No início da década de 1990 os filmes protagonizados por Chucky, o Brinquedo Assassino, estavam em alta. O primeiro foi lançado em 1988 e ganhou continuações em 1990 e 1991. Na trama, o espírito de um serial kyller possui um boneco por meio de um ritual macabro. Em seu novo corpinho, o brinquedo é entregue por engano ao pequeno Andy, que passa a ser assombrado pelo bandido.

No remake, o vilão não é um espírito do mal, mas sim a tecnologia. O boneco Buddi é um animatrônico produzido no Vietnã por funcionários que vivem em situação semelhante à de escravos. Como forma de vingança, um dos operários libera todos os filtros de programação boneco, tornando-o autoconsciente. Ele também é entregue para Andy (Gabriel Bateman) por sua mãe, Karen (Aubrey Plaza). Como diferencial, o brinquedo, que escolhe para si o nome de Chucky, é capaz de se conectar com o sistema operacional da empresa Kaslan, uma espécie de Apple.

Dirigido por Lars Klevberg, o longa se apoia em algumas questões para construir sua história. Além de mostrar os perigos da tecnologia cada vez mais poderosa em nossas vidas, o filme pincela as condições insalubres de trabalho na Ásia. Aliado a isso está a violência juvenil e a dúvida: o ser nasce corrupto ou o meio em que vive o corrompe? Entretanto, nenhum desses temas é abordado em profundidade e, em consequência, não geram consistência dramática.

Colabora para isso a fragilidade do roteiro que, em suma, é bastante expositivo. Ao fazer referências a outros filmes de terror clássicos, como O Massacre da Serra Elétrica (1973) por exemplo, Brinquedo Assassino acaba criando flashforwards. Dessa forma, o espectador consegue prever o que virá a seguir e a experiência como um todo acaba prejudicada.

Ainda sim, o filme consegue manter um bom ritmo, em grande parte gerado por cenas em que Andy e seus amigos ensinam coisas ao Chucky. A sequência em que o jovem entrega um “presente” à sua vizinha também tem seu humor. Porém, o filme não consegue reverter essa descontração e as cenas de apelo dramático acabam sendo engraçadas e não trágicas. Para completar, as mortes têm um quê de improbabilidade e simplesmente não convencem.

O roteiro e a direção pecam ainda na construção dos personagens. Brinquedo Assassino possui uma lista completa de estereótipos: o jovem deslocado, a mãe ausente, o namorado malvado, o zelador pervertido, os amigos engraçados… Além de reforçar rótulos preconceituosos, essas caixinhas impedem que os atores tenham boas performances. Em consequência, o público não cria empatia com eles, fator decisivo em um bom filme de terror.

Entre os elementos narrativos, o que leva menos escorregões parece ser a fotografia. Os enquadramentos usam elementos de cenário para mostrar a distância entre mãe e filho, por vezes criando barreiras físicas entre eles. A iluminação é trabalhada através de janelas, o que concede um ar misterioso em algumas cenas. Tal efeito é elevado à enésima potência e passa do ponto na ação final, criando um ambiente antinatural.

A trilha sonora que começa interessante, baseada nos acordes da música que Chucky canta, descamba para o óbvio e conduz excessivamente as emoções do público. Para completar, a montagem no terceiro ato é desorganizada, fazendo com que o espectador perca a referência de tempo entre as cenas.

Em retrospecto, um dos únicos acertos desse remake é a estranheza do boneco. O novo Buddi é anda mais feio que o antigo Chucky e gera um desconforto genuíno. Excetuando esse fato, Brinquedo Assassino se mostra um pastiche apático. Não faz rir o suficiente para ser uma comédia nem assusta para ser um terror. Por tudo isso, era melhor termos ficado com o boneco possuído, que ao menos vencia no quesito originalidade.

Brinquedo Assassino

 

Ano: 2019
Direção: Lars Klevberg
Roteiro:  Tyler Burton Smith, Don Mancini
Elenco principal: Aubrey Plaza, Mark Hamill, Brian Tyree Henry, Gabriel Bateman
Gênero: ​Horror
Nacionalidade: EUA

Avaliação Geral: 2,5