Mafiosos, policiais corruptos, escutas, encontros em prédios abandonados e muita violência. Não há grandes novidades no enredo de Os Infiltrados, filme de 2006 do aclamado diretor nova-iorquino Martin Scorcese, pelo qual finalmente levou o Oscar de Melhor Direção após bater na trave inúmeras e injustas vezes. A produção é um remake de um filme honconguês de 2002, Conflitos Internos (e até hoje é o único remake da história a levar o Oscar de Melhor Filme).  Mas não é pela ausência de ineditismos em uma produção que ela deve ser considerada menos competente, pelo contrário. Famoso por seus longas-metragens com temas envolvendo a máfia e o enriquecimento ilícito, que teve seu ápice no excepcional Os Bons Companheiros, Scorcese desfila em Os Infiltrados seus maiores méritos como um contador de histórias, sustentado por um elenco que despensa apresentações.

Na trama, o jovem policial Billy Costigan (Leonardo DiCaprio) recebe a missão de se infiltrar na máfia, mais especificamente no grupo comandado por Frank Costello (Jack Nicholson). Ele conquista a confiança do mafioso ao mesmo tempo em que Colin Sullivan (Matt Damon), um criminoso que atua na polícia como informante de Costello, também ascende dentro da corporação. Tanto Billy quanto Colin se sentem aflitos devido à vida dupla que levam, e quando a máfia e a polícia descobrem que há um espião entre eles, a vida de ambos passa a correr perigo.

Scorcese, junto ao roteirista William Monahan, consegue inserir na produção os maiores clichês do gênero dos filmes de máfia (muitos solidificados por ele mesmo) e ainda assim não empobrecer a narrativa. Há o líder da máfia (Nicholson), o chefe imponente e descontraído (Alec Baldwin), a dupla de “good cop/bad cop” (Martin Sheen e Mark Wahlberg) e, claro, os  infiltrados (Damon e DiCaprio). Todos eles protagonizam traições, conversas em becos escuros, perseguições e doses repentinas de violência. O elenco estelar, que tem ainda Vera Farmiga, Ray Winstone e Anthony Anderson, e um roteiro repleto de bons diálogos sobre moralidade e fidelidade, tornam estes personagens figuras sólidas e interessantes, apesar dos estereótipos inerentes ao gênero cinematográfico da produção.

Mas talvez o principal motivo de Os Infiltrados ser um filme tão empolgante sobre mafiosos, mesmo após tantos outros, seja o trabalho da companheira de longa data de Scorcese, Thelma Schoonmaker. Responsável pela montagem de grande parte de seus filmes, em Os Infiltrados a montadora é excepcional ao construir uma crescente atmosfera de tensão na medida em que o cerco sobre os agentes infiltrados torna-se mais apertado. É perceptível em produções como essas que um dos lados eventualmente será descoberto, e a sequência de cenas e cortes escolhidos por Thelma são essenciais para o ritmo da trama ganhar contornos de urgência. Assim como Scorcese, ela também teve seu feito devidamente reconhecido pela Academia com o Oscar de Melhor Montagem.

Com um ótimo e conturbado clímax ao melhor estilo O Grande Golpe  (1956), de Stanley Kubrick, o longa-metragem reforça um dos principais mantras da trama: qual a real diferença moral entre mocinhos e vilões que trabalham da mesma forma? Scorcese tira qualquer rastro de sutileza sobre esta questão no famoso último plano do filme, mas nada que enfraqueça mais uma grande obra do diretor.

O trabalho de Martin Scorsese e do diretor de fotografia  Michael Ballhaus é abordado no curso de Direção de Fotografia, ministrado pelo professor Kiko Barbosa. Mais informações no link abaixo.

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