Por Guilherme Franco

“A mente fechada é o que deixa todas as pessoas doentes.”

Em um novo documentário com Marina Abramovic, ela viaja dessa vez ao Brasil a lugares como Vale do Amanhecer, a Chapada Diamantina e centros de cura, para descobrir e provar as múltiplas energias e espiritualidades aqui existentes.

A proposta do filme é muito boa: uma personalidade da arte contemporânea que busca sempre incluir a energia imaterial e trabalhar com ela em suas obras vir ao país das culturas exóticas em uma jornada espiritual. Até que ponto a religião pode ser uma forma de expansão da consciência e alívio para os problemas do dia-a-dia? Com alguns detalhes de filme etnográfico (por registrar a cultura de muitos grupos) e de road movie (por viajar até vários pontos do país), a narrativa vai se construindo sem questionamento e de corpo aberto.

“O tempo está acelerando, vivemos outra realidade.”

Marina se coloca como personagem e vai à experimentação, conferir como são as religiões brasileiras. O primeiro local é onde o médium João de Deus recebe os supostamente doentes. Embora não seja médico, ele faz pequenas cirurgias como cortar a barriga de uma mulher ou raspar o olho de um homem para diminuir a pressão arterial, tudo sem anestesia. Também conhecemos outras personagens, como uma senhora de 109 anos, uma outra que faz geleias e remédios naturais e também uma mulher que diz em suas receitas receber alguma entidade, pois se sente transformada quando está cozinhando. O problema que surge neste ponto é o trabalho jornalístico, não que isso seja necessário, é claro, mas seria interessante se a proposta fosse não somente a experimentação de corpo aberto e disposta a tudo (como Marina estava), mas também o questionamento da validade e veracidade do trabalho e carreira dela com o que estava conhecendo.

A obra tem imagens lindas, bem filmadas, o problema é a conexão da narrativa no final. Dos lugares pelos quais ela passou, a história se transfere para a exposição Terra Comunal e uma reflexão que pareceu não ser suficiente. Seria interessante ver um pouco mais de trabalho jornalístico aliado a uma reflexão geral e questionadora sobre os lugares por onde percorreu. Algo que conseguisse mixar essas realidades paralelas ao mundo industrial e das grandes cidades. Outro ponto interessantíssimo e de alto valor é a arte, que pareceu ser esquecida nessa jornada e lembrada em pequenos momentos. Trabalhar essa espiritualidade, muitas vezes extremas, com o exercício artístico de Marina seria bastante rico.

O documentário alcança um teor, de certa forma, investigativo ao trazer para a superfície histórias invisíveis. Cenas, sentimentos e narrativas que raramente vemos na mídia ou em produções com caráter mais comercial. A obra vale à pena para entender um pouco mais da espiritualidade e o processo artístico de Marina Abramovic, além, é claro, de se aprofundar no Brasil e seu povo, mas com um olhar questionador e de cabeça aberta.

Espaço Além: Marina Abramovic e o BrasilEspaço Além: Marina Abramovic e o Brasil (The Space Between: Marina Abramovic and Brazil)

Ano: 2014

Direção: Marco Del Fiol

Roteiro: Fabiana Werneck Barcinski, Marina Abramovic, Marco Del Fiol

Elenco principal: Dorothy W. Cooke, Marina Abramovic, Narcisa Cândido da Conceição

Gênero: documentário

Nacionalidade: Brasil

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