Por Ana Carolina Diederichsen

Confesso que a terminologia “Ronin” pra mim não era inédita, graças ao filme de 1998 com Robert De Niro e Jean Reno que leva esse nome. Mas não conhecia a lenda dos 47 Ronins, que é vendida como uma das mais fortes da cultura japonesa. O filme, com roteiro de Chis Morgan (responsável por 5 dos sete Velozes e Furiosos), pretende corrigir a falta de divulgação da lenda para o mundo. Com Keanu Reeves liderando o elenco, o filme mistura fantasia e realidade, numa proporção que parece não ter resultado muito positivo.

Temos a história do garoto mestiço, Kai (Reeves), que foi encontrado pelo líder de uma respeitável aldeia. Lorde Asano, decide acolher como servo o jovem, que jura lealdade eterna a seu salvador. Como o destino é atroz, Kai e Mika, filha de Asano, apaixonam-se e vivem um amor impossível. Por ser mestiço, Kai ainda sofre com a rejeição e preconceito de todos da aldeia, que não reconhecem sua incrível habilidade em lutas e conhecimentos sobre a floresta, que beiram o sobrenatural.

Em função de um ditador ambicioso, auxiliado por uma feiticeira misteriosa, lorde Asano é condenado e forçado a cometer o seppuku (suicídio) para defender sua honra e de sua família. A aldeia de Ako possui diversos samurais, guerreiros de origem nobre que defendem seu senhor, Asano. Cientes de que seu nobre lorde foi injustiçado, seus samurais, se unem a Kai, mais habilidoso que muitos, a contragosto, e decidem vingá-lo, naquela que será sua derradeira tarefa. Ao optarem por vingança, os samurais foram banidos da aldeia e perderam seu status, passando a viver à margem da sociedade, como párias. Quando um guerreiro é rebaixado, ele perde seus direitos recebe a denominação de ronin.

Para contar essa história, proveniente de uma lenda baseada em fatos históricos, o filme faz uso massivo do universo fantasioso. Ao fazê-lo, acaba por minar grande parte do potencial dramático que a bela história carrega, equiparando-a a tantas outras simplórias, em que o bem luta contra o mal. Ao fazer essa opção, o roteiro tornou-se fraco e com tantas arestas mal aparadas que, aliado a uma direção inexperiente, teve que recorrer á narração em off como sua única saída. Quando bem empregada, a narração é usada para enriquecer a história, e pode fazer maravilhas por um filme, mas nesse caso, foi usada como muleta, na tentativa de mostrar coisas que o filme por si só não conseguiu contar ou não deixou claro.

O visual, apesar de não ter compromisso com a realidade e com a época retratada, é encantador, mas alguns efeitos visuais ficam demasiadamente perceptíveis. O elenco é competente, embora desconhecidos no ocidente.  Keanu Reeves é quem destoa, aparece como “mais do mesmo”, com feições que já são familiares a quem já assistiu qualquer um de seus filmes. Destaque para a Rinko Kikuchi, que interpreta a feiticeira, dotada de olhar fascinante e postura desajustada, em oposição à perfeição exata e entediante de Mika (Kô Shibasaki).

47 Ronins foi um dos maiores fracassos de bilheteria do ano, o que é compreensível. Não é um filme terrível e exerce bem o papel de entreter, mas é totalmente descartável. Uma pena, pois a história desses guerreiros merecia um filme que fizesse jus ela e a abordasse melhor. Trata-se de uma lenda que traz consigo um potencial dramático incrível, que foi desperdiçado em um filme medíocre.

As noções de honra e disciplina estão muito impregnadas na cultura japonesa. É um fator a ser respeitado e admirado. E a lenda dos 47 Ronins, no fundo, é sobre a nobreza da honra. Mas em meio a efeitos especiais duvidosos, roteiro entrucado, com cenas de ação que não marcam, e uma historia de amor que não convence, a honra fica de lado e passa despercebida.

Cinemascope-47-ronins (6)47 Ronins (47 Ronin)

Ano: 2013

Diretor: Carl Rinsch

Roteiro: Chis Morgan

Elenco Principal: Keanu Reeves, Hiroyuki Sanada, Rinko Kikuchi, Kô Shibasaki

Gênero: Aventura

Nacionalidade: EUA

 

 

 

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