Por Luciana Ramos

O sucesso do filme Jogos Vorazes mostrou a Hollywood mais uma fórmula eficaz de bilheteria: o relato de distopias em que adolescentes com firmeza de caráter ousam enfrentar o poder estabelecido a fim de conseguirem expressar-se livremente. Após Divergente, chega aos cinemas O Doador de Memórias, adaptação do livro lançado anteriormente aos outros citados, em 1993. Porém, a sua tardia adaptação o faz parecer pouco inovador, ainda que conte com elenco de peso e fotografia belíssima como elementos principais de diferenciação.

Uma guerra que quase extinguiu a humanidade deu luz à uma sociedade pequena e pacífica onde não existe desigualdade, dor ou alegria genuína. Por meio da supressão das emoções e da liberdade individual, a paz foi encontrada. Um conselho especial controla a comunidade, regida pela Chefe Elder (Meryl Streep).

Todos os habitantes são treinados e, quando adolescentes, designados aos trabalhos que mais se encaixam as suas aptidões. Nesse contexto, os jovens amigos Asher (Cameron Monaghan), Fiona (Odeya Rush) e Jonas (Brenton Thwaites), que cresceram juntos, são separados para cumprirem o seu destino. Ao último, é reservado o mais importante papel social: o de guardador de memórias, ou seja, o único que lembra do que era viver antes da existência dessa sociedade.

Assim, ele começa o treinamento com “o doador” (Jeff Bridges) e experimenta as sensações de pular de paraquedas, presenciar o parto de uma criança, sorrir, dançar, cantar…enfim, o que conhecemos como vida. Ao mesmo tempo, descobre o significado da morte, guerras e todo o mal entranhado no mundo. O que se espera dele é que, sabendo de tudo, possa guiar a todos os outros, para evitar que o mal se dissemine mais uma vez. No entanto, conhecendo também a felicidade, Jonas começa a questionar o sentido da configuração social em que vive e desafiar o poder.

O longa possui uma narrativa interessante mas que não se destaca por apresentar algo inovador em termos de roteiro. De ritmo irregular e um pouco arrastado em pontos dramáticos importantes, O Doador de Memórias respalda sua qualidade em uma fotografia belíssima.

Pelo fato de tomarem uma droga que suprime as emoções todos os dias, os habitantes desse mundo não conseguem enxergar cores. Seguindo esse movimento, a fotografia é construída subjetivamente. Preto e branco dominam o longa mas pitadas de cor aparecem nas telas na medida em que o protagonista passa a enxergá-las.

As “lembranças” que são introduzidas na sua mente possuem saturação máxima e tornam-se o ponto mais forte do filme também por conta de uma edição rápida e dinâmica, que as tornam de fato mais emocionantes.

Outro destaque é a cenografia, que se baseia no funcionalismo para dar vazão à esta comunidade aparentemente perfeita. Além disso, o longa conta com as ótimas atuações de Jeff Bridges e Meryl Streep (propositalmente mais apática do que nunca), que servem como contraponto à pouca expressividade do jovem Brenton Thwaites.

Assim, O Doador de Memórias é um filme que prima pela qualidade técnica e, ainda que não possua uma história inovadora e emocionante, torna-se interessante pelos questionamentos que faz.

Cinemascope - O Doador de Memórias posterO Doador de Memórias (The Giver)

Ano: 2014

Diretor: Phillip Noyce.

Roteiro:Michael Mitnick, Robert B. Weide.

Elenco Principal: Brenton Thwaites, Jeff Bridges, Meryl Streep, Alexander Skarsgård, Katie Holmes, Katie Holmes.

Gênero: ficção científica, drama

Nacionalidade: EUA

 

 

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