“Eu acho que as pessoas deviam ser proibidas de falar que tá tudo bem.”

A autora da frase que pode ser uma síntese deste ano é a carismática personagem Dandara (Heslaine Vieira) no curta “Tudo Bem“, escrito e dirigido pelo nilopolitano Caio César e lançado gratuitamente YouTube em setembro. Com mais de 230 mil visualizações e uma recepção amplamente positiva de público e crítica,  a singela produção feita “entre amigos” é uma das sensações da internet neste desafiador período para o cenário audiovisual, e mais uma bem-vinda prova de que contar uma boa história não exige extravagâncias.

O curta conta a história de Hugo (Daniel Rangel), um jovem morador do subúrbio do Rio que conhece uma simpática universitária logo antes do início da pandemia do coronavírus. Sem saber o nome da menina ou ter qualquer outra forma de contato com ela, Hugo passa pelo período da quarentena imaginando se conseguirá encontrá-la novamente, ao mesmo tempo em que precisa lidar com consequências da implacável doença em sua própria casa.

Eu não queria fazer um filme de romance ou sobre amigos, mas sobre conexões, sobre pessoas que se olham e se encontram em outras“, disse o diretor e roteirista Caio César, de 25 anos, em entrevista ao Cinemascope por videoconferência. “Em meio a tudo isso que está acontecendo, as pessoas ainda estão se conhecendo, se encontrando, tocando suas vidas, mas de uma forma diferente. Assim como o personagem do Hugo, acho que todo mundo está um pouco perdido, inseguro, traumatizado, e quis trazer essa universalidade para o filme, mas com uma pitada de esperança também.”

Curta Tudo Bem

O diretor e roteirista Caio César (ao centro) orienta Heslaine Vieira (à esquerda) e Daniel Rangel (à direita) durante gravação do curta “Tudo Bem”

É inevitável que o conturbado e imprevisível cenário gerado pela pandemia renda diversos tipos de produções audiovisuais nos próximos anos. O mistério sobre a origem do vírus, a corrida pela vacina e as consequências políticas e socioeconômicas da pandemia são um prato cheio para inúmeras interpretações de variados gêneros. Uma das primeiras já anunciadas, produzida (óbvio) por Michael Bay, já ganhou até um preguiçoso trailer no fim de outubro. Mas enquanto o coronavírus ainda não faz parte do passado e blockbusters megalomaníacos sobre o tema ainda são uma realidade distante, a despretensiosa produção do subúrbio fluminense busca contar de forma honesta uma história de adolescentes comuns passando por tribulações inerentes à atualidade.

Produzido após seleção no edital “Cultura Presente nas Redes”, promovido pela Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, o curta foi todo gravado em apenas dois dias ao fim de julho no município de  Nilópolis, na Baixada Fluminense, seguindo medidas de segurança e prevenção ao covid-19. Com um modesto orçamento de R$ 2.500, e mais alguns investimentos a parte, “Tudo Bem” ganhou vida principalmente graças a um dedicado time de voluntários, profissionais experientes, amigos e familiares, dentre eles: Júlia Raad, responsável pela colorização, que também integrou a equipe de finalização do documentário Democracia em Vertigem; João Frazão, diretor de fotografia e dono da Frazão Filmes; e até a Vó Nina, avó de Caio e anfitriã da casa que serviu de locação para grande parte do curta.

Muitas pessoas da produção se identificaram com o tema da narrativa e acho que isso ajudou todo mundo a se doar ao máximo. Foi cansativo e corrido até o último minuto, mas todos acreditaram no projeto, mesmo a maioria deles sem qualquer remuneração“, afirmou Caio, que  é formado em Jornalismo pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e fez em “Tudo Bem” a sua estreia como roteirista e diretor. Desde 2018, ele é também diretor de imagens na TV Globo, com novelas como “A Dona do Pedaço” e “Órfãos da Terra” no currículo, e usou da experiência e relacionamentos construídos ao longo da breve carreira para produzir “Tudo Bem“. Os próprios protagonistas do curta, Heslaine Vieira e Daniel Rangel, toparam participar voluntariamente do projeto pois já conheciam Caio de uma temporada que trabalharam juntos em “Malhação”.

Fã de “The Office” e comédias românticas, Caio conta ainda não ter um grande filme preferido ou diretor específico como inspiração, e que valoriza as produções que tratam jovens e adolescentes não de uma forma superficial ou abobada, mas com personalidades completas. Seu protagonista, Hugo, por exemplo, joga conversa fora com um amigo sobre a garota que gosta, pratica atividades típicas de um adolescente em casa, e manifesta anseios sobre o seu futuro no estágio. Repleta de referências à cultura pop, diálogos naturais e uma dupla protagonista entrosada, o Tudo Bem atinge seu merecido reconhecimento, em grande parte, pelo êxito em gerar uma assertiva aproximação do público com a trama.

Neste 2020 tão imprevisível, é confortante ver um pouco de normalidade sendo retratada de maneira tão verossímil, e Caio salienta que esta era uma das intenções da produção: “Sabia que um dos maiores desafios seria reter a atenção das pessoas, aproximá-las emocionalmente dessa história. Meu foco era a subjetividade, que as pessoas observassem aquelas duas pessoas interagindo em circunstâncias tão inéditas, sem pressioná-los, e pela resposta do público acho que fomos bem sucedidos“.

Assista ao curta-metragem “Tudo Bem” no link abaixo:

Navegue por nossos conteúdos

CONECTE-SE COM O CINEMASCOPE

Gostou desse conteúdo? Compartilhe com seus amigos que amam cinema. Aproveite e siga-nos no Facebook, Instagram, YouTube, Twitter e Spotify.

DESVENDE O MUNDO DO CINEMA

A Plataforma de Cursos do Cinemascope ajuda você a ampliar seus conhecimentos na sétima arte.