Depois de duas décadas disputando bilheteria e o espaço no coração dos fãs, com a chegada do novo milênio, duas lendas do slasher finalmente ficam cara a cara. Estreava nos cinemas o filme Freddy x Jason (2003) que colocava os vilões das franquias Sexta-Feira 13 e A Hora do Pesadelo para se enfrentarem e fazer a alegria dos fãs de terror. Mas, muito antes de chegar nessa “porradaria”, a disputa foi nos bastidores, longe das lentes das câmeras.

GRANDES MONSTROS DO TERROR SLASHER

Mesmo quem nunca assistiu a um filme dos monstros, conhece os personagens. Ao se falar no gênero terror, talvez seja os personagens que primeiro vêm à mente. O primeiro a dar as caras no cinema foi Jason Voorhees em Sexta-Feira 13 (1980), mas apenas como uma pontinha no final. Ele passa a ser realmente o vilão da franquia a partir da continuação, Sexta-Feira 13, Parte 2 (1981) em que ele ainda não utiliza a máscara de Hockey. Jason vai passar a utilizá-la somente a partir da terceira parte, Sexta-Feira 13, Parte 3 (1982). A partir daí, o item torna sua marca registrada.

Já Freddy Krueger iniciou sua carreira um pouco depois. Ele aparece pela primeira vez em A Hora do Pesadelo (1984). O personagem foi criado pelo diretor Wes Craven que se tornaria um mestre do terror nos anos seguintes. Uma curiosidade o primeiro trabalho de Craven dirigindo um longa foi com Aniversário Macabro (1972). Filme esse que foi produzido por Sean S. Cunningham criador e diretor do primeiro Sexta-Feira 13.

 

 

Dos monstros do terror, talvez Freddy Krueger seja o mais tagarela. Tanto Jason, quanto Leatherface, de O Massacre da Serra Elétrica (1974), ou Michael Myers, de Halloween – A Noite do Terror (1978) não são muito de falar. Quando aparecem na tela é para botar o terror. Literalmente. Além de tudo, Freddy ainda é debochado e adora fazer piada com a tragédia dos outros. Mais uma vez, literalmente.

Antes do lançamento de Freddy x Jason, as duas franquias tinham um número expressivo de filmes. Sexta-Feira 13 já tinha tido 10 filmes lançados entre 1980 e 2001. O último tinha sido o, digamos, excêntrico Jason X (2001) que deixou de ser terror e passou a ser uma ficção científica meio cômica. Por sua vez, A Hora do Pesadelo tinha sete sequências entre 1984 e 1994. O último foi O Novo Pesadelo – O Retorno de Freddy Krueger (1994) que marcava o retorno de Wes Craven à direção da franquia que ele tinha criado, mas dirigido somente do primeiro. Esse episódio traz os atores do primeiro longa sendo atormentados pelo Freddy. Ou seja, os atores interpretam eles mesmos no filme. Inclusive o próprio Wes Craven interpreta Wes Craven. Esse conceito de Terror Pós Moderno, de um filme referenciando o próprio universo, Craven iria aplicar também para Pânico (1996), que se tornaria uma franquia de sucesso nos anos seguintes.

NEGÓCIOS NO MUNDO DO TERROR

Sexta-Feira 13 Parte VII — A Matança Continua (1988) foi a primeira tentativa de um duelo de Jason contra Freddy. Ao invés disso, Jason enfrentou uma personagem com poderes parecidos com os de Carrie, a Estranha (1976).

A ideia de um crossover entre os dois personagens iniciou anos antes quando a produtora Paramout Pictures desenvolvia Sexta-Feira 13 Parte VII — A Matança Continua (1988). Na época, os lucros dos filmes de Jason estavam diminuindo a cada novo lançamento. Em contrapartida, os lucros de A Hora do Pesadelo, cujo direitos pertenciam à New Line, só vinha aumentando. A Paramount tentou então fazer um acordo com a New Line para fazer os monstros se enfrentarem, mas não conseguiram chegar a um acordo fazendo a ideia ser abortada.

Ao invés disso, o estúdio resolveu mudar o conceito para “Jason vs Carrie”, com referência ao livro de Stephen King que virou filme dirigido por Brian De Palma, Carrie – A Estranha (1976). Então, Sexta-Feira 13 Parte VII, conta com uma personagem que tem poderes tele cinéticos parecidos com a de Carrie. Numa tentativa de controlá-los ela acaba despertando o monstro. A partir daí, ela precisa fazer o possível para deter a ameaça. No ano seguinte a Paramount lança o que seria o último filme da franquia produzido pelo estúdio, Sexta-Feira 13 Parte VIII — Jason Ataca Nova York (1989). Com seu baixo desempenho, a empresa resolveu desistir do monstro e vender seus direitos para a New Line Cinema.

Anos mais tarde, o diretor Adam Marcus cria a história mais sobrenatural da franquia. Até então, Jason tinha apenas algumas pitadas de sobrenatural, tinha se tornado uma espécie de zumbi e só aqui começa ter relações reais com o imaterial. O roteiro foi aprovado pelo próprio criador de Sexta-Feira 13 original, Sean S. Cunningham, e foi o primeiro título do monstro a ser lançado pela New Line como Jason Vai para o Inferno — A última Sexta Feira (1993). Marcus foi então contratado para dirigir o longa e reverter o fracasso do filme anterior. Na última cena desse filme vemos justamente a máscara de Jason ser pega por Freddy Krueger. E o encontro de fato, só iria ocorrer 10 anos depois.

