Por Fábio Monteiro

E então, documentário é um gênero ou uma linguagem cinematográfica?

Eis uma questão que sempre causa polêmica nos cursos e encontros de que participo, principalmente nas redes sociais. Aparentemente, a questão soa como um dilema quase moral: ou uma coisa ou outra, certo? Mas, quem sabe seja possível acessá-la através de um viés histórico e conceitual.

Vale lembrar que o termo “documentário” surgiu lá nos idos da década de 1920 para apresentar o filme Nanook, o Esquimó (1922), de Robert Flaherty.

Tal como desenvolvemos em nosso Curso de Introdução ao Documentário, o termo chegou ao meio cinematográfico emprestado das recém-surgidas Ciências Humanas e Sociais. Dessa maneira, não seria possível afirmar, por exemplo, que os irmãos Lumière faziam “cinema documentário”, pois o termo veio a posteriori.

Assim, o termo “documentário” apresentou uma clivagem nas imagens cinematográficas: a partir de então, estaríamos diante daquelas ficcionais e haveriam outras não ficcionais.

Nanook, o Esquimó

Cena de Nanook, o Esquimó, de Flaherty

Desde então, a fortuna crítica em torno do cinema documentário registra que ninguém, nenhum realizador ou realizadora, de fato respondeu com determinação à resposta original que anima esse artigo. Vale lembrar que, enquanto André Bazin fundou a tradição realista da teoria cinematográfica, Metz foi decisivo para forjar um cenário interdisciplinar que leu o cinema como linguagem, ou seja, como que dotado de regras e semânticas próprias.

Sendo assim, chegamos ao século XXI contando com um grande arcabouço de imagens e de referências teóricas e conceituais.

De um lado temos os aportes da Teoria da Comunicação e da Semiótica, a exemplo de Roger Odin que lê o cinema através de funções “ficcionalizantes” e “documentarizantes”, o que los leva a compreender os filmes pelos seus efeitos sobre os espectadores.

Por outro lado, no rastro da História e da Teoria Social, as âncoras continuam sendo a leituras das imagens a partir da sua concretude material, econômica e social.

Agora, localizados ambos pontos de vista, a pergunta resta em seus próprios braços: como você prefere interpretar os filmes não-ficcionais?

Para complementar

Vale conferir ainda o vídeo abaixo, onde Joyce Pais e Alexandre Mathias  escancaram a fábrica de ficções que é a sétima arte em duas obras seminais, que já lidavam com os conceitos de pós-verdade e fake news muito antes do século 21. Dois documentários falsos, um de Woody Allen e outro de Orson Welles:

 

 

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Nele, o professor Fábio Monteiro realiza uma análise da história mundial pelo recorte de documentários essenciais do cinema. Em breve as matrículas estarão abertas novamente. Você pode conferir uma aula gratuita aqui.

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