Por Luciana Ramos
George Bailey (James Stewart) era “o homem mais rico da cidade” de acordo com os anjos, mas não era assim que ele se sentia na véspera de Natal. Nunca teve muitas posses e sempre sonhou alto, em viajar o mundo todo e fazer grandes realizações, mas a vida lhe mostrou caminhos diferentes. Trocou suas aventuras pelo dever de permanecer na cidade e continuar o trabalho do seu pai em financiar casas para os menos favorecidos, em oposição ao vil banqueiro Henry Potter (Lionel Barrymore). Sempre colocou o próximo antes de pensar em si mesmo, mantendo o otimismo e a esperança até encontrar-se em extrema dificuldade financeira. Corria o o risco de ir para a cadeia por um débito de oito mil dólares nas contas da sua empresa, devido a um descuido do tio. É aí então que decide dar fim a sua vida. O anjo Clarence (Henry Travers), observando tudo do céu, recebe a missão de ajudá-lo a dissuadi-lo da ideia em troca de um par de asas.
O filme divide-se em dois grandes blocos narrativos: no primeiro, acompanhamos com Clarence e outros anjos um flashback da vida de George. Nele, vemos vários exemplos de abnegação do protagonista ao longo da sua vida: ele salvou o seu irmão de um afogamento quando criança e, por conta disso, ficou surdo de um ouvido; impediu Mr. Gower, um farmacêutico desnorteado pelo luto, de acidentalmente misturar medicamentos com veneno; assumiu os negócios do pai após o seu falecimento e concedeu a sua vaga na faculdade para seu irmão; construiu uma vila para prover moradia acessível para os habitantes de Bedford Halls, entre tantos outros atestados de grandeza moral.
Partimos então para a segunda parte, onde Clarence apresenta-se e tenta convencê-lo do seu valor, mostrando-o como a vida daquelas pessoas seria caso ele nunca tivesse nascido. Seu irmão teria morrido, Mr. Gower seria um mendigo, ex-presidiário condenado por envenenar pessoas e a própria cidade teria o nome de Pottersville.
O filme pode parecer um pouco ultrapassado em estilo e narrativa a princípio e é, em alguns pontos. Maniqueísta e com algumas colocações morais que parecem bobas hoje, como a alusão à Mary (Donna Reed) ter o terrível castigo de virar uma bibliotecária solteirona na hipótese de nunca ter conhecido o seu marido, o filme vai além de todos os clichês pela mensagem do emocionante final. O bem é recompensado e George prova, sim, ser o mais afortunado dos homens por possuir família e amigos, que doam suas posses para ajuda-lo e assim restauram sua fé no mundo.
O anjo Clarence, em determinado momento, aponta como as vidas não devem ser analisadas de maneira individual, já que nossas ações refletem em outras pessoas e vice-versa. A partir desta reflexão e com a mesma crença nas virtudes humanas mostradas em outros dos seus filmes, Capra nos oferece um final regado a solidariedade e partilha, tornando este um dos mais importantes filmes natalinos sem contar com a ajuda de Papai Noel, renas ou trenós.
VOCÊ NÃO SABIA QUE…
– James Stewart, um dos mais importantes atores da sua época, largou temporariamente a sua carreira de ator para se alistar na Aeronáutica Americana durante a Segunda Guerra Mundial. Continuou a servir até 1959, quando se aposentou como coronel-brigadeiro.
– A Paramount, detentora dos direitos autorais do filme, ameaçou processar a produtora Hummingbird na tentativa de impedir uma continuação de A Felicidade Não Se Compra. A nova trama giraria em torno do neto de George, que recebe a visita da sua tia Zuzu, um anjo. Nos anos 1980, o estúdio conseguiu impedir o uso da história para a montagem de um musical de mesmo nome.
– O diálogo em que Mary Hatch discute a possibilidade de George Bailey laçar a lua para ela foi inserido na música “Love is easy”, da banda McFly.
Veja o trailer: