Por Felipe Teixeira

Antes de conquistar o Oscar de Melhor Direção pelo incrível Gravidade e ganhar respeito (e rios de dinheiro) em Hollywood e no mundo inteiro, o mexicano Alfonso Cuarón já havia chamado a atenção de muita gente em 2006, com seu magnífico Filhos da Esperança. Apesar de não ser muito conhecido pelo grande público e um pouco subestimado pela crítica, o longa-metragem conta com um elenco de peso – Clive Owen, Chiwetel Ejiofor, Michael Caine e Julianne Moore -,  e concorreu em três categorias ao Oscar (roteiro adaptado, fotografia e edição).

Adaptado do livro The Children Of Men, de P. D. James, a trama se passa em Londres no ano de 2027, quando a humanidade é ameaçada deCinemascope-filhos-da-esperança(2) extinção em função de uma infertilidade mundial e a pessoa mais jovem do mundo tem 18 anos. É aí que Theodore Faron (Clive Owen), um ex-ativista desiludido acaba se tornando responsável por uma jovem que misteriosamente está grávida e deve protegê-la a qualquer custo da violência gerada pela anarquia e desigualdade que predominam no futuro.

O filme de Cuáron funciona em todos os sentidos: como um violento thriller de ação, como um conto de fantasia e como uma reflexão humanitária. O design de produção impecável e a fotografia acizentada ressaltam a poluição, o abandono e tristeza de um planeta em ruínas e desesperançoso. Logo no início do filme, uma explosão completamente aleatória, fruto de um atentado terrorista, já expõe o perigo pelos qual os humanos passam todos os dias, ao passo que governantes e ricos ignoram os problemas e se afugentam. O roteiro, escrito a seis mãos, é hábil ao imergir o espectador cada vez mais fundo em um universo catastrófico ao mesmo tempo em que avança com a trama em ritmo acelerado.

A interessante premissa sobre a infertilidade global é extremamente bem executada na tela ao acompanharmos a reação de variados grupos (civis, cientistas e soldados) quando descobrem a gravidez da jovem. Qual o limite para as diferenças sociais e ideológicas diante de uma crise humanitária? Estas e outras questões são eficazmente levantadas por Cuarón e seus roteiristas dentre muita correria, perseguições e tiroteios.

E assim como em Gravidade, a direção do mexicano é um dos grandes pontos positivos da película (e sua não indicação ao Oscar aqui é inexplicável). Famosos desde E Sua Mãe Também, um dos primeiros filmes do diretor, os planos-sequências de Filhos da Esperança (dois em particular) são espetaculares e uns dos mais bem executados na história do cinema. Além do primeiro, fantástico, que se passa dentro de um carro, a sequência sem cortes nos minutos finais da projeção também é uma atração à parte. Com a câmera em frenesi passeando por uma verdadeira zona de guerra durante 10 minutos sem um único corte (!!!), Cuarón retrata em tom quase documental a violência e os absurdos de uma civilização sem rumos ou esperanças.

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O reconhecimento para seu principal realizador só veio anos mais tarde e por uma outra ficção, mas desde seu lançamento Filhos da Esperança ocupa a lista de muitos como um dos grandes filmes deste século.

Confira o trailer: