Berço da civilização ocidental, das olimpíadas, de Sócrates, de Platão, de Alexandre, de Homero, de Eurípedes. Pedacinho da Península Balcânica, banhada pelo mar Egeu e dona de inúmeras ilhas. A Grécia já foi representada no cinema de diversas maneiras – através da mitologia, da história, das tradições, e até mesmo de sua diáspora. Como uma grega de sangue, cresci vendo filmes que se passavam na Grécia – algumas vezes achava engraçado, em algumas outras me identificava. Neste #5+1, realizei a tarefa difícil de escolher apenas seis filmes ambientados no país. Cada filme retrata essa rica cultura de forma diferente – através do olhar de turistas, dos gregos de fora, do país durante as guerras – e mostra que, apesar dos milhares de anos de história, a Grécia continua fazendo parte do cotidiano de cada um. Boa leitura!
Antes da Meia-Noite (2013)
Lançado recentemente, Antes da Meia-Noite voltou para contar mais um capítulo da história de Jesse (Ethan Hawke) e Celine (Julie Delpy). Só que, desta vez, na Grécia! Aqui, os ricos diálogos permanecem e a química do casal mais ainda. A grande diferença é o realismo brutal das questões que os dois procuram responder. Todas as vertentes de um relacionamento – como o amor, o sexo, a confiança, a paixão, a rotina – são abordadas de maneira assustadora, graças ao belíssimo roteiro de Richard Linklater. A escolha do país, por sua vez, não deve ser ignorada. A Grécia, repleta de ruínas, história, tragédias e filosofia serve como pano de fundo perfeito para o trajeto de um dos casais mais queridos do cinema.
Nunca aos Domingos (1960)
Dirigido por Jules Dassin, Nunca aos Domingos conta a história de Ilya (Melina Mercouri), uma prostituta que vive no porto de Pireus e só faz amor com os homens que escolhe. Quando o turista americano Homer (Jules Dassin) vai à Grécia tentando compreender a decadência desta civilização, acaba encontrando Ilya e uma realidade bem diferente da terra de Homero e dos grandes filósofos. Decepcionado, ele tenta mudar Ilya e o meio em que vive, mas a mulher, independente e feliz, mostra que o importante é viver a vida de maneira aberta e sem preconceitos. A grande discussão da obra é a da razão x liberdade, mas esta é tratada de forma leve e sutil, repleta do melhor da cultura grega: a dança e a música. O tema do filme, “Ta Paidia Tou Piraia”, de Manos Hadjidakis, ganhou o Oscar de melhor canção original.
O Capitão Corelli (2001)
Estrelado por Nicolas Cage e Penélope Cruz, O Capitão Corelli mostra a Grécia de um ponto de vista diferente – o país durante a Segunda Guerra Mundial. Ambientado na ilha de Cefalônia, no mar Jônico, o filme acompanha o romance de Pelagia, filha do médico de uma pequena cidade, com Antonio Corelli, um dos oficiais que está ajudando na ocupação italiana da ilha. Quando Antonio se torna parte da vida dos moradores locais, ele passa a questionar suas razões para continuar lutando. A obra trata de questões como a lealdade à tradição e às origens e o amor apesar das diferenças. A abordagem da temática da guerra também merece atenção – aqui, vemos como um conflito de grande porte pode separar e degenerar a vida de um povo que luta para não perder sua identidade.
Zorba, o Grego (1964)
Algo na minha experiência como cinéfila diz que esse é o maior clássico do cinema grego, afinal, quem nunca ouviu falar da famosa dança do filme? Ou da grande trilha sonora de Mikis Theodorakis? Algo na minha experiência como grega também diz que Zorba realmente capta a essência de um verdadeiro grego – aqui, interpretado magistralmente por Anthony Quinn, o não-grego mais grego das telonas. Zorba, o Grego, dirigido por Michalis Kakogiannis, representa um pouco da filosofia de vida moderna deste antigo país – e talvez aí esteja a sua importância. O filme acompanha a temporada de Basil, um escritor inglês, na ilha de Creta – lugar que possui uma história incrível por si só. Lá, ele conhece Zorba, que será responsável por mudar sua vida. E que fique bem claro: este não é um filme sobre Zorba, mas sobre a importância deste na experiência de Basil. Filmes como este e Nunca aos Domingos são responsáveis pela nova imagem do povo grego – dos antigos filósofos e pensadores, para os modernos que buscam viver a vida da forma mais plena possível.
O Tempero da Vida (2003)
A Grécia, além de vários outros aspectos, é famosa por sua culinária. E o que acontece quando uma história de família é adicionada à culinária, à história e à filosofia? O resultado é O Tempero da Vida, uma espécie de Cinema Paradiso da gastronomia e talvez uma das melhores obras gregas recentes, dirigida por Tassos Boulmetis. Aqui, acompanhamos a história de uma família grega que mora em Istambul – vale dizer que esses gregos são chamados de Polítes (da Constantinopla), daí o nome original do filme, Polítiki Kouzina – e de Fanis, um astrônomo que levou para a vida todos os ensinamentos e filosofias de seu avô. O filme vai muito além da culinária e mostra que as maiores paixões de Fanis são interligadas, bem como aborda um pouco dos aspectos históricos da relação entre a Grécia e a Turquia. Enfim, um filme que junta tradição com poesia.
Filme além dos clichês…
Noivas (2004)
Uma joia rara do cinema grego, porém, uma de suas melhores produções dos últimos anos. Esta bela obra dirigida por Pantelis Voulgaris conta a história de 700 noivas com casamentos pré-arranjados que viajam a bordo do transatlântico King Alexander, rumo aos EUA – entre elas estão jovens gregas, romenas, turcas, armênias, russas e búlgaras. Muitas só conhecem seus noivos através de fotos; outras procuram fugir da guerra grego-turca; a maioria delas pretende recomeçar a vida no “Novo Mundo”.
É neste cenário que entra o relacionamento do fotógrafo norte-americano Norman (Damian Lewis, conhecido por seu papel em Band of Brothers) com a jovem costureira Nikki (Victoria Haralabidou). Entre permitir se apaixonar, honrar sua família e apoiar suas colegas no navio, Nikki passa por diversas transformações. Além disso, a obra é fiel em mostrar como a honra é um valor de extrema importância nas famílias gregas. Com Martin Scorsese assinando o filme como um dos produtores é difícil não se encantar com a delicadeza de cada cena, cada tom, cada atuação. Noivas mistura os valores de um país, sua história e um romance em uma viagem transatlântica.