Por Joyce Pais.

Para a minha estreia na seção #5+1 escolhi filmes que tem a técnica do plano-sequência como destaque. Sejam feitos por uma única tomada ou pela composição de algumas delas, tentei reunir obras de diferentes linguagens, gêneros e nacionalidades que pudessem privilegiar abordagens diversas. Espero que gostem!

Arca Russa

Idealizado por 15 anos, ensaiado por 7 meses e filmado em 1 dia, mais precisamente em 23 de dezembro de 2001. Arca Russa (Aleksandr Sokurov; Fausto) foi rodado em um único plano-sequência com 97 minutos de duração nas 35 salas do museu que já foi residência de imperadores, o Hermitage, em São Peterburgo. Para o feito foram necessários 3 mil figurantes para compor o passeio que leva o espectador a entrar por portas e encontrar figuras emblemáticas que ajudam a contar a história da Rússia.

A casa silenciosa

Baseado numa história real, o suspense é uma versão americana do filme uruguaio La casa, escolhido para representar o país no Oscar 2011. Dirigido por Laura Lau e Chris Kentis, o longa é estrelado pela irmã mais nova das gêmeas Olsen, Elizabeth Olsen, e conta a história de uma jovem que volta a antiga casa da família e lá é aterrorizada por acontecimentos e descobertas perturbadoras. O filme foi rodado simulando uma única tomada, mas na verdade, foram gravados trechos de 10 minutos e, posteriormente, editados para parecer um só.

Irreversível

Comparado por alguns ao filme Amnésia, Irreversível faz uso de uma estrutura e linguagem incomuns para contar uma história a qual, de certo, é impossível ser indiferente. Dirigido por Gaspar Noé, o filme propõe uma interação visceral com o espectador, é do tipo que tira qualquer um da zona de conforto. Contado de trás pra frente, em longos planos-sequência, Irreversível é uma história de vingança e causou polêmica quando exibido em Cannes, principalmente por conter a cena de estupro considerada uma das mais realistas do cinema.

Festim Diabólico

No ano de 1948, Alfred  Hitchcock tentou, com Festim Diabólico (do qual também foi produtor), realizar o que muitos já almejavam: fazer um longa-metragem inteiro num único plano-sequência. Como os maiores rolos de película eram de 1000 pés (cerca de 11 minutos), o longa foi rodado em 12 planos, com duração entre 4 e 10 minutos cada – um filme em média tem entre 200 e 600 planos. Para dar a impressão que queria, o mestre do suspense utilizou técnicas como “cortes invisíveis” geralmente nas costas da dupla de atores ou no baú onde está o corpo, além de utilizar móveis com rodilhas e compartimentos. Baseado na peça teatral de Patrick Hamilton e estrelado por James Stewart, é o primeiro filme a cores do diretor que optou por um único cenário, provocando uma atmosfera claustrofóbica e tensa.

O Baile

Para a adaptação da obra teatral do Theâtre Du Campagnol, O Baile, Ettore Scola utilizou o mesmo elenco da peça para contar a história de um salão de baile dos anos 1930 a 1980. Preocupado com as relações humanas e em como os indivíduos reagem a política que os cercam, ele optou por um filme sem falas, apenas gestos, no qual a mudança de figurino, de música e pessoas, histórias políticas, sociais e culturais são contadas. Ao todo foram utilizados 25 atores, longos planos-sequência num trabalho perfeito de mise-en-scène. Durante a rodagem do filme, Scola sofreu um infarto que quase o levou a morte. O Baile foi indicado ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro de 1983 e perdeu para Fanny Alexander, de Ingmar Bergman.

Filme além dos clichês…

Ainda Orangotangos

Primeiro longa-metragem filmado em um único plano-sequência no Brasil, Ainda Orangotangos é uma obra de Gustavo Spolidoro, conhecido por seus 14 curtas-metragens e por produzir Cão sem Dono (2007). Tendo como palco a cidade de Porto Alegre e um dia quente de verão, o longa narra situações-limite vividas por seus habitantes.  Repleto de gírias e “tiradas” típicas da região, o filme ainda contou com uma trilha sonora composta por bandas de rock gaúcho.

As filmagens ocorreram num raio de 15 km, foram usados cerca de 100 figurantes e atores coadjuvantes, 15 atores principais e uma equipe de mais de 50 pessoas. Depois de 2 meses de ensaios e 4 de pré-produção, o filme foi dividido em 15 cenas. Nos dois dias anteriores à 1ª filmagem é que aconteceram os ensaios gerais. Foram rodados ao todo 6 takes, um por dia, sempre das 19h30 às 21h, com o 2º, que foi rodado em 08/12/2006, sendo o escolhido para o filme. Para a captação das imagens foi utilizada uma câmera digital de alta resolução (HVX 200), o material captado foi simultaneamente gravado em um HD externo. O equipamento, no total, pesava 6 kg. A 1ª exibição oficial do filme foi no dia 29 de setembro, no cinema Odeon no Rio de Janeiro, dentro do Festival do Rio. Atendendo a sugestão feita pelo Clube Silêncio aos organizadores do evento, a sessão foi à meia-noite.