávidos, além dos easter eggs dos filmes da Pixar, a diversão é encontrar as referências a outros filmes que inspiraram os realizadores.

 

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Charles Muntz apresenta o esqueleto no palco; (Foto 2) O palco usado em Up é o mesmo do curta Presto (2008); (Foto 3) Tampinha de Grape Soda no peito de Carl; (Foto 4) A marca Grape Soda foi usada na latinha no comercial do Buzz Lightyear em Toy Story; (Foto 5) Carl na agência de viagens, destaque para o display sobre o balcão; (Foto 6) A garota da foto é a mesma usada no curta Knick Knack (1989); (Foto 7) Carl no tribunal. Destaque para a placa que indica Courtroom A113; (Foto 8) A113 é o número da sala de aula do Instituto de Artes da Califórnia (CalArts, dá até pra ver o nome nos seus bonés), onde vários grandes animadores aprenderam a animar. Na foto estão Pete Docter (à esquerda), diretor de Up, Monstros S.A. (2001), e Divertida Mente (2015), Andrew Stanton (meio), diretor de Procurando Nemo (2003), Wall-E (2008), e Procurando Dory (2016), e John Lassater (à direita), diretor de Toy Story, Vida de Inseto, e Carros (2006) (Foto 9) Quarto de uma menina. Destaque para o urso de pelúcia à esquerda, o avião de brinquedo que aparece em Toy Story quando Buzz “prova” que sabe voar, e a bola do curta Luxo Jr; (Foto 10) Lotso, o antagonista de Toy Story 3 (2010) é o urso de pelúcia que aparece no quarto da menina em Up; (Foto 11) Primeira aparição do carro do Pizza Planet; (Foto 12) Segunda aparição do carro do Pizza Planet; (Foto 13) Terceira aparição do carro do Pizza Planet; (Foto 14) Cena de Ratatouille (2007), onde aparece a sombra de Dug; (Foto 15) Casamento de Carl e Ellie, reparem no padre; (Foto 16) Ellie recebe a notícia de que não pode engravidar. Seu médico é também o padre que realizou seu casamento, ou seu irmão gêmeo. Isso é mais uma curiosidade do que um easter egg.

Da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Charles Muntz apresenta o esqueleto no palco; (Foto 2) O palco usado em Up é o mesmo do curta Presto (2008); (Foto 3) Tampinha de Grape Soda no peito de Carl; (Foto 4) A marca Grape Soda foi usada na latinha no comercial do Buzz Lightyear em Toy Story; (Foto 5) Carl na agência de viagens, destaque para o display sobre o balcão; (Foto 6) A garota da foto é a mesma usada no curta Knick Knack (1989); (Foto 7) Carl no tribunal. Destaque para a placa que indica “Courtroom A113”; (Foto 8) A113 é o número da sala de aula do Instituto de Artes da Califórnia (CalArts, dá até pra ver o nome nos seus bonés), onde vários grandes animadores se especializaram. Na foto estão Pete Docter (à esquerda), diretor de Up, Monstros S.A. (2001), e Divertida Mente (2015), Andrew Stanton (meio), diretor de Procurando Nemo (2003), Wall-E (2008), e Procurando Dory (2016), e John Lassater (à direita), diretor de Toy Story, Vida de Inseto, e Carros (2006) (Foto 9) Quarto de uma menina. Destaque para o urso de pelúcia à esquerda, o avião de brinquedo que aparece em Toy Story quando Buzz “prova” que sabe voar, e a bola do curta Luxo Jr; (Foto 10) Lotso, o antagonista de Toy Story 3 (2010) é o urso de pelúcia que aparece no quarto da menina em Up; (Foto 11) Primeira aparição do carro do Pizza Planet; (Foto 12) Segunda aparição do carro do Pizza Planet; (Foto 13) Terceira aparição do carro do Pizza Planet; (Foto 14) Cena de Ratatouille (2007), onde aparece a sombra de Dug; (Foto 15) Casamento de Carl e Ellie, reparem no padre; (Foto 16) Ellie recebe a notícia de que não pode engravidar. Seu médico é também o padre que realizou seu casamento, ou seu irmão gêmeo. Isso é mais uma curiosidade do que um easter egg.

 

