Por Paulo Junior


O cinema argentino, um dos mais conceituados do mundo, tem uma vasta produção. Alguns especialistas consideram que as produções cinematográficas argentinas são as melhores da América Latina, superando até mesmo os mercados brasileiro e mexicano. Uma característica marcante do cinema argentino é sua visão cosmopolita. Enquanto a indústria cinematográfica brasileira visa mais trabalhar com o local, com o regional, a argentina valoriza histórias globais, cosmopolitas, com elementos universais. A seguir, os seis melhores filmes do cinema argentino, segundo critérios e gostos pessoais.


O Segredo dos Seus Olhos (Juan José Campanella, 2009)

O ex-secretário do Tribunal Penal, Benjamín Espósito (Ricardo Darín), resolve escrever um romance baseado em um assassinato que ocorreu há vinte anos. No ano de 1974, uma jovem é violentamente assassinada em Buenos Aires. Espósito torna-se encarregado de investigar o crime, descobrindo que o autor tinha uma forte ligação com a jovem. Ao relembrar esse período, o investigador revê a sua paixão por Irene Menéndez Hastings (Soledad Villamil), sua chefe, além de analisar suas decisões antigas. O filme mostra como a memória é determinante no desenvolvimento do presente e como o passado ainda interfere nas atitudes do presente (e vice-versa).

A História Oficial (Luis Puenzo, 1985)

Alícia (Norma Aleandro) leciona história e é mulher de um rico executivo. Sendo da classe média, não conhece a realidade do passado recente de seu país. Durante a ditadura cívica-militar (1976-1983), Roberto (Héctor Alterio) – marido de Alícia – adota Gaby (Analia Castro). Ana (ChunchunaVillafañe), amiga da protagonista e perseguida política, relata os horrores realizados pelos militares, fazendo com Alícia questione a “origem” de Gaby, levantando que esta poderia ser filha de presos políticos e que seu marido teria relações com os repressores do governo. Assim, Alícia começa a investigar sobre o caso, fazendo com que descobrisse as ligações da Igreja Católica e da classe média com o regime, além de conhecer as Mães da Praça de Maio, organização criada por matriarcas que reivindicam a localização de seus filhos – opositores da ditadura- e que permanece até hoje. Ao ter ciência do movimento das Mães da Praça de Maio, Alícia descobre a possível avó biológica de Gaby, o que acarreta sérias mudanças em sua vida.

O Filho da Noiva (Juan José Campanella, 2001)

Rafael Belvedere (Ricardo Darín), um quarentão divorciado, está vivendo uma crise econômica (juntamente com quase toda a Argentina da época) e está passando por diversos questionamentos, como vender o restaurante de sua família e o seu papel como pai. Além disso, Norma (Norma Aleandro), mãe de Rafael, está perdendo sua memória e precisa de cuidados e carinho. Diante de toda essa situação, Rafael sofre um ataque cardíaco, passando a olhar de outra forma para a sua vida.

O Pântano (Lucrecia Martel, 2001)

La Cienaga é uma cidade do interior argentino, formada por diversos pântanos e que se alaga diversas vezes ao ano. Perto dalí, fica um povoado onde são cultivados pimentões. Constantemente, duas famílias – formadas por Mecha (Graciela Borges) e Tali (Mercedes Morán) – vão para lá. Tati, prima de Mecha tem um casamento sólido e uma família estruturada, enquanto que Mecha tem um casamento infeliz. Assim, as duas primas entram em conflito.

Kamchatka (Marcelo Piñeyro, 2002)

O garoto Harry (Matías del Pozo) tem sua vida totalmente modificado quando seus pais, opositores do regime cívico-militar, são perseguidos pelo o governo e obrigados a fugirem para uma fazenda. Tentando “escapar” da realidade, o pai resolve criar um jogo para entreter Harry. O filme expõe esse conflituoso período da história argentina através do olhar de uma criança.

Filme além dos clichês…

Nove Rainhas (Fabián Bielinsky, 2000)

Foi difícil eleger o melhor filme dentre os outros, mas ficarei com Nove Rainhas. O filme conta a história de dois malandros, Marcos (Ricardo Darín) e Juan (Gastón Pauls), que planejam um golpe que mudará suas vidas. Ambos organizam a negociação em torno dos selos falsificados conhecidos como “Nove Rainhas”. Com o decorrer da negociação, os dois encontram diversos obstáculos, não podendo confiar um no outro.

O filme se destaca por seu roteiro único, uma mistura de diversos gêneros cinematográficos: ação, comédia e gângster. Um elemento que se sobressai é a universalidade do enredo. Como destacado acima, uma das características do cinema argentino é a sua visão cosmopolita. Talvez seja por isso que, em 2004, foi realizado um remake nos Estados Unidos (171 – Criminal, de Gregory Jacobs).

Um outro dado curioso a se observar são os diálogos dos personagens em relação à situação política e econômica da Argentina do período. Vale lembrar que nessa época o país estava vivendo uma grave crise financeira (Memoria del saqueo, de Fernando E. Solanas, é um ótimo documentário que aborda esse momento da história argentina).