Por Guilherme Franco
Imagine várias mulheres obesas dançando seminuas com uma cortina vermelha ao fundo em slow motion. Essa é a cena inicial de Animais Noturnos. O longa já se inicia tirando todos da zona de conforto, expondo cruamente corpos femininos bastante fora do padrão estético disseminado pela mídia. Essa complexa cena, traz questionamentos e uma beleza peculiar, mas como todo o belo é relativo, as reações podem mudar de espectador para espectador. Inclusive tem um artigo do site Refinery 29, onde a autora se questiona por que sentiu tão inconfortável com essa cena, que depois descobrimos se tratar de uma instalação artística da galeria onde a protagonista trabalha.
Susan (Amy Adams) é curadora de uma galeria de arte em Los Angeles, bela, bem-sucedida e infeliz, tudo começa a mudar quando recebe o manuscrito de um livro de seu ex-marido Edward (Jake Gyllenhaal) dedicado a ela com uma história que não aconteceu. A narrativa inteira se constrói duplamente com a vida de Amy, ela lendo e a própria história do livro. A metáfora de amor de que se trata a obra, então, se mistura a sensações de questionamento em uma história que surpreende com seus conflitos, ainda que em alguns momentos deixando de lado uma das duas linhas narrativas.
Baseado no livro “Tony & Susan”, de Austin Wright (1993), a história também traz pais preconceituosos e uma Susan com laços tenebrosos com um ex-marido não tão esquecido, um atual que não tem fidelidade e uma vida com infelicidades. “Nosso mundo é bem menos doloroso que o mundo real”. Diferente de O Direito de Amar, primeiro filme do diretor, onde têm-se um suspense mais melancólico, neste vemos mais sentimentos afiados e uma investida mais thriller, em que se pode compartilhar as expressões que Amy Adams faz de susto, agonia ou cansaço.
Tom Ford, que é renomado estilista, traz para a cinematografia um pouco de sua outra arte, com imagens esteticamente bonitas e bem articuladas, mas sem inovações. Com a trilha sonora do polonês Abel Korzeniowski (que entre outros trabalhos foi o compositor do primeiro filme do Tom Ford, Romeu e Julieta, Penny Dreadful e Metropolis, de 2004), a composição tem o tom misterioso e melodias utilizadas geralmente em filmes de suspense, remetendo, inclusive, a filmes do mestre no gênero, Hitchcock. Entre alguns vazios e momentos de telas pretas, as transições entre as cenas são bem realizadas, como se estivessem ligadas pela aleatoriedade do cotidiano.
Animais Noturnos é um filme bem construído, com muitos atritos e surpresas. Entretenimento para um grande público, com um trabalho maior em cima de conflitos e da narrativa quando comparado a realização anterior do diretor, que buscava inovações estéticas e de linguagem (um aspecto bastante explorado foi a direção de fotografia). Atuações convincentes e sedutoras como a de Amy Adams, grande cotada para o Oscar deste ano, engradecem a obra e agregam o tom misterioso que ela requer.
Animais Noturnos (Nocturnal Animals)
Ano: 2016
Direção: Tom Ford
Roteiro: Tom Ford
Elenco Principal: Amy Adams, Jake Gyllehaal, Michael Shannon
Gênero: drama
Nacionalidade: EUA
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