Por Wallacy Silva e Joyce Pais

Quatro anos. Foi esse o tempo de trabalho para chegar ao Bruna Surfistinha, segundo o próprio diretor, Marcus Baldini, estreante em longas-metragens. Após o longo tempo de espera, o filme chega aos cinemas com muitos pontos positivos, mas que não conseguem fazê-lo nada mais do que um “filme comum”. A história é conhecida e virou best-seller da ex-garota de programa Raquel Pacheco, e o sucesso do livro pareceu ser uma das apostas do diretor. Aparentemente deu certo, pois o filme contou com cerca de 400 mil espectadores no fim de semana de estreia.

Raquel (Deborah Secco) é uma jovem de classe média que sofre com o bullying na escola e até na própria casa, onde é alvo do irmão mais velho. Aí já nos deparamos com uma das primeiras brechas deixadas pelo filme. Não percebemos muito bem quais são os reais motivos que fizeram Raquel fugir de casa e se tornar uma prostituta. Aparentemente foi o conturbado ambiente familiar, mas não há nenhuma ênfase nesse sentido presente no longa. As cenas da Raquel em casa são poucas e curtas, tornando a adolescência da garota um território inexplorado. Assim sendo, o filme retrata o início da vida na prostituição, os problemas e o repentino sucesso de Raquel Pacheco.

O ponto forte do filme são as atuações, a começar pela protagonista e dona do filme, Deborah Secco. Em entrevistas, ela sempre destacou a sua entrega ao papel e é exatamente o que sentimos. A interpretação, digna de aplausos, não é apenas da Raquel, mas das várias “Raqueis”, desde a adolescente sem jeito, nada sexy, passando pela deslumbrante e sedutora mulher, que vira a Bruna, até a decadente Surfistinha que sofre com as drogas e com o sucesso que subiu à cabeça. Os experientes Cássio Gabus Mendes, como um cliente que quer tirar Raquel da prostituição, e Drica Moraes, como uma cafetina, também estão muito bem. A “revelação” é Fabiula Nascimento, que volta a um papel de prostituta nos cinemas, depois do longa “Estômago”. Fabiula é Janine, uma personagem que transita muito entre o dramático e o cômico e é responsável por algumas das situações engraçadas vividas no privê em que Raquel e suas companheiras de trabalho vivem, destacando que, apesar das dificuldades vividas, havia ali amizade, companheirismo e alegria.

O dinamismo com que é usada a câmera também chama a atenção. Ao enumerar os clientes de Raquel, que já era então Bruna, temos ora uma sequência com a câmera fixa, na qual vemos, pela mesma perspectiva, os diversos homens que por ali passavam, e ora uma sequência com a câmera mudando de posição, encarnando até o ponto de vista da própria Bruna. Não só nas cenas de sexo, mas em todo o filme, há um jogo com os ângulos e os primeiros e segundos planos. A câmera, assim como a personagem, “faz de tudo”. Em um dos planos mais expressivos do filme, a câmera fecha no rosto de Bruna, no momento em que ela está fazendo o primeiro programa. A mistura de raiva, nojo e força no rosto da personagem revelam que, embora ela soubesse de todas as dificuldades, ela não estava ali para desistir.

Apesar dos destaques positivos, ao juntar os elementos fílmicos, nos decepcionamos. O roteiro perde o caráter linear e se transforma em uma exibição de situações sem marcas de temporalidade, o que nos deixa perdido na história. Situações mal ou não explicadas e perguntas sem respostas tomam conta do filme. A preocupação em mostrar os efeitos ou consequências dos fatos atropela a apresentação das causas, dos porquês. O que seria mais importante, entender quais seriam os motivos de Raquel e porque ela passou o que passou, é ocultado pelo roteiro e deixado a cargo da imaginação do espectador. Bruna Surfistinha nos deixa um enorme vazio, que gostaríamos que tivesse sido preenchido pelo próprio filme. O saldo é positivo, Marcus Baldini surge como uma grande promessa do cinema brasileiro, mas no longa de estreia, fica a sensação de que algo precisa ser arrematado.

 

Cinemascope---Bruna-Surfistinha-PosterBruna Surfistinha

Ano: 2011.

Diretor: Marcus Baldini

Roteiro: Antônia Pellegrino, baseado no livro “O Doce Veneno do Escorpião”, de Raquel Pacheco.

Elenco Principal: Deborah Secco, Cássio Gabus Mendes, Drica Moraes.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: Brasil.

 

 

 

Veja o trailer:

[youtube]RAJhHrpxQOU[/youtube]

Galeria de Fotos: