E se pudéssemos descobrir para onde vamos após a morte? E se nos fosse garantido que existe algo além da vida? Estas são as complexas perguntas que movem o enredo de A Descoberta, longa-metragem da Netflix dirigido por Charles McDowell (da série Silicon Valley e Querida Gente Branca).

Na história, o cientista Thomas Arbor (Robert Redford) consegue provar cientificamente que a consciência humana não deixa de existir com o óbito. A descoberta revela-se marcante para a história da humanidade, sendo lembrada principalmente por um macabro motivo: com a certeza de que há algo mais a ser visto fora deste plano, milhões de pessoas ao redor do mundo passaram a cometer suicídios para tentar chegar até lá. É em um dos aniversários da Descoberta que Will (Jason Segel), filho de Thomas, é convidado a visitar seu pai no misterioso local onde ele faz seus experimentos para uma revelação que pode mudar tudo mais uma vez: é possível visualizar o que está além.

Em uma grande embarcação quase completamente vazia, Will encontra Isla (Rooney  Mara), uma jovem cheia de energia que também pensa na validez de se tentar chegar a uma nova realidade por meio do suicídio. Ela acaba indo também para o centro de experimentos do cientista Thomas, que funciona ainda como um local para tentar recuperar aqueles que fracassaram na tentativa de suicídio. Marcados por perdas em seus passados, Will, Isla, Thomas e quase todos os outros personagens de A Descoberta são movidos a dúvidas e incertezas sobre o que fizeram de errado para permitir que pessoas próximas tirassem a própria vida e como seguir em frente diante de um novo questionamento: vale a pena expor ao mundo o que há do outro lado?

Por meio de uma fotografia com uma paleta de cores acinzentada, sem vida, com planos abertos exibindo um tempo quase sempre nublado, toda a parte técnica do longa-metragem contribui para evocar uma atmosfera melancólica e que remete a um lugar esvaziado após o início da epidemia de suicídios. A variação de tons em cena ajuda ainda no embate de opiniões entre os personagens. Will, que acredita que as provas sobre o “além” são esmagadoras, mas não definitivas, está sempre vestindo roupas de cores neutras, em contraste com seu desajeitado irmão Toby (Jesse Plemons), funcionário do laboratório de seu pai  que usa um macacão amarelo chamativo.

Apesar de o filme nunca entrar em detalhes sobre como efetivamente foi feita “a descoberta”, a questão central dessa ficção-científica indie, da mesma forma que séries como The Walking Dead e The Leftovers, não é o que ocorreu, mas as consequências de um acontecimento de proporções extremas. Milhões de suicidas buscaram tentar chegar a um outro lugar, mas o que acompanhamos ao longo da projeção são aqueles que ficaram: seus familiares e entes queridos desolados por suas perdas e confusos sobre suas próprias vidas. E se tais pessoas que partiram estiverem realmente em lugar melhor? Será que há a chance de também se juntar a elas? E se for tudo mentira?

É uma pena que o roteiro de Justin  Lader e do diretor Charlie McDowell não trabalhe mais a fundo as questões éticas e humanitárias envolvidas na comprovação científica do “além”, perdendo tempo com cenas que nada acrescentam à trama como um sequestro de cadáveres.  Ainda assim, apesar da premissa subaproveitada, é inevitável que o espectador não se coloque na posição de alguns dos personagens diante da angustiante situação abordada no filme.

Observação: o longa tem uma rápida cena pós-créditos.

A Descoberta

Ano: 2017
Direção: Charlie McDowell
Roteiro: Charlie McDowell e Justin Lader
Elenco principal: Jason Segel, Rooney Mara, Jesse Plemons, Robert Redford
Gênero: Ficção Científica
Nacionalidade: Estados Unidos

 

Avaliação Geral: 3,5