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Charles Muntz apresenta o esqueleto no palco; (Foto 2) Da mesma forma, em King Kong (1933), Carl Denham apresenta o gorila gigante nos palcos; (Foto 3) Carl corre pelas ruas segurando um balão; (Foto 4) Assim como Pascal o faz no filme O Balão Vermelho (1956); (Foto 5) Carl e Ellie se mudam para uma casa velha e a reformam; (Foto 6) Semelhante a George Bailey e Mary que se casam, e se mudam para uma casa velha que marcou seu passado, e a reformam. George quando criança também sonhava em ser explorador, e assim como Carl, acabava deixando a oportunidade passar por contratempos da vida; (Foto 7) Pintura que Ellie faz para representar o seu sonho; (Foto 8) Esta pintura segue os traços da diretora de arte Mary Blair, responsável por trazer um aspecto mais moderno nas animações da Disney. Esta imagem é um concept art de The Little House, mencionado alguns parágrafos atrás, cuja história também serviu de inspiração para Up; (Foto 9) A casa de Carl voa em uma tempestade; (Foto 10) Assim como a casa em O Mágico De Oz (1939); (Foto 11) Carl avista o Paraíso das Cachoeiras; (Foto 12) Cujo cenário é semelhante a este em O Mundo Perdido (1925); (Foto 13) Kevin engole um balão; (Foto 14) A Avestruz Do Donald (1937) também engole balões; (Foto 15) Russell testa a coleira de Dug; (Foto 16) Cuja luz vermelha é uma referência ao Hal 9000 em 2001: Uma Oidsséia No Espaço (1968); (Foto 17) Dug aponta; (Foto 18) Na mesma posição do Pluto, em vários desenhos; (Foto 19) Os cães de Muntz jogam pôquer. Reparem no cachorro à direita da foto com um às na coleira, tentando trapacear; (Foto 20) Uma referência à série de pinturas de Cassius Marcellus Coolidge; (Foto 21) Cães pilotando; (Foto 22) Carl e Russell vão ao cinema assistir Star Wars (1977). Anos mais tarde, a Disney veio a comprar a franquia, porém ela sempre esteve ligada a George Lucas, afinal, ele esteve envolvido na criação da Pixar; (Foto 23) A referência não poderia ser mais óbvia. A cena dos cães nos seus aviões é semelhante à cena em que os pilotos das X-Wings se apresentam.

Da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Charles Muntz apresenta o esqueleto no palco; (Foto 2) Da mesma forma, em King Kong (1933), Carl Denham apresenta o gorila gigante nos palcos; (Foto 3) Carl corre pelas ruas segurando um balão; (Foto 4) Assim como Pascal o faz no filme O Balão Vermelho (1956); (Foto 5) Carl e Ellie se mudam para uma casa velha e a reformam; (Foto 6) Semelhante a George Bailey e Mary que se casam, e se mudam para uma casa velha que marcou seu passado, e a reformam. George quando criança também sonhava em ser explorador, e assim como Carl, acabava deixando a oportunidade passar por contratempos da vida; (Foto 7) Pintura que Ellie faz para representar o seu sonho; (Foto 8) Esta pintura segue os traços da diretora de arte Mary Blair, responsável por trazer um aspecto mais moderno nas animações da Disney. Esta imagem é um concept art de The Little House, mencionado alguns parágrafos atrás, cuja história também serviu de inspiração para Up; (Foto 9) A casa de Carl voa em uma tempestade; (Foto 10) Assim como a casa em O Mágico De Oz (1939); (Foto 11) Carl avista o Paraíso das Cachoeiras; (Foto 12) Cujo cenário é semelhante a este em O Mundo Perdido (1925); (Foto 13) Kevin engole um balão; (Foto 14) A Avestruz Do Donald (1937) também engole balões; (Foto 15) Russell testa a coleira de Dug; (Foto 16) Cuja luz vermelha é uma referência ao Hal 9000 em 2001: Uma Oidsséia No Espaço (1968); (Foto 17) Dug aponta; (Foto 18) Na mesma posição do Pluto, em vários desenhos; (Foto 19) Os cães de Muntz jogam pôquer. Reparem no cachorro à direita da foto com um às na coleira, tentando trapacear; (Foto 20) Uma referência à série de pinturas de Cassius Marcellus Coolidge; (Foto 21) Cães pilotando; (Foto 22) Carl e Russell vão ao cinema assistir Star Wars (1977). Anos mais tarde, a Disney veio a comprar a franquia, porém ela sempre esteve ligada a George Lucas, afinal, ele esteve envolvido na criação da Pixar; (Foto 23) A referência não poderia ser mais óbvia. A cena dos cães nos seus aviões é semelhante àquela em que os pilotos das X-Wings se apresentam.

Agora que já conhecemos mais sobre este filme, que tal encontrar outro significado para ele? Existem inúmeras teorias criadas por fãs da Pixar circulando na Internet, algumas delas absurdas, outras precisam de muito esforço para fazer sentido, outras são completamente falsas, mas uma delas me chamou a atenção, pois como obra de arte, um filme está aberto a interpretações, sejam intencionais ou não pelo autor, uma falácia intencional (termo literário que diz que o significado apresentado pelo autor não é o único e nem o mais importante da obra) se preferir.

