Por Ana Carolina Diederichsen
Baseado no best seller homônimo, A Menina que Roubava Livros chega aos cinemas depois de grande expectativa. A menina em questão é Liesel, interpretada pela fofa e extremamente promissora Sophie Nélisse. Sua história começa na Alemanha pré-Segunda Guerra Mundial. O país já enfrentava uma crise e aqueles que não se encaixavam no padrão estabelecido, eram marginalizados. A mãe de Liesel, engrossava essa lista e, por não poder alimentar os filhos, teve de entregá-los ao Estado, que encaminhava as crianças para adoção, mediante pagamento de uma pensão. Nesse processo, o irmão mais novo da garota, morre. Ainda sem saber como lidar com a perda, ela é entregue a uma nova família, em que todos são estranhos. Sua mãe adotiva, Rosa, vivida por Emily Watson, encarna o perfeito estereótipo da alemã fria e rígida, enquanto cabe a Hans (o incrível Geoffrey Rush), o papel da ternura.
Logo no início do filme, que já encanta com o visual deslumbrante de um campo totalmente coberto pela neve branca, em oposição ao negro trem monocromático, já temos uma quebra. A partir de uma opção pouco usual, e que pode causar certo estranhamento inicial, o narrador é a personificação da morte. E ele explica os motivos pelos quais se intrigou com a trajetória daquela menina, dentre tantas outras que cruzaram seu caminho.
Liesel agora tem que enfrentar as dificuldades de adaptação em sua nova família, nova cidade e escola. Por volta dos nove anos, ela é a única aluna de sua sala que não sabe ler, e quanto a isso, seus colegas são bastante cruéis. É justamente a partir da necessidade de aprender a ler, que Hans e Liesel vão estabelecendo seus laços. A leitura torna-se, naquele momento, a única coisa que os conecta, e a menina assustada vai, aos poucos, se abrindo àquele estranho, que assume contornos tão paternais como ela jamais havia visto. Geoffrey tem o poder de confortar com um simples olhar e, para aquela menina isso foi seu mundo, o alicerce que ela precisava pra se desenvolver.
Quando a situação começa a entrar nos eixos, a guerra estoura e a família passa a abrigar Max (Ben Schnetzer), um judeu fugitivo, ato totalmente ilegal e perigoso. A partir daí a história ganha forma. Ela não fala sobre grandes feitos heróicos na guerra, que aqui é um pano de fundo sempre presente. Fala justamente sobre como não ceder ao medo e incoerências da guerra, fala sobre os pequenos confortos que a vida proporciona e como laços entre estranhos são forjados. Sobre vidas que tocam outras, em pequenos momentos, gestos, sorrisos ou um simples piscar de olhos em cumplicidade.
O elenco central tem excelente atuação, a direção de arte faz um trabalho primoroso evidenciado pela fotografia. A evolução da personagem principal é muito bem marcada. Figurino e maquiagem contribuíram muito para isso mas, ainda assim, Liesel parece ter envelhecido anos e amadurecido décadas. Nesse caso, o mérito maior fica a cargo de Sophie Nélisse, que durante as gravações tinha entre 12 e 13 anos.
A trilha sonora, que conferiu a John Williams sua 49ª indicação ao Oscar, é bonita e elegante, mas não foge muito do habitual. Para um filme desse porte, envolvendo essa temática, é surpreendente que essa tenha sido sua única indicação.
Uma história de guerra, vista através dos olhos de uma criança, incapaz de compreender as limitações que a cercava, mas tendo que lidar com o peso disso, que mostra como a ingenuidade se transformou em esperança. É um drama forte, não muito inovador, mas tão comovente e feito de maneira tão competente que vale as horinhas dedicadas a ele e desperta a vontade de ler o livro e conhecer mais a fundo essa história.
A menina que roubava livros (The Book Thief)
Ano: 2013
Diretor: Brian Percival
Roteiro: Markus Zusak (Livro), Michael Petroni (Roteiro)
Elenco Principal: Geoffrey Rush, Emily Watson, Sophie Nélisse, Nico Liersch, Ben Schnetzer.
Gênero: Drama
Nacionalidade: EUA, Alemanha
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