Conheci Greta Gerwig quando ela dançava ao som de David Bowie pelas ruas da cidade, em imagens em preto e branco em Frances Ha (2012). Além de atuar, ela também escreveu o roteiro junto com seu marido, o diretor Noah Baumbach. Depois, ela resolveu tomar as rédeas da situação e dirigiu seu próprio roteiro em Lady Bird: A Hora de Voar (2017). Seu projeto mais recente é Adoráveis Mulheres (2019), uma nova adaptação de um livro da escritora Louisa May Alcott, que já teve outras versões para o cinema e TV.
Passado durante a Guerra Civil americana, o filme conta a história das quatro irmãs March: Jo (Saoirse Ronan), Beth (Eliza Scanlen), Meg (Emma Watson) e Amy (Florence Pugh). Apesar de terem sido criadas sob o mesmo teto, tem personalidades e sonhos completamente diferentes umas das outras. O que elas tem em comum é o fato de serem mulheres em uma época em que o casamento era o único destino respeitado para uma mulher. Destino não só dela como de sua família. Palavras como amor ou vontade própria são distantes do vocabulário de sua época. A atriz Saoirse Ronan repete a parceria com Greta depois de Lady Bird mais uma vez como protagonista da história. Ela é uma aspirante a escritora que não se vê como uma futura casada.
O ator Timothée Chalamet é Theodore ‘Laurie’ Laurence e encarna algumas das complicações masculinas do filme. Jovem, bonito e rico ele não sabe muito bem o que quer da vida e as possibilidades que lhe são impostas parecem mais paralisá-lo do que se mostrar promissoras.
O interessante aqui é ver de diferentes formas, em cada uma das irmãs, os desafios que as mulheres passam desde sempre. Suas escolhas têm de ser pautadas pelo o fato de serem mulheres e cuja a principal função é ser amável, manter o lar limpo e organizado para a chegada de seu marido em casa. Cada uma das irmãs tem seu próprio fardo a carregar. Até mesmo a que quer seguir um caminho esperado de casar e ter filhos esbarra na escolha entre uma vida farta e luxuosa ou ao lado do verdadeiro amor de sua vida.
O que mais me chamou a atenção foi a delicadeza que Greta trata as diferentes situações do filme. As decisões que são impostas, sendo mulheres ou homens, quando ainda somos muito jovens e com pouca vivência. Mais difícil ainda no período em que o filme se passa e estava muito longe das mais diferentes mudanças sociais. Greta encara isso colocando jovens que querem fugir das formalidades e burocracias sociais da época, para dançar na varanda de uma casa que abriga um elegante baile.
Por fim, Adoráveis Mulheres é um olhar sobre um passado que muitos ainda insistem em replicar até hoje. Mesmo muitos anos após e com muitas revoluções no caminho. Ao terminar de ver o filme de Greta, é possível sentir um quentinho no coração e a sensação de ter sido acolhido numa casa que, mesmo com tantas dificuldades, esta cheia de amor e carinho.