Por Felipe Rocha

Depois de muito estardalhaço e uma campanha publicitária massiva, finalmente temos nas salas de cinema de todo o país a mais nova aposta da DC Comics em seu universo cinematográfico. O Esquadrão Suicida não é um título conhecido do grande público, mas tem um forte apelo pela natureza dos membros do grupo: um bando de vilões. (Nota nerd: a concorrente, Marvel, também tem sua equipe de supervilões em processo de reabilitação social por livre e espontânea pressão, os Thunderbolts).

O estopim da trama são os desdobramentos de Batman Vs Superman: a humanidade encontra-se compartilhando o mundo com meta-humanos, cujas habilidades poderiam destruir cidades e aniquilar populações inteiras. Neste cenário, quem poderia impedir tais seres caso eles optassem por dominar o mundo? Escolhidos a dedo e comandados pela congressista Amanda Waller, o grupo é liderado pelo exemplar soldado Rick Flagg, com sua segurança pessoal Katana, e composto por Pistoleiro, Arlequina, Capitão Bumerangue, El Diablo, Crocodilo, Amarra e Magia. Assassinos profissionais, psicóticos e sem qualquer escrúpulo, o grupo recrutado em prisões de segurança máxima seria a arma perfeita para conter ameaças superpoderosas que viessem a ameaçar o planeta.

A premissa de reunir elementos de moral no mínimo duvidosa para salvar o dia, embora não seja novidade nenhuma, é promissora. Ajudam ainda a alavancar a produção os atores escalados para dar vida aos personagens, rostos conhecidos e consagrados. Destacam-se Will Smith (Pistoleiro), Margot Robbie (Arlequina), Cara Delavigne (Juliane Moone/Magia), Viola Davis (Waller) e Jared Leto (Coringa). Além disso, alguns dos personagens possuem grande apelo junto ao público, em especial a Arlequina (personagem originalmente criada para a série animada do Batman, mas que conseguiu cair nas graças do público e, além de integrar o time do Esquadrão ganhou revista própria) e seu pudinzinho. Com a faca e queijo nas mãos, o sucesso parecia garantido e fácil, mas se a vida nos ensina algo com maestria é que sempre dá pra errar.

Vejam bem, o longa certamente se sairá bem nas bilheterias: tem ação, é bem humorado e entretêm. Porém, fica a impressão que o filme que estamos vendo não é o filme que poderia ter sido. Atuações competentes como a de Viola Davis, que definitivamente é Amanda Waller: forte, poderosa e detestável; e a de Margot Robbie, que teve êxito ao conferir personalidade para sua Arlequina apesar de algumas de suas melhores tiradas já terem sido entregues de bandeja no trailer, conseguem dar fôlego à produção, mas não dão conta de cobrir suas falhas. Os personagens são apresentados de forma dinâmica e rápida, para logo em seguida serem recrutados, brifados de sua missão e jogados à ação, sem tempo para desenvolver suficiente bem a construção de suas narrativas individuais ou a química entre os membros do grupo, que se dá em combate durante a batalha principal.

Poderiam ter sido melhor aproveitados alguns aspectos que aparecem mais como esse vislumbre de possibilidades que o filme carrega, mas não vão adiante e se perdem em meio ao roteiro apressado, como por exemplo as referências diretas aos quadrinhos e universo expandido da DC (como a cena em que Coringa e Arlequina dançam com a última utilizando seu primeiro uniforme), agradando aos fãs mais ortodoxos. Considerei um ponto positivo a boa utilização de espaços para a expansão do universo cinematográfico da DC, cenas bem executadas e que se encaixam bem à trama, como as cenas em que o Batman aparece. Vários dos vilões membros do time são da galeria do morcego, relações inexistentes no longa ou foram tratadas de forma simplista, como acontece, por exemplo, com o Pistoleiro de Will Smith.

Quanto ao Coringa, me parece mais um personagem que poderia ser melhor aproveitado. Jared Leto procurou dar vida à um novo Coringa, uma senhora responsabilidade a ser assumida após duas atuações como as de Jack Nicholson e Heath Ledger. O Coringa de Leto tem algo do gangster que é o palhaço do crime de Nicholson, e carrega em si uma insanidade perturbadora que se aproxima da performance de Ledger, mas sem chegar a ser nenhum dos dois, propriamente (o que é bom). Tomando emprestadas as palavras da versão anterior, o personagem não morreu, mas certamente tornou-se mais estranho (reforçando as impressões que tive com as primeiras imagens divulgadas). Basicamente servindo de elemento de apoio ao arco da psiquiatra que o tratava no Arkham, o Coringa não consegue ter seu próprio lugar no filme. Não posso afirmar categoricamente que a performance de Leto me desagradou, se os rumores de que ele aparecerá em outro filme forem verdadeiros talvez consiga ver a dimensão real do que ele é capaz, em Esquadrão Suicida ele somente causa estranheza.

É inevitável a comparação com outra produção lançada neste ano, o Deadpool da Fox. As duas produções tem em comum a expressiva campanha publicitária e o protagonismo de anti-heróis. Considero que o filme do mercenário tagarela foi mais bem sucedido, pois cumpriu aquilo à que vinha se propondo desde sua confirmação, um conteúdo fiel e que agradasse aos fãs. Neste, as expectativas foram atendidas e, a despeito do baixo orçamento, o filme teve boa repercussão entre público e crítica. Ayer errou a mão em Esquadrão Suicida, ou as mudanças impostas pelo estúdio custaram muito ao seu resultado final, transformando um filme que poderia ser muito bom em algo regular. Mesmo que com lançamento do DVD/Blu-Ray venha a “versão do diretor” que finalmente lhe faça justiça, como bem disse um amigo: “Senhor dos Anéis e Apocalipse Now já eram bons o bastante na versão simples”, é lamentável que um filme tenha que ser refeito para mostrar a que realmente veio.

Um último apontamento é importante: a trilha sonora. O bom uso da trilha já havia se afirmado como um elemento importante nos filmes baseados em quadrinhos: AC/DC vestiu como uma luva para Tony Stark, as músicas escolhidas para Deadpool encaixaram-se perfeitamente e temos a marvilhosa “Awesome Mix n. 1” de Guardiões da Galáxia para nos mostrar como as músicas podem dar um tom completamente diferente à produção. É claramente perceptível a atenção dada à este elemento em Esquadrão Suicida, grandes sucessos são utilizados à exaustão durante a execução da trama. De Queen (reafirmando o trailer) à Eminem as faixas se sucedem, mas como muitos outros elementos da produção acabam parecendo jogadas, não compõem grandes cenas ou se entrelaçam com a trama.

A DC avança na criação de seu universo cinematográfico, mas em meio a vários tropeços. Alguns caminhos vão tornando-se mais claros a cada filme e mostram o lento amadurecimento deste universo em expansão. Esquadrão Suicida ainda fica no meio do percurso, não é o filme que gostaríamos de ver, mas podemos perceber o potencial do que está por vir (ou pelo menos que esperamos ver em breve).

Esquadrão Suicida - posterEsquadrão Suicida (Elite Squad)

Direção: David Ayer

Roteiro: David Ayer

Elenco principal: Will Smith, Jared Leto, Margot Robbie.

Gênero: Ação, Fantasia.

Nacionalidade: EUA

 

 

 

Veja o trailer:

 

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