Por Joyce Pais  

Como num déjàvu, a cena que inicia A Vida Durante a Guerra (Life During the Wartime, 2009) é uma menção, quase cópia, explícita ao filme Felicidade (Happiness, 1998) do mesmo diretor. Mesmos nomes, mesmo estabelecimento, mesmo diálogo, resolução diferente. Conversas cotidianas em restaurantes e mesas de jantar revelam as perversidades mais íntimas dos personagens desenhados por Todd Solondz. Em sua temática, distúrbios psicológicos e as estranhezas humanas são o alvo.

Recheado de ironias e humor negro, destinos são entrelaçados e relacionados na história que mostra a vida da recém-separada Trish (Allison Janney), cujo ex-marido é pedófilo. Ao decidir casar-se de novo encontra alguém que no seu conceito é “normal” para educar seus três filhos. O que ela não contava é com a saída de seu ex-marido da cadeia e a consequente mudança na estrutura familiar.

A trama, que parece ser uma espécie de continuação da história iniciada no filme citado anteriormente, se passa no pós-guerra do Oriente Médio, desencadeada pelo 11 de Setembro, e se revela como uma dura crítica ao governo republicano e ao rumo que a nação norte americana tomou. “Ele votou no Bush… e no McCain. Mas só por causa de Israel. Mas ele sabe que eles são completamente imbecis, então não se preocupe” é uma das frases de maior efeito no longa.

As coloridas casas da classe média americana e a aparente vida perfeita são derrubadas no momento em que se adentra essas casas e os segredos mais obscuros de cada um são revelados. Uma criança que toma calmante, a obsessão por se masturbar ouvindo vozes de desconhecidas selecionadas aleatoriamente na lista telefônica e um diálogo com o filho de dez anos sobre “ficar molhada” em um encontro amoroso são situações típicas e ‘naturais’ do universo de Todd Solondz.

Ao escolher Joy (Shirley Henderson) – alegria em inglês- como nome para uma personagem fracassada, infeliz e perturbada como a dos dois filmes, o diretor expõe com peculiaridade o retrato de uma sociedade anestesiada e desesperada em si mesma.

Na metalinguagem com seu próprio trabalho, ele provoca o riso da miséria e decadência humana. Os simulacros e simulações abordados pelo filósofo frânces Jean Baudrillard em sua obra de mesmo nome pode ser encontrado no exemplo real do deprimente retrato de A Vida Durante a Guerra.

Sem vislumbrar qualquer esperança no horizonte, o que resta agora é a redenção do passado e a questão do “perdoar e esquecer” que se torna cada vez mais improvável no contexto contemporâneo ocidental, mais especificamente, no americano.

 

Cinemascope---A-Vida-Durante-a-Guerra-PosterA Vida Durante A Guerra (Life During Wartime)

Ano: 2010.

Diretor: Todd Solondz.

Roteiro: Todd Solondz.

Elenco Principal: Shirlei Henderson, Michael K Williams. 

Gênero: Drama.

Nacionalidade: EUA

 

 

 

Veja o trailer:

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