Por Paulo Junior
Escrito em 1881 pelo escritor francês Émile Zola (1840-1902), o romance Germinal é o décimo terceiro livro da série Les Rougon-Macquart (pertencente à escola “naturalista”) e é ambientado no norte da França do século XIX, durante uma greve trabalhista provocada pela redução dos salários. Zola descreve em seu romance os aspectos técnicos das explorações das minas, das condições de vida dos trabalhadores e a organização política e sindical dos operários, como o movimento comunista e anarquista. Para escrever o romance, Zola conviveu com os trabalhadores na extração de carvão, presenciando a realidade da vida dos operários. Além disso, acompanhou os movimentos grevistas dos trabalhadores e as precariedades cotidianas, como o baixo salário, a insalubridade das moradias e dos ambientes de trabalho e a fome.
O romance inspirou diversas adaptações no cinema, como os longas-metragens de Albert Capellani (1913); de Yves Allégret (1963); e de Claude Berri (1993). Para o presente texto, analisaremos o longa-metragem de 1993, dirigido pelo cineasta francês Claude Berri (1934-2009). Logo no início, observamos a chegada de Etienne Lantier, um maquinista vindo do sul da França, atrás de emprego em uma mina. Este dialoga com um senhor, que relata sua experiência de trabalho: há cinqüenta anos é explorado nas minas de carvão, sendo apelidado de “Boa morte”, devido aos inúmeros acidentes sofridos.
Nos primeiros minutos do longa, é mostrada toda a situação de trabalho dos operários: insalubridade e pobreza extrema. Os trabalhadores, além de trabalharem por exaustivas horas, ganham um misero salário, que não dá para comprar o pão e o café diário. Dessa forma, miséria e exploração são uma constante na vida desses homens, dessas mulheres, dessas crianças e desses idosos. Podemos notar como o processo produtivo desenvolvido pela classe operária é opressivo. Através da divisão do trabalho, é notada a profunda desigualdade social, devido à separação das classes sociais entre burguesia e proletariado.
Lantier conhece Toussaint Maheu, sua esposa Maheude e seus filhos. Diante da opressão social e econômica em que estavam inseridos e proporcionado por uma visão contestadora, Lantier com a ajuda de outros, como Maheu e Maheude, desenvolvem um projeto de greve – influenciado por ideias comunistas – reivindicando melhores salários e condições de trabalho. Após um longo período de greve, o movimento operário é sufocado e a situação de opressão volta. Ao final do longa-metragem, Lantier vai embora da mina e Maheude, que tem a maioria de sua família morta, começa a trabalhar nas minas.
O Germinal aborda as lutas de classe entre proletariados e burgueses, o processo de introdução do sistema capitalista nas cidades do interior e a produção e exploração do trabalho operário realizados pela burguesia francesa. Basicamente, o longa-metragem retrata as tristes e severas transformações sociais introduzida durante o período da Revolução Industrial. O título do filme e do romance tem relação com o processo de desenvolvimento dos movimentos grevistas das minas de carvão do século XIX na França.
A metalinguagem do título é evidente, onde o amadurecimento e desenvolvimento dos movimentos grevistas correspondem a da germinação de plantas e frutos. O longa-metragem pode ser considerado como um objeto de denuncia da opressão sofrida pelos operários durante o século XIX na França. Eric Hobsbawm em sua obra A Era das Revoluções fala sobre uma “era de superlativos e afirmações modestas”, ou seja, apesar de uma época de grande desenvolvimento tecnológico e industrial, boa parte dos cidadãos era explorada e vivia em constante miséria. Apesar de todas as leis introduzidas pela Revolução Francesa, os trabalhadores ainda eram oprimidos.
O filme retrata as situações que contribuíram para o desenvolvimento dos movimentos grevistas, pois as condições desumanas e insalubres dadas aos trabalhadores despertaram uma consciência de classe e fez com que fosse desenvolvida uma vontade de lutar por uma vida melhor e mais justa em uma França no período revolucionário e que estava se desenvolvendo economicamente.
Finalizando, O Germinal reflete o cotidiano da exploração sofrida pelos operários nas minas de carvão na região de Montsou, na França. O longa-metragem aborda temas interessantes como o germinamento de ideias comunistas entre os trabalhadores, a consciência de classe pelos operários, as más condições de trabalho na França, as disputas entre os proletariados e burgueses, e o processo de revoluções laborais.
Podemos concluir que o filme exibe toda a conjuntura da época, onde são mostradas as condições dos trabalhadores pobres, a fome e a miséria, os vícios, a alienação de alguns operários, a disputa entre proletariados e burgueses, a opressão vivida nas minas de carvão, o desenvolvimento de ideias comunistas – através das Internacionais do período – e o processo de revoltas trabalhistas. A história desses operários no interior da França do século XIX nos ajuda a observar, de uma forma verossímil, a situação social e econômica no período da Revolução Industrial francesa e no restante do continente europeu.
Veja o trailer: