Por Aline Fernanda, Joyce Pais e Wallacy Silva

Aconteceu em São Paulo entre os dias 12 e 19 de julho a 7° edição do Festival Latino-Americano, com exibições gratuitas na Cinemateca, Cinesesc, Memorial da América Latina e Cinusp. O objetivo do festival era divulgar a produção da cinematografia latino-americana recente, destacando produções resultantes das parcerias entre países latinos. Além da mostra, oficinas de direção, criação, roteiro, montagem, seminários e debates foram oferecidos. O Cinemascope esteve presente no evento e neste post trazemos para nossos leitores um pouco do que vimos.

Um Mundo Secreto

Gabriel Marinõ (México/2011)

O diretor Gabriel Marinõ nos apresenta Maria, uma jovem solitária, promíscua e sem rumo que parece confiar apenas no seu diário. Ela resolve fugir de casa e embarcar em uma viagem ao norte do México e a partir daí se desenvolve o road movie do avesso. O clichê da fuga da cidade e da busca do autoconhecimento através da viagem logo se desmonta quando percebemos que essa expêriencia não é suficiente para mudar Maria, nem mesmo as pessoas que ela conhece pelo caminho são capazes de fazê-lo. A produção é sensível e tecnicamente ótima, chamando a atenção pelo uso inteligente da profundidade de campo e da sonoplastia. Os cortes são às vezes suavizados pela antecipação dos sons da cena seguinte, e às vezes intensificados pelo contraste entre o caótico barulho da cidade e o silêncio da introspecção da protagonista.

Histórias que só existem quando lembradas

Julia Murat (Brasil, Argetina, França/2011)

O filme de Murat estreou no exterior antes do Brasil e trouxe para casa prêmios de Melhor Filme e Melhor Atriz no Festival de Dubai, entre outros. Mostrando a rotina de Madalena e dos outros velhinhos que moram na cidade fantasmas de Jotuomba, e como essa rotina foi quebrada com  a chegada de Rita, uma jovem fotógrafa que desperta os moradores dessa cidade. O filme consegue lidar com temas como a morte e o envelhecimento de forma sutil e delicada aproximando quem assiste da realidade dos personagens.

Confira a crítica completa, AQUI.

Fala Sério!

Augusto Sevá (Brasil/2012)

Conta a história de Daia, Mônica e Lê, amigas inseparáveis que na adolescência descobrem o que é se apaixonar,namorar, beijar na boca e ser mãe. História de gente grande é o que essas meninas vivem. Mostra a trama de uma vida a dois e as dificuldades enfrentadas ao ter que trocar uma vida livre e de prazeres pela calmaria do cotidiano. Sem perder o jeito moleco e os desejos de uma adolescência roubada pela maternidade, as três meninas vivem típicos conflitos da sua idade. Filmado em Trancoso, litoral da Bahia, o diretor se aproveitou da paisagem para ambientar as histórias. Os atores são de Trancoso, escolhidos e preparados por cinco meses antes da filmagem. O filme peca na demasiada simplicidade dos diálogos e na falta de experiências dos atores, o que resulta em cenas mal construídas e inverossímeis.

Juan dos Mortos

Alejandro Brugués (Cuba, Espanha/2011)

Quando estranhos acontecimentos provocados por dissidentes pagos pelo governo dos Estados Unidos, em uma Havana repleta de zumbis devoradores de carne acontecem, um herói, Juan, chega para salvar. O filme de Alejandro Brugués tem um enredo bobo e comum à maioria dos filmes do gênero zumbi e se utiliza de efeitos especiais toscos, deixando o espectador na dúvida se ele se assumiu ou não artifícios do gênero trash. Mas o roteiro é recheado de situações engraçadas, personagens caricatos, referências pop e até mesmo críticas políticas e sociais. O primeiro ato exagera nas “piadas” de cunho sexual de extremo mal gosto, mas logo isso dá lugar ao que mais interessa aos fãs do gênero: a matança dos zumbis.

Augustas

Francisco Cesas Filho (Brasil/2012)

Baseado no livro “A Estratégia de Lilith”, do jornalista Alex Antunes, marca a estreia de Francisco como diretor de longas. Augustas conta a historia de um jornalista que mora na Rua Augusta e, depois de ser demitido, mergulha em um mundo de prostituição e drogas para sanar suas angústias. A trama é embalada por uma trilha sonora composta de alguns clássicos do underground paulistano dos anos 1980.

3

Pablo Stoll (Uruguai, Argentina, Alemanha, Chile/2012)

Dirigido pelo uruguaio Pablo Stoll, 3 foi um dos destaques do Festival. O longa conta os dramas e desencontros de uma família que viveu um processo de separação há dez anos e agora tem que lidar com a questão: como voltar atrás e recuperar o tempo perdido? O pai, Rodolfo, um dentista viciado em organização, está em um novo relacionamento,porém, sua vida se resume ao vazio, – reforçado pela ausência de sua segunda esposa – tanto em sua vida como no longa; em momento nenhum ela aparece. A mãe, Graciela, de poucas palavras e gestos contidos, passa a maior parte do seu tempo no trabalho ou no hospital, pois sua tia está doente, e restou a ela, parente mais próxima, cuidar da idosa. Lá, ela acaba se envolvendo com um homem que se encontra na mesma situação – um familiar hospitalizado. Anita, a filha do casal, passa por descobertas típicas de sua idade, faltas no colégio, cigarros, bebidas, vivências sexuais e joguinhos amorosos fazem parte de sua rotina. Com direção de fotografia bem executada aliada a trilha sonora basicamente composta por rock, 3 conseguiu o Êxito de trazer uma abordagem interessante frente a um assunto explorado com frequência em produções cinematográficas.

Hoje

Tata Amaral (Brasil/2011).

Vencedor do prêmio de Melhor Filme, Melhor Roteiro, Melhor Fotografia e Melhor Direção de Arte do Festival de Brasília de Cinema, o filme Hoje de Tata Amaral conta, de forma sutil, a historia de Vera (Denise Fraga) que foi militante na ditadura militar no Brasil e teve seu marido dado como morto, o que rendeu a ela uma indenização do governo. Bera compra um novo apartamento para começar sua nova vida, mas o que encontra no local quando chega é um fantasma do passado. No dia da exibição do longa no Festival, Denise Fraga esteve presente e comentou que esse é um trabalho muito importante para ela e gostaria que fosse também para o Brasil por se tratar de um filme de sutilezas.

San Antonio

Álvaro Olmos (Bolívia, Argentina/2011).

Conta a história de três personagens presos em San Antonio, considerada a menor prisão do país. O primeiro deles é Ramón, preso por narcotráfico, passa seu tempo se vestindo de palhaço para crianças, arrumando sua cela e aguardando sua saída. O outro é Sergio, que aguarda julgamento pela acusação de duplo homicídio, e mata seu tempo tatuando os outros presos, vendendo drogas e gravando um cd de hip hop. O terceiro é Guery, um ladrão que quer voltar as ruas para dar continuidade a seus crimes. O longa dá vida a três histórias totalmente diferentes, ressaltando valores e crenças, e se importando em contar como as histórias acabam.