Por Frederico Cabala
Em um tempo no qual a política externa dos Estados Unidos se projeta em preocupações mundiais, o lançamento de Armas na mesa (Miss Sloane), dirigido por John Madden, nos leva a um ponto central igualmente preocupante da política interna daquele país: a indústria do lobby. Sem nada dever para o que tantas vezes costumamos ver como exclusividade brasileira, o lobby americano apresentado no longa se propulsiona por atitudes antiéticas e incide como uma marca bem mais atuante que os interesses públicos do país.
O filme, todo construído em diversas camadas temporais, se detém sobre a vida da jovem lobista Elizabeth Sloane (Jessica Chastain). Tendo como ponto de partida o julgamento de Sloane por ações ilegais durante a corrida pela aprovação da ementa Heaton-Harris — que endureceria o controle das armas no território estadunidense —, Armas na mesa a todo momento oscila tal tempo presente com aspectos do passado da lobista.
Assim, vemos que Sloane trabalhou anteriormente para uma empresa de lobby que fora procurada por uma grande empresa armamentista a fim de evitar a aprovação da emenda. Inconformada pela possibilidade de se posicionar a favor do pouco controle das armas, a lobista rompe com a empresa. Levando parte da antiga equipe, a personagem é contratada por uma firma rival e passa a se dedicar inteiramente à influência legislativa pela maior rigidez da venda de armas. Mais do que isso, a aprovação da emenda passa a ser uma questão de vingança pessoal para a lobista. Com a profissão convertida em obsessão, Sloane esquece-se das necessárias horas de sono com o uso drogas estimulantes e passa a querer cada vez mais cruzar a fronteira da ética, tornando-se calculista, o que nos aproxima de sua situação de réu do início do longa.
Armas na mesa é montado em um ritmo igualmente estimulante. Os agitados cortes de cena combinam com o funcionamento psicológico de Sloane. O que não parece funcionar é a tendência de forçar a barra para construir um momento apoteótico final, no qual a transformação da personagem deixa pontas soltas e torna mal justificado o desenvolvimento anterior do roteiro.
Por outro lado, deve-se mencionar a atuação determinante de Chastain como Elizabeth Sloane. A atriz encarna de maneira convincente o que se costuma chamar de comportamento maquiavélico, o interesse pela causa própria a todo custo em detrimento dos afetos e relacionamentos pessoais. É também interessante ver o veterano Sam Waterson, ator que vive o antigo patrão de Sloane, como antagonista de destaque.
Vale acrescentar, por fim, a bela trilha sonora minimalista composta pelo alemão Max Richter, que, assim como feito em Ilha do medo (2010), inscreve notas que elevam a atmosfera de obsessão e insanidade de Armas na mesa, clima que bem combina com o atual momento de tensão política dos Estados Unidos.
Armas na mesa (Miss Sloane)
Ano: 2016
Direção: John Madden
Roteiro: Jonathan Perera
Elenco principal: Jessica Chastain, Mark Strong, Sam Waterson, Alison Pill
Gênero: Drama, Thriller
País: EUA
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