Por Wallacy Silva.
Através da mostra Escolas de Cinema, o 8° Festival de Cinema Latino-Americano de São Paulo – 2013 exibiu curtas-metragens de estudantes de todo o continente. Com temáticas variadas e apurada criatividade, os trabalhos nos apresentam profissionais que podem ser o futuro da produção audiovisual da região. A seguir você lerá a primeira de três partes das nossas análises de uma parcela dos curtas!
Eva (Anna Guida, Brasil, 14’, 2013)
As mulheres entrevistadas falam sem tabu sobre menstruação e TPM. Mas o foco começa a se perder com declarações ora curiosas, ora esdrúxulas, sobre machismo, o lugar da mulher na sociedade, “causos” etc., terminando com a resposta para a pergunta “o que é ser mulher?”. Entre as falas ainda surgem performances cênicas e takes mostrando chocolates. Nada orgânico.
Epecuén (Verena Kuri e Sofia Brockenshire, Argentina, 8’, 2012)
O título refere-se a uma vila argentina que, em 1985, foi completamente alagada pela cheia de um lago de mesmo nome, que acabou rompendo o dique que protegia o local. Mesclando imagens anteriores à tragédia com outras do que restou da vila, as diretoras elegem personagens, sejam pessoas ou momentos, para conduzir de forma poética algumas tentativas de tramas, que subitamente esvaziam-se. Foi um dos curtas premiados pelo júri do Festival.
O Santuário (El Santuario, Marco Betancor, Uruguai, 20’, 2013)
Um estranho acontecimento assombra os moradores de um pequeno vilarejo, que passam a buscar o responsável. Do prólogo ao final, uma atmosfera sinistra é emanada. Os planos, quase todos muito bem compostos, contribuem muito para a tensão criada, assim como as imagens incômodas, que remetem a um imenso sofrimento. E o grotesco contrasta com a religiosidade, numa busca por exorcismo ou redenção.
Assassinato em Junín (Asesinato en Junín, Andrew Sala, Argentina, 10’, 2012)
Um exercício interessante, no qual o espectador observa de um ponto de vista único, estático, uma série de acontecimentos, como um assassinato. Mas sem grandes reviravoltas fica difícil fisgar o espectador.
Para Poder Parar o Tempo (Marcelo Lee, Brasil, 19’, 2013)
Puro poema desde o nome. Amélia é uma jovem que mora numa rodoviária, aparentemente esperando por alguém. Ela acaba trabalhando para um casal que tem uma pequena venda ali. O curta começa com um tom documental, como se colhesse depoimentos dos que conhecem a moça, e mostrando os frequentadores da rodoviária. Mas caminha em direção à ficção, e Amélia parece não encontrar quem esperava, mas ser encontrada. Uma citação bíblica aponta o momento em que Deus parou o sol para que Josué vencesse a sua batalha, e suscita o desejo de que ele, ou algo, ou alguém, pare, para Amélia, o tempo.
Juana (Angela Prince, México, 9’, 2012)
Juana tem 22 anos, é mãe de dois filhos, e por ser maltratada pelo marido resolve sair de casa. Uma instituição a ajuda, oferecendo emprego para ela e cuidado para as crianças enquanto ela trabalha. Sem grande destaque técnico, chamam a atenção aqui as metáforas (como a da Calle del Olvido – Rua do Esquecimento) e o preciso arremate.
Madeira (Madera, Daniel Kvitko, Cuba, 25’, 2012)
Abelardo é um senhor de 81 anos, veterano do exército rebelde cubano. Vive na natureza, cuidando de um bosque e escrevendo suas memórias. Os diálogos do senhor com sua esposa, Marbelia, são a grande atração do curta, abordando a importância da preservação da memória, a consciência social, a afirmação do lugar em que vive o protagonista, a longevidade e o futuro.