Por Heleni Flessas

Musical dos musicais. “O melhor musical hollywoodiano de todos os tempos”. A obra dona da cena icônica que quase todos conhecem, mesmo não sabendo tanto assim sobre Gene Kelly. Cantando na Chuva é conhecido por gerações – já até apareceu em gibi da Turma da Mônica! – e em 2012 completou seus 60 anos, permanecendo uma obra atemporal e encantadora.

Dirigido por Stanley Donen e Gene Kelly – conhecido como um mestre da dança no cinema, junto com Fred Astaire – o filme retrata um dos momentos mais importantes da história do cinema: a transição do cinema mudo para o falado no final dos anos 1920 (tema abordado em filmes recentes, como O Artista). A ideia da obra surgiu depois do sucesso de Sinfonia em Paris (An American In Paris, 1951), que também contava com a coreografia e atuação de Kelly. Curiosamente, o roteiro foi elaborado depois das músicas, escritas (e já utilizadas em outras produções) pelo então produtor da MGM Arthur Freed e seu parceiro Nacio Herb Brown. Assim, os roteiristas Betty Comden e Adolph Green ficaram encarregados de pensar em uma trama para filme.

A obra tem como personagem principal Don Lockwood (Gene Kelly), um famoso ator do cinema mudo que precisa se acostumar com a chegada do som às telas. Como tem raízes na dança e na música, Don não encontra tanta dificuldade nessa transição. Porém, o mesmo não ocorre com seu par romântico das telas, a desafinada e estridente Lina Lamont (Jean Hagen). Com sua última produção sendo transformada em filme falado, o carismático e engraçado melhor amigo de Don, Cosmo (Donald O’Connor), sugere que a aspirante a atriz Kathy Selden (Debbie Reynolds) duble Lina.

Dentro dos conflitos e adaptações para o cinema falado surge o delicado humor do filme, inspirado por histórias reais da época. O fascínio com o primeiro longa-metragem falado, O Cantor de Jazz (The Jazz Singer, 1927); a dificuldade em captar as vozes dos atores; a transição de roteiro mudo para roteiro falado; a necessidade de um técnico vocal para ajudar os atores, entre outros episódios.

Ironicamente, a única canção original do filme é “Moses Supposes”, já que até a canção-título havia sido utilizada anteriormente em outras produções, como The Hollywood Revue of 1929, um dos primeiros longas falados da MGM. Fatos à parte, nada tira o encanto dos números do filme. A cena de “Make ‘Em Laugh”, interpretada por O’Connor, é um dos momentos mais marcantes da obra, talvez pela naturalidade e espontaneidade do ator, que sapateou como se sua vida dependesse daquilo. A famosa sequência de “Singin’ In The Rain” não fica para trás, já que é a mais conhecida por todos. Menções honrosas vão para a divertida “Moses Supposes”, tão intensa que dá vontade de levantar da cadeira e dançar. Já “Good Morning” mostra como é possível se fazer um número de temática simples, que transborda uma alegria autêntica.

O que torna Cantando na Chuva um dos melhores musicais da história do cinema é seu sentimento sincero de alegria, aquela que vem de dentro. Não importa que a nossa realidade não seja como a dos musicais, com músicas e danças que começam com um simples “bom dia”. No universo desta obra isso é totalmente aceito e válido, já que esta carrega um tom de improviso, transmitido graças aos atores competentes e talentosos. A única coisa que não vale é ficar sem sorrir.

VOCÊ NÃO SABIA QUE…

– A atriz Debbie Reynolds se esforçou tanto no número “Good Morning” que acabou estourando alguns vasos sanguíneos de seus pés. Entretanto, Gene Kelly acabou tendo que dublar os passos da atriz numa sala de gravação.

– A chuva que aparece no filme é uma mistura de água e leite, um truque para tornar as gotas mais visíveis. Essa mistura acabou fazendo com que o terno de Gene Kelly encolhesse. No mesmo dia das gravações desta cena, o ator estava com febre alta, porém insistiu em trabalhar.

– Gene Kelly era conhecido por ter um gênio difícil. Em uma das gravações, Kelly chegou a reclamar que Debbie Reynolds não sabia dançar e que não poderia ser seu par, o que a deixou abalada. Foi Fred Astaire quem acabou apoiando e ajudando a atriz com seus números.

– Os negativos originais do filme foram destruídos em um incêndio.

– Donald O’Connor trabalhou tanto em seu número “Make ‘Em Laugh” que precisou ser hospitalizado. Para seu azar, a cena teve que ser refeita.

– A obra levou duas indicações ao Oscar: Melhor Atriz Coadjuvante (Jean Hagen) e Melhor Trilha Sonora de Musical. No Globo de Ouro, foi indicado a Melhor Filme Comédia/Musical e o ator Donald O’Connor recebeu o prêmio de Melhor Ator em Comédia/Musical.

Veja o trailer:

[youtube]jEKQwy13j_8[/youtube]