Em um ano tão atípico quanto 2020, onde a norma é o distanciamento e isolamento social, o streaming se tornou refúgio para muitos de nós amantes da sala escura do cinema. Mesmo que não substitua a sensação de ir ao encontro da sétima arte, ele se tornou um dos nossos melhores amigos e, assim como esse ano, veio cheio de surpresas.

Para mim, uma dessas surpresas foram as Cinelists disponíveis no streaming do Telecine onde é possível achar filmes divididos pelos mais diversos temas como “Filmes que não cansamos de assistir“, “Para não assistir sozinho”, “Visibilidade lésbica“, entre outros. Mas, as duas listas que mais me chamaram atenção foram “Mulheres Negras” e “Excelência Preta“. E dentro dessa segunda existe um dos filmes mais divertidos e inusitados dos últimos tempos, Desculpe Te Incomodar (2018).

“Uma comédia absurda de humor ácido com um realismo mágico e ficção científica, inspirada no mundo do telemarketing”.

É assim que o diretor Boots Riley descreveu Desculpe Te Incomodar, seu longa de estreia, apostando não só na criatividade como também na inteligência do público.

Cassius (Cash) Green, interpretado por Lakeith Stanfield em seu primeiro papel principal depois de ótimas participações menores em filmes como Corra! (2017) e a série de TV Atlanta (2016-), mora na garagem do seu tio, desempregado e sem muita perspectiva. O personagem se mostra preocupado com um legado inexistente numa Oakland que, a princípio parece estar no mundo atual, mas nos pequenos detalhes o espectador se sente seguro para não relacionar o que é visto na tela com a vida real.

Desculpe Te Incomodar

Lakeith Stanfield como Cassius Green

“Cash”, que literalmente quer dizer dinheiro em inglês, consegue um trabalho numa agência de telemarketing depois de mentir no seu currículo. Ao ser descoberto, seu chefe deixa claro que contrataria basicamente qualquer um para fazer aquele trabalho e que a mentira elaborada de Cash mostrou a iniciativa que ele queria dos funcionários.

Numa das primeiras sequências que demonstra que não estamos assistindo a um filme qualquer, vemos Cash literalmente despencando dentro da casa das pessoas para as quais ele está ligando, transformando o costumeiro incômodo que sentimos com as ligações de telemarketing numa verdadeira invasão de privacidade.

Dentro da empresa, Cash conhece Squeeze (Steven Yeun) e Langston (o sempre incrível Danny Glover). O primeiro tem a intenção de formar um sindicato, trazer o mínimo de dignidade para os trabalhadores que passam o dia ligando para o maior número de pessoas possíveis e ganham somente por comissão. O segundo, mais velho e um tanto quanto resignado com a maneira que as coisas são, é quem aconselha Cassius a usar a sua “voz de branco” quando está no telefone. Aquela voz que faz parecer que você não tem nenhum problema no mundo, aquela voz que vai fazer com que as pessoas queiram aquilo que você disser que elas querem.

Desculpe Te Incomodar

Jermaine Fowler, Steven Yuen e Lakeith Stanfield

Em casa, Cash vive com a sua namorada Detroit (Tessa Thompson), uma artista interessada em viver o momento. Mas isso não quer dizer que ela não tenha ideia do que acontece no mundo, muito pelo contrário. Quando Cassius começa a utilizar sua “voz de branco” ele automaticamente passa a ser notado pelos seus superiores com as vendas instantâneas que são feitas, afinal, você não precisa querer o produto, mas acreditar que não pode viver sem ele.

A ascensão de Cassius na empresa é pautada por muitas questões como racismo – nos pisos superiores ele só pode falar com a sua voz de branco; consciência de classe – em determinado momento Cash se vê numa encruzilhada entre ir contra seus antigos companheiros ou seguir fazendo seu trabalho; e capitalismo desenfreado – onde dinheiro é poder e ter é a saída para ser feliz mesmo que momentaneamente; o roteiro (também assinado por Riley) e a direção em nunca deixam você esquecer que Desculpe Te Incomodar  é um filme de entretenimento.

Desculpe Te Incomodar

Omari Hardwick

Boots Riley mostra seu total controle sobre o filme, desde a estética caótica até a trilha original composta pelo grupo Tune Yards em conjunto com a banda do próprio Riley, The Coup. A música cresce e se modifica durante a segunda metade do filme ganhando ainda mais sintetizadores, acompanhando a jornada de Cash por um mundo que ele definitivamente não conhece.

O neon e as sombras acompanham os personagens também, nem sempre remetendo ao seu estado de espírito mas sim ao conjunto da obra. É quase como se as cores e luzes fossem guiando o espectador nas suas emoções, assim como a foto do pai do Cassius, que muda de acordo com a sua decepção com as escolhas do filho. O tom surreal é completamente envolvido dentro das críticas sociais que o filme não cansa de fazer, mas que nunca soam como um sermão.

O final mais que surpreendente deixa qualquer um rindo à toa pela sua bizarrice, mas principalmente por não ser tão longe da realidade assim. Se não um dos melhores filmes de ‘excelência preta’ dos últimos tempos, com certeza um dos mais interessantes.

Ah, voltando ao Telecine, como se não bastassem as cinelists já separadinhas tematicamente para te ajudar na hora de escolher o que assistir, o streaming fez ainda melhor: ofereceu aos nossos leitores 60 dias para assistir não só Desculpe Te Incomodar, mas centenas de filmes presentes em seu catálogo. 

No app do streaming Telecine, você tem acesso a conteúdos extras, como trailer, bastidores, etc. Corre e resgata os seus 60 dias grátis, você tem até 12 de dezembro para fazer isso!

*Esse post foi produzido pela equipe do Cinemascope conta com o patrocínio do Telecine.

 

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