Disney e Pixar produzem filmes voltados para o público infantil, mas desde a época da renascença do estúdio suas produções têm conquistado cada vez mais o público adulto, isso porque seus filmes passaram a lhes oferecer algo, significados que crianças ainda não adquiriram maturidade suficiente para refletir. Assim, Up pode oferecer “altas aventuras” – me desculpem pelo trocadilho – para os pequenos, mas um adulto poderá encontrar um significado mais profundo, como muitos fãs que acreditam que a partir do segundo ato seja a jornada de Carl no pós-vida. Durante todo o primeiro ato do filme, não há nenhum elemento fantástico na vida de Carl, exceto pela sua mente fértil quando criança, tudo parece normal e condizente com a realidade, não há cães falantes, casas flutuantes, ou aventuras, estes elementos só surgem depois que Carl volta do tribunal emocionalmente abalado, pois está prestes a ser levado para o asilo, para um estilo de vida que ele sempre rejeitou. Quando ou como ele morreu? Bem, podemos interpretar a cena da casa se desprendendo do solo como sendo uma representação da alma de Carl se desprendendo do seu corpo, com destino ao Paraíso das Cachoeiras (um nome sugestivo, não acham?), um lugar utópico. Durante o voo, ele encontra Russell em sua varanda, mas o garoto não estava lá quando a casa se desprendeu, como se ele tivesse aparecido magicamente lá. No mundo real, Russell é um escoteiro que precisa ajudar um idoso para ganhar o último distintivo e ser promovido a grande explorador, ele insiste: “Eu posso ajudá-lo a atravessar a rua. Eu posso ajudá-lo a atravessar o seu jardim. Eu posso ajudá-lo a atravessar sua varanda. […] Bem, eu preciso ajudá-lo a atravessar alguma coisa.” Russell poderia ajudá-lo a atravessar o pós-vida. Se voltarmos alguns parágrafos, veremos que Up teve inspiração em A Felicidade Não Se Compra (1946), que conta a história de George Bailey, que após uma tentativa de suicídio, passa a ser assistido por Clarence, um anjo que poderá ganhar suas asas se ajudá-lo a perceber o valor da vida que tivera. Russell é este anjo da guarda, que assume a forma de criança para cumprir a carência de Carl de ter um filho, mas nunca pôde devido à infertilidade de Ellie, e o distintivo que ele almeja representa o merecimento das asas, como se esta fosse a sua provação final. O segundo ponto de virada, quando Carl finalmente chega com sua casa à cachoeira e tem aquele momento com o livro de aventuras, ele se dá conta de que precisa seguir em frente, ter uma nova aventura rumo ao desconhecido, assim como George Bailey, Carl se dera conta do valor que sua vida tivera, e esvazia sua casa de todos os objetos e mobílias, ele está literalmente se esvaziando suas memórias terrenas. Quando ele abandona sua casa, que por sua vez é a ligação entre Carl e o mundo dos vivos, esta desaparece entre as nuvens, isso mostra a aceitação da própria morte. O próprio título do filme sugere para onde Carl está indo, Up (para cima), num determinado momento, quando Carl, Russell, e Kevin estão fugindo da matilha de cães por uma caverna, Dug grita “vá em direção à luz, Mestre!”, sugerindo a morte de Carl. O cachorro parece ver a morte como algo banal quando conta uma piadinha sobre um esquilo que se esqueceu de guardar avelã para o inverno e agora está morto. Até agora não respondi quando ou como Carl morrera. Talvez ele também tenha se esquecido de guardar avelãs para o inverno, mas é mais aceitável que tenha sido depois que voltara do tribunal, ou quando se despede da casa quando os dois enfermeiros do asilo chegam para buscá-lo.

Legenda das fotos, da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Carl salta sobre o Grand Canyon na sua mente imaginativa; (Foto 2) A casa se desprende do chão diante dos dois enfermeiros; (Foto 3) Paraíso das cachoeiras; (Foto 4) Russell quer ajudar Carl a atravessar alguma coisa; (Foto 5) Carl se emociona ao perceber o quanto a sua vida foi cheia de bons momentos; (Foto 6) Carl se desapega dos objetos do seu passado para poder seguir em frente; (Foto 7) Carl se despede da sua casa, que desaparece nas nuvens; (Foto 8) Dug grita para Carl ir em direção à luz; (Foto 9) Dug conta uma piadinha sobre um esquilo que esqueceu de guardar avelã... e morreu; (Foto 10) Carl volta do tribunal.

Da esquerda pra direita e de cima pra baixo: (Foto 1) Carl salta sobre o Grand Canyon na sua mente imaginativa; (Foto 2) A casa se desprende do chão diante dos dois enfermeiros; (Foto 3) Paraíso das cachoeiras; (Foto 4) Russell quer ajudar Carl a atravessar alguma coisa; (Foto 5) Carl se emociona ao perceber o quanto a sua vida foi cheia de bons momentos; (Foto 6) Carl se desapega dos objetos do seu passado para poder seguir em frente; (Foto 7) Carl se despede da sua casa, que desaparece nas nuvens; (Foto 8) Dug grita para Carl ir em direção à luz; (Foto 9) Dug conta uma piadinha sobre um esquilo que esqueceu de guardar avelã… e morreu; (Foto 10) Carl volta do tribunal.

No caso de Up, pode ser que não seja a intenção de Pete Docter que o filme fosse compreendido dessa forma, talvez esteja viajando na maionese, seja como for, não quer dizer que não possamos refletir sobre.