Por Wallacy Silva

*Este texto contém spoilers!*

Depois do sucesso de Meia-Noite Em Paris criou-se uma enorme expectativa acerca do projeto seguinte de Woody Allen, que continuando o seu tour pela Europa, filmaria dessa vez em Roma. Inicialmente batizado de Bop Decameron, passou por Nero Fiddled até chegar ao título To Rome With Love. Por aí já dava pra imaginar quais seriam as intenções do diretor: mais uma vez explorar a locação não somente como simples ponto turístico, mas se aproveitar do background cultural, histórico, e claro, de todos os clichês relacionados ao país. No caso, Para Roma, Com Amor acabou contendo mais clichês do que elementos culturais e históricos, além de, claro, revisitar temas já recorrentes na filmografia do nova-iorquino.

O filme traz algumas histórias – um produtor musical aposentado, Jerry (Woody Allen), que viaja para Roma e descobre no pai do novo genro um talento nato para a ópera; um experiente arquiteto, John (Alec Baldwin), que passeando por Roma se encontra com um jovem estudante de arquitetura, Jack (Jesse Eisenberg), e acaba por enxergar sua própria história na vida amorosa do rapaz; um trabalhador romano (Roberto Benigni) que de um dia para o outro se torna famoso; e um casal do interior da Itália que acaba de chegar em Roma e se desencontra, posteriormente tendo sua fidelidade testada por uma estranha prostituta (Penélope Cruz) e por um famoso ator (Antonio Albanese). Alguns dos episódios dariam por si só um filme, principalmente o melhor deles, que envolve Jack, John e Monica (Ellen Page). O dinamismo do longa ganha uma pausa no momento em que a personagem de Page faz seu discurso sobre sua movimentada vida sexual, hipnotizando Jack. E a expressão mais marcante fica por conta de Baldwin, quando vê o sonho do jovem (e consequentemente o próprio) se esvaindo após uma indesejada ligação. Mas ao ver essa historieta, assim como todas as outras, fica a impressão de que os enredos poderiam ser mais bem desenvolvidos, e de que o trabalho trata-se de uma compilação de curtas-metragens entregues à superficialidade.

Enquanto os roteiros não vão tão longe, Allen exibe outros de seus pontos fortes: o humor simples de situações e o retorno dele próprio na atuação. O diretor se disse um “ator muito limitado” em uma entrevista sobre Para Roma, Com Amor, e concordo plenamente. Mas ele criou um personagem, tal qual o Chaplin tinha o seu Carlitos, que em cada filme ganha um nome, uma profissão diferente, mas que age sempre da mesma forma, e sempre provoca o riso. As reações inesperadas, a paranoia clássica e os comentários irônicos são infalíveis. Nos demais episódios do filme o mesmo humor simples está presente, desde a mera queda de uma cadeira em um restaurante até o enorme estranhamento causado por um chuveiro no palco de uma ópera. E como dito no início do texto, sobram clichês – Monica compra vários pacotes de macarrão; Leopoldo (Benigni) comemora pedindo uma pizza; Jerry de repente se pega falando muito alto; o próprio nome do genro de Jerry, que é Michelangelo (Flavio Parenti); e os personagens que estão sempre se perdendo nas ruas de Roma (pelo visto considerada labiríntica pelo diretor), se confundindo ainda mais depois das instruções dos transeuntes, são alguns exemplos.

Como já é tradicional, nos filmes do Woody Allen encontramos vários ecos de temas abordados em toda a sua filmografia. Dessa vez me chamou a atenção a participação da imprensa sensacionalista no episódio que envolve o personagem do Benigni. Esse fragmento do filme critica a categoria social dos “famosos”, que muitas vezes não sabemos nem mais porque são famosos. Seria um ex-BBB? Filho de algum outro “famoso”? Enfim, as intervenções dos vários repórteres cercando Benigni a todo o momento remetem ao filme Bananas (1971). Na trama, o protagonista (Allen) é apaixonado por uma ativista, e acaba se tornando, por acaso, líder político de um país fictício e ficando famoso. A mídia está sempre muito presente durante todo o filme, mas a participação atinge o ápice no fechamento, quando ela faz uma “cobertura completa” da lua de mel do protagonista, ao vivo, de dentro do quarto! Essa passagem em especial lembra muito a da cobertura ao vivo do Leopoldo fazendo a barba, por exemplo, e ambas são caricaturas de o quão a imprensa pode ser invasiva.

O fechamento do filme traz uma frase que não vou reproduzir aqui por não lembrar exatamente, mas é digna de um comercial de agência de turismo. As atuações são boas, porém, devido à fragmentação, fica difícil destacar um nome, o longa não tem um dono, não tem só um protagonista, não é de apenas um ator. Faltou intensidade, que talvez fosse alcançada se fossem apenas duas histórias, por exemplo, abordadas com maior profundidade. Faltou unidade, já que os episódios se relacionam por um único motivo – se passam em Roma. Para Roma, Com Amor diverte, mas definitivamente não é um dos melhores trabalhos do Woody Allen.

Cinemascope - Para Roma com amor - PosterPara Roma, com amor  (To Rome With Love)

Ano: 2012

Diretor: Woody Allen.

Roteiro: Woody Allen.

Elenco Principal: Jesse Eisenberg, Penélope Cruz, Alec Baldwin, Ellen Page, Woody Allen

Gênero: Comédia.

Nacionalidade: Espanha/Itália/EUA

 

 

 

Veja o trailer:

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