“Eu vi tudo em Hiroshima.
Não, você não viu nada em Hiroshima.”
Hiroshima, Meu Amor (Hiroshima, Mon Amour;1959) certamente é um dos maiores clássicos do cinema e um dos primeiros do movimento Nouvelle Vague. Primeiro Após seu documentário sobre o holocausto judeu, intitulado Noite e Neblina, Alain Resnais recebeu a proposta de fazer um documentário sobre as consequências da bomba atômica em Hiroshima, revelando os mais variados sofrimentos das vítimas: mutilações, agonias provindas do câncer, corpos carbornizados, alimentos contaminados, enfim, todos os sentimentos caraterísticos de um cenário de horror pós-guerra mundial.Depois ver as cenas e tudo o que já havia saído na época sobre a bomba atômica de Hiroshima, Resnais teve a brilhante ideia de fazer algo a mais do que apenas um documentário. Após a recusa da escritora Françoise Sagan para escrever um roteiro sobre o filme, Resnais se juntou à romancista Marguerite Duras, que foi muito mais além do que um roteiro de cinema – Duras escreveu um texto literário, recheado de versos que transportam seus personagens em primeiro plano, tornando o filme algo único e incrivelmente poético.
Hiroshima, Meu Amor conta a história de amor entre uma atriz francesa casada (Emmanuelle Riva) e um japonês arquiteto (Eiji Okada) da cidade de Hiroshima, que também é casado. Quando vai para a cidade, a atriz se envolve com o arquiteto e eles vivem os mais intensos sentimentos : amor, paixão, raiva, tristeza, medo, adultério; eles vivem tudo isso em apenas dois dias. Ao contar para o arquiteto que ela se apaixonara por um soldado alemão (Bernard Fresson) no final da II Guerra Mundial há 14 anos atrás, ela revela que sente o gosto de viver novamente um amor impossível, já que sua família a proibira de ver o seu amado, trancando-a em uma adega de sua casa. Antes de sua partida, há diversos momentos de encontros, desencontros e tristezas entre os dois, revelando, através de seus olhares e atos, o medo de perderem um ao outro, de não poderem viver aquele sentimento que havia crescido assustadoramente em tão pouco tempo.
Toda a história vivida pelo casal é narrada pelo roteiro poético entrelaçado com as tomadas do documentário sobre a tragédia de Hiroshima. Seguindo o movimento Nouvelle Vague, as cenas são capturadas de acordo com a perspectiva de Alain Resnais, fugindo dos padrões de filmes de estúdio hollywoodianos da época, ou seja, muitas cenas feitas ao ar livre, movimentos e ângulos de câmeras com liberdade de estética, além de uma fotografia com técnicas noir tanto dos personagens, quanto das tomadas sobre as consequências da bomba atômica em Hiroshima, tudo em P&B. O filme pode ser dividido ainda em três partes: o documental sobre Hiroshima, o romance do casal e o flashback (curiosamente o filme foi pioneiro no uso de cortes para mostrar cenas em flashback, mesclando com cenas da atualidade) dos tempos de adolescência da atriz francesa, que demonstra sua cidade invadida pelos nazistas e seu amor pelo soldado alemão.
Os triunfos de Hiroshima, Meu Amor são muitos: o filme estreou no Festival de Cannes em 1959 com indicação de Palma de Ouro para Alain resnais, Marguerite Daras foi indicada ao Oscar (1961) de Melhor Roteiro Original, ganhou o BAFTA (1951) de Melhor Diretor para Alain Resnais (além das indicações nas categorias de Melhor Filme e Melhor Atriz Estrangeira para Emmanuelle Riva). Além de todo esse reconhecimento, o filme é uma das maiores referências de cinema clásssico, tornando-se um dos filmes mais reverenciados do movimento Nouvelle Vague.
“Seu nome é Hiroshima.
E o seu é Nevers, na França.”
Veja o trailer: