Por Wallacy Silva
Será que é mesmo na adolescência que vivemos as melhores experiências das nossas vidas? É acompanhando os passos de Mano (Francisco Miguez) que vamos atrás das respostas. Representante da classe média paulistana, o adolescente passa por diversas situações, desde aquelas mais clichês da adolescência como a descoberta do sexo, a rede de fofocas (cada vez mais forte, com o auxílio das tecnologias de celular e internet) e a paixonite da colega por um professor de física (Caio Blat), até a inusitada separação dos pais, a crise da mãe (Denise Fraga) e o bullying violento. Em meio a esse turbilhão de acontecimentos característicos da vida de qualquer adolescente é que encontramos As Melhores Coisas do Mundo.
Mano é um jovem reservado, tem o seu grupo de amigos e sua paixão no colégio. Mesmo que ela não faça muito “seu tipo”, ele insiste. O jovem estuda na mesma escola que o irmão mais velho Pedro (Fiuk), jovem pró-ativo, escreve, toca violão, faz teatro e está muito feliz com a sua namorada Bia (Júlia Barros). Mas tudo está prestes a mudar na vida dos dois jovens, pois o pai dos dois, Horácio (Zé Carlos Machado), resolve deixar a família e assumir um novo relacionamento. Detalhe: um relacionamento homossexual. Se os jovens já estavam insatisfeitos com o próprio pai, explodiu o sentimento de revolta, externado principalmente por Pedro, que chega a ofender o próprio pai usando termos homofóbicos. Preconceito que, mais tarde, faria os dois adolescentes de vítimas, quando o caso espalha-se pelos corredores do colégio. Mano sofre negativas de sua pretendente, enquanto Pedro entra em crise no namoro. Enquanto o último utiliza o seu blog como “terapia”, o primeiro vê em sua amiga Carol (Gabriela Rocha), com quem costuma jogar o “jogo da verdade”, a sua válvula de escape.
O roteiro nos traz uma série de tramas emaranhadas, num enredo que reflete muito bem o que é a vida de um adolescente: uma grande quantidade de acontecimentos simultâneos e a necessidade de fazer as próprias escolhas. A fotografia é belíssima e não apela para os cartões postais consagrados da cidade de São Paulo, opta pelo simples. As ruas de bairros tradicionais são percorridas de bicicleta por Mano, oferecendo-nos um retrato de antigas edificações e do trânsito da cidade. A cena em que os irmãos tocam violão na Praça do Pôr-do-sol, em Pinheiros, é uma das mais belas sensorialmente no filme. Outro elemento marcante na fotografia é o grafite presente no escadão que leva Mano ao seu professor de violão.
Apesar da atuação questionável de Paulo Vilhena, os encontros com o professor de violão têm um papel importante na trama. São os únicos momentos do filme nos quais Mano recebe conselhos de alguém que está completamente fora do plano de ação, que tem uma visão externa de tudo que acontece com o jovem, e ao mesmo tempo possuiu a experiência de quem sobreviveu à adolescência. Outra cena chave, que mexe com o espectador, é a dos dois tocando Beatles. Aliás, mais um elemento a ser destacado é a trilha sonora, eclética, jovem e original, tendo, inclusive, uma canção especialmente composta por Arnaldo Antunes, homônima do filme.
O ponto forte de As Melhores Coisas do Mundo, em que ele ganha o espectador, são os personagens. Arriscaria-me até a dizer “personagens-tipo”, como a garota que é excluída por conta da homossexualidade, outra que só quer saber de curtir a adolescência, ou ainda aquela que escreve tudo que acontece de significante no seu caderninho. O “pegador” cria até uma pasta no computador pra colocar as fotos das meninas com quem ele já ficou. Tem ainda a responsável por espalhar as fofocas do colégio pra todo mundo. Com uma câmera na mão, a espécie de Gossip Girl atualiza o blog com os principais boatos sobre os colegas de escola. Enfim, é impossível assistir o filme sem se identificar com algum personagem, ou ainda relacionar algum a um ou outro dos nossos colegas do tempo de escola. Além disso, buscando cativar ainda mais o público adolescente, o filme se utiliza de um elemento “extra-filme”: o website oficial do longa, que conta com um enorme conteúdo multimídia, interativo, com ringtones e wallpapers personalizados para download, trilha sonora, e até mesmo com os links para os blogs dos personagens! O espectador é acolhido pelo universo do filme.
Voltando ao início do texto, aquela primeira questão teria resposta? Se a adolescência não proporciona as melhores coisas de nossas vidas, ela certamente proporciona grande parte das coisas mais importantes no que tange o amadurecimento. São as decisões e consequências dos eventos praticados quando jovens que constroem nosso caráter quando adultos. “Não é impossível ser feliz depois que a gente cresce. Só é mais complicado.”, diz Mano, no longa. É impossível prever o que será dali a frente, se o que virá será melhor ou não. O importante é guardar com carinho as lembranças, invocadas pelo filme, da época na qual éramos felizes e não sabíamos.
Ano: 2010.
Diretor: Laís Bodanzky
Roteiro: Luiz Bolognesi, baseado na série de livros “Mano”, de Gilberto Dimenstein e Heloisa Prieto.
Elenco Principal: Paulo Vilhena, Gabriela Rocha, Caio Blat.
Gênero: Drama.
Nacionalidade: Brasil.
Veja o trailer:
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Galeria de Fotos:
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