Por Frederico Cabala

Há muitas razões para se encantar com A Primeira Noite de um Homem (1967), talvez a principal seja o encontro de talentos em ascensão. Do diretor alemão Mike Nichols, em seu segundo longa, aos atores Dustin Hoffman e Katharine Ross, em início de carreira, e passando pela dupla de músicos Simon & Garfunkel, que estourariam após o filme o eterno hit Mrs. Robinson, todos estavam vivendo um pouco de suas primeiras noites.

O filme versa sobre juventude e — seus quase sinônimos — conflitos e incertezas. Benjamin Braddock (Hoffman) tem 21 anos, conclui sua graduação com prêmios, volta para casa, ganha um Alfa Romeo e é recebido em clima de festa pelos pais e vários conhecidos da família — aqueles do tipo que adoram afirmar, dar palpites impertinentes e fazer perguntas constrangedoras — que ele mesmo mal conhece. O problema é que Benjamin parece desinteressado em todo esse movimento, não encarna os valores dos pais e ainda não faz ideia do que fazer da vida.

É quando surge a Sra. Robinson (Anne Bancroft). Mal-casada com o sócio do pai de Ben, perto dos 40, frustrada da vida, ela passa a seduzir o rapaz. Daí a famosa e imitada cena do “Mrs. Robinson, you are trying to seduce me!”. Mais do que a suposta iniciação sexual, a Sra. Robinson representa o envolvimento de Ben com a maturidade, a percepção de que a juventude não vivida pode desaguar em amargura e apatia. Ben, então, passa a só relaxar, dividido entre os encontros em quartos de hotel e banhos de piscina no quintal de casa. Nessa parte, as transições de cenas primorosas de Mike Nichols apoiadas pelo som folk de Simon & Garfunkel ajudam a tecer o rito de passagem do personagem.

Cinemascope - A primeira noite de um homem

Curioso notar que Hoffman tinha 30 anos na época e Anne Bancroft somente seis a mais, fato que passa despercebido pelo semblante ingênuo do ator e o charme cansado que a atriz concedeu à personagem.

Ben só consegue fugir da relação com a Sra. Robinson quando conhece e se apaixona pela filha dela, Elaine (Katharine Ross). Mas a solução do seu caso abre porta pra muitos quiproquós. Vingativa, a Sra. Robinson espalha mentiras a respeito de Ben, enterra o próprio casamento e manda Elaine para longe. Talvez por projetar na própria Elaine o rancor pela juventude perdida. A busca obstinada e atabalhoada de Ben pela garota desenha a trama para seu desfecho, que é espetacular, grand finale digno de acender por tempos a pergunta: “que será que acontece depois disso?”.

O filme rendeu sucesso de crítica, dinheiro e muitos prêmios. Em 1968, Mike Nichols ganhou Oscar, Bafta e Globo de Ouro de melhor diretor, o que o colocou numa posição ocupada por poucos. Mas, além disso, acho que o maior mérito de A Primeira Noite de um Homem seja o legado de um gênero. Muito do que surgiu depois no gênero, e até hoje, bebe desse filme. A partir de um enredo simples à primeira vista, o filme trata a comédia romântica com olhar sério e grande riqueza estética. Dá impressão que Mike Nichols pensou com esmero cada plano, cada movimento que a câmera faz com desembaraço.

 VOCÊ NÃO SABIA QUE…

– Durante a cena do primeiro encontro num quarto de hotel entre Ben e Mrs. Robinson, Hoffman percebe que vai rir fora de hora e bate com a cabeça contra a parede. A cena improvisada funcionou e o diretor manteve no corte final.

– Robert Redford seria Benjamin Braddock, mas recusou o papel com a suspeita de que não daria ao personagem a ingenuidade necessária.

– Na famosa foto de capa as pernas que aparecem não são de Anne Bancroft, mas de uma modelo.

– Em 2005, foi lançado o filme Dizem por Aí, com Jennifer Aniston e Kevin Costner. O roteiro do filme é baseado na história de A Primeira Noite de um Homem.

Confira a trilha sonora de Simon & Garfunkel: