Por Joyce Pais

“A única maneira de me livrar dos meus medos é fazer filmes sobre eles”

Alfred Hitchcock

Quem diria que os bastidores de um filme renderia assunto para um longa metragem tão interessante quanto Hitchcock? Quando se trata da mente de um dos mestres do cinema e de um das obras mais icônicas já feitas, sim, isso é possível. Baseado no livro Alfred Hitchcock e os Bastidores de Psicose, de Stephen Rabello (que também assinou o roteiro do filme, juntamente com John McLaughlin – Cisne Negro; 2010), o longa adentra o processo de produção do filme responsável por imortalizar cenas, trilha sonora e um diretor.

Com uma “cara de telefilme”, Hitchcock inicia mostrando a vida do diretor após o lançamento de Intriga Internacional (1959) e as dúvidas, lançadas por parte da imprensa, sobre o seu futuro profissional. Ainda que o longa traga algumas novidades e tenha maior foco na relação de Hitchcock (Anthony Hopkins) com sua mulher Alma Reville (Helen Mirren), que chegou até a comandar um dia de gravação na ausência do marido, é importante dizer que ele exige um conhecimento prévio da filmografia do diretor, caso contrário, algumas “piadas” e contextos podem ser perdidos no meio do caminho.

Estreia na direção de Sacha Gervasi, o longa é um prato cheio para os fãs do cinema clássico e dos anos de ouro de Hollywood. Na época, mesmo no auge, Hitchcock não conseguiu apoio para o que seria seu novo filme, os estúdios estavam receosos em investir numa história de terror com cenas de nudez e violência. A saída foi hipotecar a própria casa para levantar fundos e produzir o filme de forma independente. Além do problema com a censura e a logística para sua distribuição nos Estados Unidos, fato que comentarei a seguir.

Dono de uma retórica implacável, Hitchcok travava verdadeiras batalhas para defender suas ideias; os rápidos diálogos com sua esposa são responsáveis pelos melhores momento do longa. Baseado no caso real do serial killer de Wisconsin, Ed Gein (Michael Wincott), a obra literária Psicose atraiu a atenção do diretor inglês e se tornou sua obsessão. Com um elenco de ponta, o filme conta com James D´Arcy na pele de Anthony Perkins/Norman Bates, Toni Colette (Peggy Robertson) como a assistente de longa data de Hitch, Jessica Biel como a ressentida Vera Miles, Whitfiel Cook, amigo e colaborador de Alma, coautor de Pavor nos Bastidores (1950) e, é claro, Scarlet Johansson como Janet Leigh. Indicado na categoria Melhor Maquiagem no Oscar de 2013, o ótimo trabalho na caracterização de Hitch teve êxito, principalmente, pela postura de Hopkins, que desenvolveu um trabalho de postura vocal e corporal impecável.

Talvez por sua inexperiência ou mesmo pela estrutura do roteiro, o filme, sobretudo da metade para o fim, perde um pouco sua consistência, se tornando confuso em alguns momentos. Apesar de focar mais no relacionamento entre o casal, o que foi uma clara escolha do roteirista, senti falta de alguns dados bacanas que poderiam ter sido inseridos, como por exemplo, Janet Leigh (casada com Toni curtis na época) ter usado dublê de pernas para a cena do banheiro ou então, ter sido escolhido filmar em preto e branco para amenizar as cenas mais violentas e o impacto que poderia causar o sangue vermelho escorrendo pela banheira.

Alfred Hitchcock vivia a lógica de seus filmes na vida real. Embalado pela ótima trilha sonora de Danny Elfman (habituè dos filmes de Tim Burton), ele segue as pistas deixadas pra trás em sua investigação particular com a esposa Alma, o longa de Gervasi mostra o homem por trás do cineasta e, de certa forma, o humaniza. Vê-lo buscar em seu cotidiano inspirações para seus próximos filmes, só o torna mais interessante, assim como suas obras.

Pode-se dizer que Hitchcock revolucionou a forma de se fazer cinema e, sobretudo, de distribuição no cinema. Além de provar que seria viável produzir um filme com poucos recursos, ele também mostrou que seria possível distribuir de uma forma inusitada e bastante criativa, apenas instigando o espectador e tornando sua experiência memorável. Assim como na cena em que ele parece orquestrar a reação das pessoas dentro da sala escura, Hitchcock mostrou que seu sucesso se deu, principalmente, porque ele conhecia seu público, seus os medos e anseios como ninguém e é por isso que sua obra reside em nossa memória até hoje.

 

Hitchcock (7)Hitchcock

Ano: 2012

Diretor: Sacha Gervasi.

Roteiro: John McLaughlin, Stephen Rebello.

Elenco Principal: Anthony Hopkins, Scarlett Johandson, Jessica Biel, James D’Arcy e Helen Mirren.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: EUA.

 

 

 

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