Por Kiko Barbosa

No momento em que sentamos em frente à uma tela com a proposta de absorver um conteúdo, seja ele qual for, estamos nos abrindo psicologicamente a um novo universo. Quando um profissional, a partir de uma série de trabalhos, chama a atenção quanto a consistência visual entregue em cada um deles, vemos a importância da direção de fotografia na construção e manutenção desses universos imaginários.

Em uma entrevista realizada pela Variety, Roger Deakins explicou um pouco como ele constrói a cinematografia. O premiado diretor de fotografia britânico tem um currículo sólido. Ele inclui filmes como Um Sonho de Liberdade (1994), E Aí, Meu Irmão, Cadê Você? (2000), Uma Mente Brilhante (2001), 007 – Operação Skyfall (2012), Blade Runner 2049 (2017), entre outros. Por este último, recebeu sua primeira estatueta do Oscar.

Deakins acredita que cada projeto merece um foco diferente e se adequa às necessidades da história que vai ser contada. Essa abordagem confere disciplina para decidir os enquadramentos, assim como os melhores horários para gravar cada cena. A atenção de Roger também influi na temperatura de cor, uma das técnicas mais presentes em sua obra. Ele utiliza esse recurso para enriquecer a linguagem visual do filme e o trata como um personagem.

Roger Deakins: Uma Mente Brilhante

Ao trabalhar com a temperatura de cor, o fotógrafo permeia as imagens com tons azulados e amarelados. Assim, concebe contrastes visuais que se aliam à narrativa, auxiliando na compreensão da história e na construção psicológica de cada personagem.

Um filme que se destacou usando a técnica foi Uma Mente Brilhante (2001), ficção baseada em fatos reais dirigida por Ron Howard. O longa apresenta a fragilidade das faculdades mentais de John Nash, um brilhante matemático norte-americano acometido por esquizofrenia.

Nash é obcecado por números, um gênio pelo exato sentido da palavra. Porém, sua vida é alinhada de acordo com as próprias convicções, o que torna suas habilidades sociais tão boas quanto as de uma pedra. Em consequência, John é uma pessoa solitária.

No primeiro momento do filme, somos apresentados aos personagens que o cercam em uma festa para calouros nos jardins da faculdade de Princeton. A cena, gravada em fim de tarde, traz uma luz laranjada e, junto com ela, um otimismo toma conta do espectador. Tal sentimento pode ser justificado pela teoria da cor envolvida no processo cognitivo entre tons quentes e frios.

Roger Deakins Uma Mente Brilhante

Cena do filme Uma Mente Brilhante, de Ron Howard.

Em uma certa sequência do filme, Nash tem dificuldades em construir uma tese de doutorado interessante e digna de respeito por seus colegas de turma e professores. Ao se deparar com a possibilidade de falha, ele entra em parafuso e todo o otimismo se esvai. Seu quarto fica tomado por um um azul frio e solitário, jogando o personagem em seus dias mais sombrios dentro da academia.

Consistência Visual

Tal comparação só pode ser feita quando a direção de fotografia assume esse contraste e explicita para o espectador o que significa cada ambientação com temperaturas de cores diferentes. Ao firmar esse tipo de “acordo”, o longa apresenta a ideia: amarelo = satisfação e otimismo; azul = solidão e melancolia.

A consistência visual é atingida quando os acordos visuais se mantêm durante todo o filme. A partir de um critério técnico, como a temperatura de cor, novos caminhos podem ser usados para acrescentar mais camadas a fim de construir um código narrativo coerente. Roger Deakins não é o único a fazer uso desse recurso, mas é um dos poucos que faz com propriedade. Assistir à suas obras é o mesmo que mergulhar em um universo diferente a cada título.

O trabalho de Roger Deakins e os efeitos de temperatura de cor são abordados  no curso de Direção de Fotografia, ministrado pelo professor Kiko Barbosa. Mais informações no link abaixo.

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