Por Diêgo Araújo
Dirigido pelo pernambucano Marcelo Pedroso, Brasil S/A foi selecionado para abrir oficialmente a competição de longas da 7ª edição do Festival Janela Internacional de Cinema do Recife. Antes da projeção, o cineasta e organizador do evento, Kléber Mendonça Filho (O Som ao Redor, 2012), fez questão de ressaltar que o festival não tem a obrigação de incluir obras pernambucanas na competição e que o filme garantiu uma vaga no evento por seus próprios méritos.
O longa vem ganhando notoriedade após ter recebido cinco prêmios no 47º Festival de Brasília do Cinema Brasileiro. Com duração de 72 minutos e ausência total de diálogos, Brasil S/A é um filme ousado que utiliza grande apelo visual e sonoro para incitar nos espectadores a reflexão acerca do progresso desenfreado do nosso país. Optando por iniciar o longa de forma crítica e impactante, Marcelo Pedroso exibe a bandeira brasileira em toda a sua magnitude, porém, com o centro azul vazado, sem o lema ordem e progresso.
O enredo, inicialmente, apresenta a substituição dos cortadores de cana-de-açúcar pelas máquinas e faz uma tentativa visualmente belíssima – porém excessivamente longa – de mostrar a rápida evolução da tecnologia empregada ao meio agrícola e o declínio exponencial dos trabalhadores do campo. Não parando por aí, o longa faz, em uma de suas cenas mais imponentes, referência à competição existente entre as próprias máquinas, que tentam gradualmente se sobressaírem umas em relação às outras.
A partir da cena inicial, segue-se uma sequência de situações que evidenciam os benefícios absurdos da tecnologia e as suas consequências no dia-a-dia das pessoas. Ao que parece, o longa tenta nos colocar como coadjuvantes de nossas próprias vidas para que enxerguemos as condições a que estamos sujeitos. Até mesmo a religião é inserida no contexto do filme em uma cena que exibe uma igreja lotada rezando ao som de “The Sound of Silence“. Talvez seja essa a cena ‘penetra’ da produção, fugindo um pouco do bombardeio de críticas ácidas e irônicas ao nosso atual modelo de desenvolvimento e dando maior enfoque à ruptura dos ideais de coletividade e intensificação da individualidade a que estamos sujeitos.
O maior problema de Brasil S/A reside justamente no fato de querer apresentar situações variadas em sequências que se sobrepõem abruptamente. Algumas tomadas são bastante lentas e confusas. Uma construção mais coesa e dinâmica certamente teriam tornado o ato de assistir ao longa mais prazeroso. A fotografia esplêndida e a trilha sonora engenhosamente selecionada, no entanto, ao menos nos privam da ociosidade.
Marcelo Pedroso consegue, com competência e inteligência, nos fazer pensar com mais propriedade e reflexão os rumos que o Brasil está tomando. Será mesmo que vivemos em uma nação fundamentada nos preceitos de ordem e progresso ou na verdade estamos inversamente destinados ao progresso desordenado? Bem, se for assim, pelo menos ainda deverá existir esperança, pois o diretor faz questão de colocar a luz radiante do sol refletida no centro vazado da nossa bandeira na cena final do longa.
*Crítica publicada originalmente como parte da cobertura da 7° edição do Festival Janela Internacional de Cinema de Recife.
Brasil S/A
Ano: 2014
Diretor: Marcelo Pedroso
Roteiro: Marcelo Pedroso
Elenco Principal: Edmilson Silva, Wilma Gomes, Adeilton Nascimento
Gênero: drama
Nacionalidade: Brasil