127 Horas

Por Joyce Pais

À primeira vista, pensar em pouco mais de 90 minutos de projeção centralizada em um único ator estático, preso na fenda de uma montanha, seria bastante improvável. Mas essa é a história, baseada em fatos reais, contada por Danny Boyle (Trainspotting) e Simon Beaufoy, numa parceria que repete o sucesso de 2008 em Quem quer ser um milionário? (Slumdog Millionaire). O drama vivido pelo alpinista Aron Ralston (James Franco) que, em maio de 2003, durante uma escalada no Estado de Utah, EUA, teve seu braço preso embaixo de uma rocha por cinco dias (daí o título do filme) passa pelas mãos do diretor lhe conferindo uma abordagem singular.

O protagonista nos é apresentado como um aventureiro seguro de si que tenta viver o Carpe Diem no seu sentido mais amplo, através do contato com a natureza e com o que realmente lhe traz satisfação e prazer pessoal, o montanhismo. As cenas iniciais já anunciam que algo significante para a trama está prestes a acontecer e, para isso, algumas pistas são dadas, como a placa na estrada que sinaliza o serviço mais próximo a 10 milhas ou o letreiro com a inscrição “127 horas” que aparece na tela assim que a pedra prende a mão de Aron, dando a noção de que algo muito pior estava por vir.

O silêncio alternado a música do fone do alpinista é a combinação perfeita para a expectativa que culmina com a tragédia vivida ali durante longas e agonizantes horas. O clima de liberdade do início contrasta com o ascendente desespero de Aron, que em certo momento fica feliz “apenas” por conseguir pegar um canivete que caiu no chão da fenda, usando um graveto improvisado, lembrando em alguns aspectos a trajetória de Alexander Supertramp em Na Natureza Selvagem (Into the Wild).

Os planos abertos mostram a imensidão da natureza reforçando a agonia e impotência do personagem frente a situação em que se encontra. Por outro lado, planos fechados retificam a claustrofobia de ficar com os próprios pensamentos e reflexões no período de cinco dias nas condições dramatizadas no longa. Algumas lembranças são mescladas através de cenas do passado que remontam arrependimentos, vivências familiares e experiências amorosas com uma ex-namorada.

Ao repensar sua vida inteira e expor sua fraquezas e forças mais profundas, apesar da situação atípica, Aron se aproxima do público como um “cara” comum, levando a platéia a simpatizar com ele e torcer para seu sucesso no final da saga vivida no John Blue Canyon.

127 Horas é um dos indicados à estatueta de melhor filme no Oscar 2011 e pode não figurar entre os favoritos, mas provavelmente será lembrado pelo público, seja pelo respeito que seu diretor ganhou da Academia, pelo seu apelo emocional (e por se tratar de uma história verídica) ou pela atuação visceral de James Franco, que vive um dos melhores momentos de sua carreira. O ator também será apresentador da cerimônia do Oscar ao lado de Anne Hathaway.

127 horas (127 Hours)