Por Ana Carolina Diederichsen

Foto por Jornal Opção

Após a exibição do filme foi aberto espaço para uma discussão informal com o diretor David Kyle que está no Brasil para a divulgação do filme. Sem formação específica de Cinema ou experiência anterior com documentários, Kyle considerou o processo muito mais difícil do que esperava. Além dele, participou dessa conversa Luiz Eduardo Girão, diretor da Estação Luz Filmes, detentora dos direitos autorais do filme no Brasil.

Girão conta que comprou os direitos de exibição para poder enriquecer o debate sobre o tema, tão em voga nas eleições presidenciais, e tentar acabar com a hipocrisia acerca da discussão. Juntamente com o lançamento do filme, está sendo lançada uma campanha contra o aborto, ainda discretamente, mas que pretende tomar grandes proporções.

De acordo com Kyle, o filme inicialmente se chamaria “American Holocaust” (Holocausto Americano), mas durante o desenvolvimento das pesquisas, o aspecto financeiro que movia a grande maioria das clínicas de aborto, se tornou tão presente, que ele optou por mudar o título para “Blood Money” (Dinheiro Sangrento).

O projeto levou cerca de 5 anos para sair do campo das ideias. Entre 2004 e 2008, o principal desafio do diretor foi buscar financiamento (foram necessários cerca de US$400.000,00). A partir dai, as gravações e entrevistas demandaram cerca de seis meses. Já o processo de finalização durou quase um ano e meio. Kyle conta que esse foi seu maior desafio, pois nunca tinha entrado em contato com edição antes, e desconhecia aspectos técnicos e conceituais sobre a montagem de um filme.  Como o corte inicial foi feito por ele, primeiro ele teve que se inteirar sobre os softwares de edição, para só depois dar inicio efetivamente ao processo. Depois do primeiro copião, ele repassou para um editor profissional, que ficou em posse do material por mais de 6 meses e evoluiu muito pouco com o resultado final. Depois disso, contratou um segundo editor, que levou mais 6 meses para finalizar o filme.  A partir dessa experiência, o próprio kyle editou as demais versões com conteúdo reduzido.

Quando questionado sobre a parcialidade evidente do filme, o diretor afirma que fez essa opção, pois acredita que o lado pró-aborto já teve muita exposição nos EUA. Ainda de acordo com ele, a mídia e veículos de comunicação são favoráveis ao aborto legalizado e sempre apresentam informações parciais, então faltava mostrar o outro lado para manter um equilíbrio. Ele conta que inclusive tentou inserir depoimentos de uma pessoa a favor do aborto, mas achou que no contexto geral do filme, ao fornecer suas opiniões, ela parecia ser uma pessoa muito ruim, o que seria uma distorção à imagem dela, restando a ele a decisão de exclui-la da montagem final. Uma curiosidade é que à época do lançamento nos EUA, alguns cinemas temiam protestos da sociedade pró-aborto contra o filme, e chegaram a cancelar a exibição, mas os protestos não chegaram a acontecer.

O Cinemascope perguntou ao diretor se ele acredita que o cinema deve ter um papel social definido na formação de opinião e divulgação de informações, pois seu filme tem uma agenda bastante clara no sentido de direcionar a percepção do público.  Ele respondeu que depende do assunto e da proposta do filme: “No meu caso, não vou fazer um filme que apresente uma visão em que não acredito. Eu vou expor o meu lado, meu ponto de vista. Quero falar sobre a verdade. Se eu não tivesse falado a verdade nesse filme, a essa altura já teria sido processado”.

Questionado ainda sobre projetos futuros ou novos temas que o impulsionassem, Kyle respondeu: “Estamos falando sobre isso… Mas Blood Money é um projeto que ainda quero levar adiante, quero distribuir e divulgar. Já estou envolvido nele há mais de 5 anos, que é mais do que eu esperava, mas as coisas evoluíram dessa maneira. Se eu tivesse seguido adiante com outro projeto, já teria uma carteira muito mais cheia de dinheiro”. Nesse instante, Luiz Eduardo Girão, adiantou o desejo de produzir, em parceria com Kyle, um filme sobre a vida de Bernard Nathanson, médico americano que realizava abortos e após grande pesquisa, se tornou um dos maiores defensores da extinção dessa prática. A família de Nathanson já teria inclusive sido contactada para a produção de um filme com parceria Brasil/EUA.

Após a passagem por São Paulo, a equipe segue ainda por mais oito capitais do Brasil divulgando o documentário. No roteiro figuram Brasília, Salvador, Recife, entre outras. A estreia oficial será essa sexta-feira, dia 15 de novembro.