Por Diêgo Araújo
Indicado por Rafael da Silva
Fácil de assistir, mas relativamente difícil de compreender. Assim é Crimes Temporais (Los Cronocrímenes; 2007). Desenvolvido por meio de sequências não-lineares, o longa conta a história de Hector (Karra Elejalde) e Clara (Candela Fernández), um típico casal que acaba de se mudar e está passando por um tranquilo período de adaptação ao novo lar, até que uma estranha cena visualizada por Hector leva-o a se enveredar por uma série de eventos cada vez mais complexos (e catastróficos).
Dirigido e escrito pelo espanhol Nacho Vigalondo, o longa passou por várias modificações antes de ser finalmente gravado e, mesmo após finalizado, ainda levou cerca de um ano para chegar às telonas. O resultado foi uma bilheteria medíocre, diga-se de passagem. Apesar disso, o longa recebeu grande reconhecimento da crítica e do público em diversos festivais europeus e americanos.
Crimes Temporais é um filme de baixo orçamento, isso é notável durante todo o desenrolar da trama. Produzido em uma época em que a indústria cinematográfica está voltando as suas atenções para a ficção científica, com direito a espetáculos visuais que encantam os espectadores mais exigentes, o longa espanhol – que provavelmente não possuía recursos para tanto – opta por explorar a ficção de uma forma mais simplória, preocupando-se com o enredo e deixando o show de imagens de lado. Mas nem por isso a produção torna-se menos impressionante. Aliás, o resultado final encanta e nos faz refletir acerca do poder do marketing, que pode tornar grande um filme pequeno, como frequentemente presenciamos. Crimes Temporais, infelizmente, não é beneficiado com o suporte e influência da mídia.
O personagem Hector, que ao presenciar uma fato inusitado e suspeito nos arredores de sua propriedade vai apurar o ocorrido, percebe que encontra-se no lugar errado e na hora inapropriada. Após ser atacado, o personagem foge em busca de auxílio e acaba por encontrar um cientista que está testando o protótipo de uma máquina do tempo. Desconhecendo esse fato, Hector entra na máquina para se esconder do seu perseguidor e, ao sair, nota que voltou no tempo uma hora antes. Na tentativa de livrar-se da situação embaraçosa, Hector torna a sua condição cada vez mais complicada. Clichê típico de filmes do gênero, não é? Nesse caso, não.
O longa possui um enredo composto por poucos diálogos e a cada instante nos apresenta um fato novo, o que dificulta a assimilação dos acontecimentos e exige do espectador total atenção durante toda a execução do filme (o que não é difícil). Essa, afinal, é a grande sacada de Nacho Vigalondo, que torna uma produção visualmente simples em algo completamente rico e impressionante quando se trata do desenrolar dos fatos. Aqui, todos os eventos se encaixam e não há pontas soltas ou falhas absurdamente perceptíveis e inaceitáveis que frequentemente encontramos em muitas das grandes produções.
Mesmo com todas as qualidades supracitadas, Crimes Temporais falha em alguns aspectos que são essenciais em filmes do gênero. Muitas das tomadas são longas e por vezes lentas, com movimentos de câmera suaves alternados com transições bruscas de cena, o que gera uma sensação de desconforto no espectador. Ademais, a trilha sonora não é nada impressionante e não contribui com o enriquecimento do longa.
Ainda que as falhas sejam notáveis, o que se justifica pelo baixo orçamento do filme, Crimes Temporais impressiona pela simplicidade aliada à qualidade e direção plausível do Nacho Vigalondo. O diretor, aliás, já recebeu uma indicação ao Oscar pelo curta-metragem 7:35 de La Mañana (2003) e acabou de finalizar as gravações de Open Windows (2014), seu primeiro longa filmado em inglês e que conta com o Elijah Wood no elenco. Ao que parece, o empenho dedicado a Crimes Temporais abriu portas para o diretor, que já almejava isso há muito tempo.
No final, sem sombra de dúvidas, o longa é uma opção válida e indispensável para qualquer fã de ficção científica. Esse é o tipo de filme que, com maestria, nos engana. Surpresas são comuns durante todo instante e o seu desfecho inesperado e abrupto nos leva a divagar sobre algumas questões inerentes ao ser humano: afinal, vale a pena tentar consertar erros do passado? Que benefícios e implicações futuras isso traria para nós?
Veja o trailer: