Baseado em “We Can Remember It for You Wholesale” (Podemos recordar para você, por um preço razoável, em livre tradução) de Philip K. Dick, publicado em 1966, O Vingador do Futuro: Total Recall (1990) cria uma nova história a partir da premissa proposta pelo conto, focada na trajetória pessoal do protagonista Quaid e de sua imaginação acerca do mundo extraterrestre, ambientado em Marte.

Paul Verhoeven, diretor do filme, possui a característica de atribuir forte ironia, sátira e crítica social em suas obras. O Vingador do Futuro, com Arnold Schwarzenegger, é um bom exemplo de como o diretor consegue estas suas características com efeitos especiais, violência e uma mensagem clara sobre o momento pelo qual a sociedade passava, pós-queda do Muro de Berlim e término da Guerra Fria.

Apesar do filme em momento nenhum mencionar o ano em que a história se passa, Verhoeven atesta a data em 2084, pois queria um futuro mais distante que o de Blade Runner: O caçador de Androides (1982). É nesse ano que o operário Douglas “Doug” Quaid recorre a um implante de memória da empresa Interplan Rekal, para simular uma viagem a Marte como militar espião. 

É então que os funcionários da empresa percebem que ele já tem uma memória implantada. Quaid começa a se lembrar de quem realmente era e de fatos que, até então, desconhecia. É perseguido pela mulher que acreditava ser sua esposa e por agentes do exército que acreditava serem seus amigos, resolve ir até Marte para conseguir respostas sobre seu passado. 

A história de Vingador do Futuro caminha pelo mesmo universo de Blade Runner e, por isso, os implantes dos replicantes são semelhantes ao utilizado por Quaid. A diferença entre as duas obras é que, enquanto essa gira muito em torno da colonização além-Terra, Blade Runner tem como enfoque principal os seres humanos que permaneceram no planeta. O filme de Verhoeven vai até Marte e nos mostra como a vida seria por lá, insalubre e sem oxigênio. 

Nesta civilização fundada em Marte, o ar vale muito dinheiro, pois a colônia é estabelecida dentro de uma redoma e o ar é um privilégio. A ironia de Verhoeven é notada claramente em algumas escolhas de cena, como por exemplo a busca por férias falsas de classes sociais mais baixas, na intenção de alcançar patamares conquistados pelas classes mais elevadas.

Dentro deste cenário de consumo desenfreado e busca por reconhecimento social, os implantes de memória criados pela Interplan Rekal são capazes de esgotar a história anterior de qualquer indivíduo. As fronteiras entre o real e o falso, neste sentido, são diluídas.

A discussão distópica levantada por K. Dick e disseminada através de O Vingador do Futuro é a perda da própria história, e com isso, das ideologias e da própria essência do eu, construída desde a infância. Em última medida, conforme esta memória individual é perdida gradativamente pela maioria da população que procura fugir da situação real, a memória coletiva também é afetada, abrindo as portas para que um governo totalitário assuma pleno comando da vida de seus cidadãos. 

Assim como o restante da obra do escritor – ainda que o filme tenha fugido um tanto do enredo do livro – as discussões e resoluções de conflito são sempre mais complexas do que aparentam ser.

A sociedade futurista de O Vingador do Futuro é abordada no curso de Panorama do Cinema Distópico, ministrado pela professora Thaís Lourenço. Mais informações no link abaixo.

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