Um filme que brinca com nossos sentidos. Esse é A Madeline de Madeline. Ele não segue a linha usual da narrativa e recursos estéticos da maioria dos filmes atuais, pelo contrário, ele segue a protagonista e seus sentimentos tanto na fotografia quanto trilha sonora. É quase que o filme se rendesse à Madeline. Assim, por conta de sua protagonista ser adolescentes e lidar com problemas psicológicos, ele muitas vezes acaba por ser confuso e estranho.
A obra é um pequeno recorte da vida de sua protagonista. A história nos apresenta Madeline, uma adolescente se redescobrindo no teatro que aos poucos vai nos permitindo adentrar em seus sentimentos e em suas emoções mais confusas. Vivendo com a mãe, ela enfrenta diversas barreiras por talvez “sentir demais” e precisa lidar com isso.
Talvez o maior desafio ao assistir o filme de Josephine Decker seja se despir de preconceitos do cinema e entrar de corpo aberto em uma aventura com Madeline. O longa tem defeitos, mas traz à tona uma importante discussão de como adultos e a sociedade como um todo enxergam os adolescentes. Ele também debate como nossa relação com o criar e com a fantasia se torna cada vez mais distante conforme você cresce e vai deixando hábitos infantis de lado. O conflito chega quando constatamos que todos querem viver outro mundo, outra vida e, diferentemente das crianças, adultos buscam isso no entretenimento com filmes, música ou então com outros recursos.
O longa, que passou pelos Festivais de Berlim e Sundance em 2018, firma uma estreita relação com o teatro. A direção de arte trabalha para trazer um grande tom fantástico à mis-èn-scene, em conjunto com a trilha sonora e o som compõem uma outra camada fílmica superior a história principal. Em vários momentos vemos o som se sobrepor sobre a diegese da cena. Por meio de metáforas narrativas, o filme traz debates sobre muitos assuntos sociais e políticos, presentes, por exemplo, na cena em que a protagonista consegue liderar e instituir uma ideia em todos os atores da companhia, que a seguem e acabam entrando em conflito com a diretora.
A Madeline de Madeline é uma obra que pode afastar quem sempre busca o conforto de narrativas tradicionais ou que busquem recursos estéticos e uma linguagem audiovisual sem grandes novidades, mas é necessária atualmente para a discussão sobre relacionamentos pessoais, sentimentos e a forma com que enxergamos certas questões presentes na sociedade atual.
*este texto faz parte da cobertura do Cinemascope da 42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo