Por Wallacy Silva

 

Um helicóptero sobrevoa o carnaval de Recife e a câmera passa pelos foliões, que são impossíveis de serem identificados, pois estão todos com máscaras. Essa primeira tomada já nos dá a tônica do filme VIPs, que se propõe a mostrar um recorte da vida de Marcelo Nascimento (Wagner Moura), um rapaz que consegue ser quem ele quiser, mas ao mesmo tempo vive o drama de não saber quem ele mesmo é. Marcelo, um jovem aparentemente distraído e introspectivo, possui a peculiar habilidade de imitar os colegas de classe ou os professores. Esse jovem tem um sonho, que é o de se tornar um grande aviador, assim como seu pai (Norival Rizzo). Para tal, ele resolve fugir de casa e começar a se passar por outras pessoas para conseguir as coisas que deseja. A “brincadeira” toma proporções enormes quando Marcelo se envolve com Baña (Juliano Cazarré) e seu misterioso patrão (Jorge D’Elia) e, consequentemente, com uma rede internacional de tráfico de drogas.O filme vende uma imagem de um personagem extremamente multifacetado, mas a expectativa criada é, em parte, frustrada. Apesar da sugestão de vários “marcelos”, ficamos, no decorrer da história, basicamente com dois: Carrera, personagem criado pelo próprio Marcelo para a prática de atividade ilícita no Paraguai; e Henrique Constantino, filho do dono de uma das maiores companhias aéreas do Brasil, por quem Marcelo se passou durante 4 dias em um camarote no carnaval de Recife, em 2001. As outras pequenas fraudes se limitam a imitações de voz em chamadas telefônicas, por exemplo. Em trecho do filme, Marcelo chega a cantar em um show no Paraguai, apresentando-se com voz e trejeitos de Renato Russo.VIPs é o típico filme do ator. Mais do que isso, Wagner Moura interpreta um personagem que pode ser considerado também um ator. Dessa forma, não devemos esperar menos do que uma mostra impecável de versatilidade do baiano. Não é à toa que ele já está com estreia confirmada em Hollywood, onde participará da ficção-científica Elysium, com nomes como Matt Damon e Jodie Foster. Moura recebeu o redentor de melhor ator no Festival do Rio, no qual o filme recebeu mais três prêmios: melhor atriz coadjuvante para Gisele Fróes (que interpreta a mãe de Marcelo); melhor ator coadjuvante para Jorge D’Elia; e o grande prêmio da noite, melhor filme de ficção.Marcelo, por acabar não conservando a própria identidade, passa por crises profundas se desmascarado. Quando acontece, o filme faz uso de um jogo visual que lembra filmes do “especialista” no tema, Darren Aronofsky, como Pi (1998) ou o mais recente e bem sucedido Cisne Negro. O diretor Toniko Melo lança mão de elementos que jogam com a questão do eu do outro e da identidade, como o boneco, a máscara ou o reflexo. Porém, os momentos de crise do personagem são construídos de forma pouco ousada, pecando pela previsibilidade, pela pouca intensidade dos recursos visuais e pela praticamente ausência dos recursos sonoros, que seriam aliados importantes na representação da angústia do personagem. Se a tentativa do diretor foi fazer do filme um thriller psicológico, ele deixou a desejar. Mas é difícil imaginar quais foram as reais intenções do diretor, que pode ter optado por construir as cenas de maneira mais light e menos chocante por uma simples questão estilística, ou o feito para oferecer ao grande público um filme mais “digerível”.

 

Cinemascope---VIPS-PosterVIPs

Ano: 2009.

Diretor: Toniko Melo.

Roteiro: Bráulio Mantovani e Thiago Dottori, baseado no livro “VIPS – Histórias Reais de um Mentiroso”, de Mariana Caltabiano.

Elenco Principal: Wagner Moura, Jorge D’Elia, Gisele Fróes, Juliano Cazarré, Norival Rizzo, Arieta Corrêa.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: Brasil.

 

 

 

Veja o trailer:

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