Por Ana Carolina Diederichsen
Na Inglaterra do início do século XX as mulheres já exerciam importante papel na estrutura familiar: Eram elas as responsáveis por cozinhar, limpar, costurar, cuidar dos filhos e maridos, além de complementar a renda. Ganhando 1/3 dos salários masculinos e trabalhando 3 horas a mais por dia, elas ainda tinham que lidar com os assédios e ameaças dos patrões.
Para Maud (Carrey Mulligan), não era diferente. Mãe dedicada, trabalhava na mesma lavanderia em que, literalmente, nasceu e se criou. A jovem não era rebelde, nem se posicionava politicamente. Como a maioria das pessoas, ela nem questionava o que era imposto ou indevido. Com a intenção de apoiar uma de suas colegas, favorável à permissão do voto feminino, se dispõe a ir a uma audiência no parlamento. A partir daí, cai numa sucessão de acontecimentos alheios à sua vontade que a levam à militância. A opressão era tamanha, que não coube a ela outra opção que não buscar o que, embora justo, ainda era considerado ilegal.
A maior beleza do longa é justamente mostrar o processo de descoberta de Maud. A sua transformação de uma mulher comum, em uma das mais atuantes na luta pelo voto feminino e os motivos tão irrefutáveis que a levaram a agir. E ao mostrar isso, a roteirista Abi Morgan (Shame e A Dama de Ferro) nos convence da urgência da aceitação da causa sufragista, que aqui passa a se misturar com a feminista.
Um dos núcleos mais interessantes é encabeçado por Brendan Gleesson, um investigador da polícia com a função de inserir todo seu aparato tecnológico no combate às militantes. Aparato esse, composto pelas mais modernas máquinas fotográficas portáteis, (daquelas maiores do que uma TV de tubo) que ainda passavam despercebidas nas ruas. As mulheres eram seguidas, fotografadas e registradas num banco de dados das “Sufragistas”. E quando participavam de manifestações, eram presas como forma de repressão.
A equipe reunida faz um belo trabalho. Direção de arte e fotografia constroem um cenário melancólico que pontua o longa. O elenco, afiadíssimo, conta com a sempre impecável Helena Bonham Carter e a diva do cinema Meryl Streep, que aparece por poucos minutos, mas tem o fundamental papel de inspirar mulheres (coisa que faz muito bem, tanto em cena, quanto fora dela). Carrey Mulligan acerta o tom e esbanja confiança e conforto na pele de sua personagem. A direção segura, mas seca e objetiva, completa um roteiro competente.
O longa é tão sóbrio, que se torna demasiado frio. Fosse dirigido seguindo a tendência hollywoodiana, correria o risco de cair no melodrama. Por outro lado, seria um tanto mais emocionante. A apatia com que as personagens enfrentam as situações choca. Mas isso, de maneira alguma, os torna planos ou superficiais. Elas são apenas, provavelmente, muito ingleses…
Marcante, o longa fala sobre um história que merece ser contada e, infelizmente, como o próprio filme expõe, ainda precisa ser ouvida em muitos lugares do mundo.
As Sufragistas (Suffragette)
Ano: 2015
Diretor: Sarah Gavron
Roteiro: Abi Morgan
Elenco Principal: Carrey Mulligan, Helena Bonham Carter, Meryl Streep, Brendan Gleesson, Anne-Marie Duff
Gênero: Drama
Nacionalidade: Reino Unido
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