Por Jenilson Rodrigues

Se há um casamento que sempre deu certo é a dobradinha cinema + artes plásticas. Grandes artistas como Salvador Dalí, Michelangelo, Caravaggio, Pollock, Van Gogh e tantos outros ícones de gerações e movimentos sempre foram bem representados na telona, tanto em Hollywood quanto ao redor do mundo. Poderíamos listar vários filmes com essa temática, e hoje vamos homenagear alguns desses artistas que graças ao seu belo trabalho, e a dedicação e o empenho de talentosos cineastas trouxeram para a sétima arte o brilho e as cores de suas obras.

Basquiat – Traços de Uma Vida (1996)

Cinemascope - Basquiat

Se há algo que o diretor Julian Schnabel conseguiu em Basquiat foi fazer seus espectadores se apaixonarem pela figura carismática e despojada de um artista que desde o início de sua carreira sempre almejou o sucesso, mas que não tinha noção alguma de como se comportar diante das mudanças que essa ascensão traria para sua vida. Embalado por uma trilha sonora que vai de Iggy Pop a Rolling Stones, passando por Van Morrison e David Bowie (que interpreta Andy Warhol no filme), o longa retrata os momentos mais importantes da vida de um jovem talento que despertou a curiosidade das pessoas através de mensagens grafitadas em muros, monumentos e prédios abandonados em Manhattan. Basquiat (Jeffrey Wright) vai ao encontro do reconhecimento, mas acaba esbarrando em vícios, preconceito e em si mesmo pelo caminho.

Os Amores de Picasso (1996)

Cinemascope - Os amores de Picasso

Com uma atuação impecável de Anthony Hopkins Os Amores de Picasso é um filme divertido, que apresenta uma passagem da vida de Pablo Picasso a partir da visão de Françoise Gilot (Natascha McElhone), uma jovem artista apaixonada por seu trabalho e que acaba se tornando sua amante e mãe de dois de seus filhos. A bela Paris de 1943 serve com pano de fundo para os romances e a exposição do talento de um gênio que cativava as pessoas com sua obra e com seu poder de persuasão que o transformavam em uma figura emblemática. Há ainda no filme referências à Segunda Guerra Mundial e ao relacionamento de Picasso com o comunismo de Stalin. Os Amores de Picasso é um relato fiel de um sábio pintor que com seu jeito sedutor e sua forma de lidar com as pessoas conseguia além de criar obras magníficas, fazer com que o seu trabalho fosse reconhecido e admirado por muitos.

Frida (2002)

Cinemascope - Frida

Outra atuação que merece destaque entre os pintores representados no cinema é a de Salma Hayek em Frida, interpretação que lhe rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz em 2003. Na verdade, o filme é um dos mais relevantes em se tratando da biografia de uma pintora. O diretor Julie Taymor conseguiu transpor para a tela as cores e o universo de uma artista com estilo próprio e que desde a sua infância já destoava da família e dos amigos no que diz respeito a sua visão da vida e mundo. Mesmo experiências amargas – como o grave acidente de ônibus que lhe deixou sequelas por toda a vida – ganharam contornos inteligentes e não deixaram que o longa pendesse para o lado mais dramático. O talento de Frida Kahlo para transformar dor e sofrimento em arte ganhou prioridade dando ritmo e desenvoltura a toda a trama. O filme foi indicado ainda a outros cinco prêmios da Academia sendo merecidamente contemplado com o Oscar de Melhor Maquiagem e Melhor Trilha Sonora.

 Modigliani – Paixão Pela Vida (2004)

GAKUGEIBU Photo

Andy Garcia encarna o legítimo italiano boêmio do início do século XX no emocionante Modigliani – Paixão Pela Vida, do diretor Mick Davis. O filme apresenta principalmente o trabalho e a vida de Amadeo Modigliani, que morava em Paris no ano de 1919, período em que conhece e se relaciona com seu grande amor, Jeanne Hébuteme (Elsa Zylberstein). Apesar de seu talento inconfundível e de sua capacidade de trazer para suas telas a beleza do mundo, das pessoas e da vida, Modigliani, filho de judeus, tem que enfrentar o preconceito da família de sua amada que nunca aprovou o romance por enxergá-lo sempre como uma figura polêmica e irresponsável. O alcoolismo e a vida desregrada sempre atrapalharam Modigliani e o impediram de colher os frutos que viriam a lhe render suas belas obras. O longa dá destaque ainda a relação competitiva de Modigliani com Picasso (Omid Djalili) e emociona ao colocar lado a lado dois sujeitos com uma energia incomparável. Há até uma passagem onde acontece o incrível encontro entre Picasso, Modigliani e Renoir – assistir a uma representação do diálogo entre esses três gigantes das artes é uma experiência única e inigualável. Modigliani já havia sido retratado no cinema anteriormente em Os Amantes de Montparnasse (1958).

Renoir (2013)

Cinemascope - Renoir

Já muito bem apresentado e criticado aqui no Cinemascope, o filme Renoir, do diretor Gilles Bourdos, é uma obra peculiar que tem uma atmosfera de cores vivas e intensas, com uma fotografia exuberante destacando principalmente a beleza natural de Côte d’Azur, litoral sul da França, ambientado em 1915. Já em idade avançada, Pierre-Auguste Renoir enfrenta sérios problemas de saúde, mas procura manter-se focado com a intenção de pintar até o fim de suas forças. O que o ajuda e o inspira ainda mais é a chegada de uma belíssima modelo, a jovem Andrée Heuschling (Christa Theret). A trama ganha contornos diferentes quando Jean, filho de Renoir, retorna da guerra e também tem a vida revirada graças a sua paixão instantânea por Andrée. O longa vai além da simples representação cinematográfica e do roteiro cheio de altos e baixos de outras produções focadas em passagens da vida de artistas famosos. Renoir é uma experiência diferenciada no cinema para ser admirada e contemplada, uma exibição fiel que nos dá a dimensão da beleza do trabalho do pintor, de seu amor à arte e sua relação com o universo feminino.

Filme além dos clichês…

Moça com Brinco de Pérola (2004)

Cinemascope - Moça com brinco de pérola

Dentre os filmes listados nesse #5+1 este é com certeza o que apresenta com maior riqueza de detalhes o processo de criação de um artista plástico, desde a preparação da matéria prima até a transposição de seu trabalho para a tela. Na Holanda do século XVII, a jovem Griet (Scarlet Johansson) se vê obrigada a trabalhar como criada na casa da família do pintor Johannes Vermeer (Colin Firth) e, graças ao seu comportamento delicado e sua visão peculiar a respeito da vida e das pessoas acaba se tornando sua auxiliar e inspiração para uma das obras mais famosas do artista. Vermeer concentrava-se em detalhes para compor seu trabalho como o equilíbrio entre os elementos presentes em cada quadro, suas cores e a luz incidente sobre eles. O filme mostra de forma singela a relação entre uma criada e seu amo e traduz em imagens a beleza e a leveza da pintura de Vermeer. Scarlet Johansson consegue encantar mesmo numa representação em que sua beleza aparece da forma mais simples possível.