 

A BRIGA FINALMENTE SE TORNA REAL

Para interpretar Freddy Krueger em Freddy x Jason era impossível imaginar outro ator que não fosse Robert Englund que tinha sido o personagem desde o primeiro filme. No caso do Jason, diferentes atores tinham o interpretado por seu rosto estar sempre coberto. Parece que a única exigência era ser um cara gigante. Kane Hodder que já havia sido o monstro algumas vezes no cinema, tentou o papel mais uma vez mas foi rejeitado. Em seu lugar foi escolhido Ken Kirzinger, que já havia participado como figurante em Sexta-Feira 13 Parte VIII — Jason Ataca Nova York, como um cozinheiro que é jogado em um espelho pelo próprio Jason.

A direção por sua vez ficou por conta de Ronny Yu, que participou de outro filme do universo do terror na direção de A Noiva de Chuck (1998). Inicialmente o diretor tinha recusado trabalhar em Freddy x Jason por o roteiro não deixar muito claro quem venceria o duelo. Ele só resolveu aceitar participar quando o produtor Robert Shaye, um dos produtores responsável pelos filmes da franquia A Hora do Pesadelo, lhe deu carta branca para decidir como seria o final.

Aliás, outra curiosidade, durante as exibições teste do filme nos Estados Unidos, o final não era revelado. Em seu lugar aparecia a mensagem “Veja a conclusão de quem vence em 15 de agosto”, data de lançamento nos cinemas.

O DUELO

Freddy, depois de sua morte, é esquecido pelos cidadãos de Springwood e se torna incapaz de atormentar os sonhos de suas vítimas. Numa tentativa de que as pessoas voltem a ter medo dele e conseqüentemente, fazê-lo retornar com seus poderes, ele ressuscita Jason Voorhees e o envia a cidade para assassinar algumas pessoas. Com isso, os cidadãos suspeitariam que Freddy tivesse voltado e ele retorne a sua antiga forma. A coisa começa a desandar quando Jason assassina potenciais vítimas de Freddy, deixando-o muito irritado.

Depois de tantos anos de espera o filme finalmente aconteceu. As principais dúvidas eram porque os dois iriam sair no braço? E como fazer os dois universos convergirem? Ao assistir ao longa, fica bem claro que os envolvidos no projeto estudaram bastante suas motivações e origens para construir um roteiro mais certeiro. As desculpas dos encontros e desencontros estão sempre focadas nas possibilidades que cada um traz de seu universo.

Freddy é controlador e egocêntrico. Fica irritado quando as coisas saem do controle e Jason não segue seus comandos. Jason, por sua vez, parece agir mais de acordo com seu instinto de assassino e ataca qualquer um que atravesse seu caminho. E as ações dos dois ainda seguem as regras do terror slasher como se você tem qualquer insinuação sexual, fizer uso de drogas, ou qualquer coisa do tipo você morre.

Mas o que a gente quer ver mesmo é o “pau quebrando” e ele é o suficiente para agradar os fãs dos dois. Diferente de duelos como o do homem morcego contra o homem de aço em Batmam vs Superman: A Origem da Justiça (2016) em que, apesar das parafernálias do Batman, a medida de força era muito desigual fazendo com que a coisa tenha de ser resolvida o mais rápido possível, em Freddy x Jason, as forças são equiparadas. A diferença aqui seria apenas quando os dois se enfrentam no mundo dos sonhos em que Freddy tem vantagem, contra no mundo real, onde a vantagem passa a ser de Jason. Para tanto, temos cenas nos dois universos mostrando como seria a briga e a tática de cada um nos respectivos lugares. Devo dizer que é bem satisfatório de assistir.

RESULTADO FINAL

O filme foi lançado em agosto de 2003 com um orçamento de 30 milhões de dólares. Seu faturamento foi de 114 milhões tornando-se a maior bilheteria da franquia Sexta-Feira 13 e a segunda maior de A Hora do Pesadelo. Em contra partida, os críticos da época não agradaram muito da produção. O comentário geral era que Freddy x Jason era apenas mais um filme típico do gênero, sem nada a acrescentar ao universo do terror.

O crítico Scott B., do site IGN comentou o seguinte a respeito do filme: “Se ao menos tivesse sido mais inteligente, mais engraçado, mais assustador, mais desleixado ou … qualquer coisa do tipo, teria sido mais tolerável. Em vez disso, uma suavidade de grande orçamento permeia cada quadro desse filme; Freddy vs. Jason não é apenas idiota e desavergonhado, é algo ainda pior; totalmente sem noção e desajeitado, uma visão distorcida de estúdio do que o horror costumava ser.”

Esse foi o último título até então em que Robert Englund interpretava o personagem Freddy Krueger. O próximo filme foi o remake A Hora do Pesadelo (2010). Quem deu vida ao personagem foi o ator Jackie Earle Haley. O próximo filme de Jason também foi o remake Sexta-Feira 13 (2009).

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