Por Domitila Gonzalez
O que pode se esperar quando a Disney decide que sua próxima produção será um longa-metragem baseado num musical sobre…Contos de Fadas?
Eu poderia dizer que foi uma pesquisa incrível e que finalmente eles saíram da baboseira de mocinho+mocinha = final feliz. Mas não.
Eu poderia dizer que eles mantiveram a baboseira de final feliz com todos os clichês possíveis.
Mas de todo não.
Caminhos da Floresta é um filme em cima do muro – e isso não quer dizer que é melhor ou pior que um ou outro, apenas que eles ficaram em cima do muro. Abusaram dos clichês E também desviaram um pouco do que sempre costumam fazer. Algumas apostas foram boas, outras nem tanto. Vamos lá.
Ao que me parece, foi uma adaptação boa dos palcos para a telona. O prólogo dura longos doze minutos, mas é bom pra entender a atmosfera e reconhecer os personagens e seus desejos mais íntimos.
A floresta é o que liga todas as histórias, além de Meryl Streep que adicionou à sua carreira uma bruxa, um musical e mais uma indicação ao Oscar.
Logo de cara, vemos uma Chapeuzinho Vermelho interpretada por Lilla Crawford, que precisa levar os doces pra sua avó e acaba roubando a cena e os pães do casal de padeiros Emily Blunt (só amor) e James Corden (exalando carisma com sua cara de bobão).
De repente, uma Anna Kendrick aparece de Cinderella com a Madrasta (Christine Baranski) e suas irmãs Florinda (Tammy Balanchard) e Lucinda (Lucy Punch). E pra quem ainda não tinha certeza, mesmo depois do primeiro Pitch Perfect – a Escolha Perfeita (Jason Moore, 2012) e de ter começado sua carreira na Broadway aos 13 anos, a moça pode cantar!
E então pulamos pra João (Daniel Huttlestone) e sua mãe (Tracey Ullman) tentando desesperadamente vender sua vaca pra conseguir algum dinheiro nessa vida de MeuDeus.
Tudo o que eu tenho pra falar sobre isso é ATÉ QUE ENFIM usaram o Gavroche, de Les Mis! Esse menino é incrível e vai continuar sendo incrível pro resto da vida musical dele.
O que mais me chama atenção, num musical, não é somente a qualidade vocal, mas a interpretação dos atores-cantores. Vou bater nessa tecla eternamente porque faz sentido. Veja só: Meryl Streep, apesar de ser uma grande-big-enorme-gigante atriz, não é uma exímia cantora. Assim como Johnny Depp, como Emily Blunt, Chris Pine e assim por diante. Costumo levar muito em consideração a forma com a qual o ator se conduz em cena, junto com a direção. Por isso não colou o Wolverine cantando sobre prisões e correntes. Nem Robin Hood de policial. Nem vibrato cabrita de elenco.
Existe um jeito outro de estar em cena, num musical. Num musical filmado, a coisa é ainda mais complicada. Tem coisa que funciona no palco e não funciona na tela. Simples, assim.
Caminhos da Floresta conseguiu uma intersecção de histórias interessante e muito bem-vinda ao enredo, lembrando um pouco o que os roteiristas da série Once Upon a Time fazem, constantemente.
Existe uma bruxa que precisa quebrar um feitiço e, para isto, ela faz um acordo com o casal de padeiros e pede que eles busquem os quatro ingredientes essenciais, na floresta: a vaca tão branca quanto o leite, a capa tão vermelha quanto o sangue, o cabelo tão dourado quanto o milho, um sapatinho tão puro quanto ouro.
Então temos aí: João e o Pé de Feijão, Chapeuzinho Vermelho, Rapunzel e Cinderella numa história só.
Personagens incríveis surgem no meio do caminho, como Johnny Depp de Lobo-Mau. É tão incrível e bobo, ao mesmo tempo, que quase desejamos que tivesse um filme só sobre ele, com seus bigodes alá Salvador Dalí e seu uivo quase patético, em cima da colina.
Sim, Johnny Depp uiva, na colina, e deixa transparecer correntes penduradas em seu fraque lupino. O figurino só se destaca, a partir daí. Todos classudos, mas com desenhos modernos e aplicação de materiais diferentes. As irmãs da Cinderella são quase figuras de cabaret, por exemplo.
O que costuma acontecer com produções Disney (Tim Burton faz muito isso, Tarantino também) é uma referência às suas próprias criações. O Salgueiro da Cinderella ser IGUAL à Vovó Willow, de Pocahontas (Mike Gabriel e Eric Goldberg , 1995), não é uma coincidência.
Mas ao mesmo tempo, fico em dúvida sobre as escolhas: ficou sutil até demais a informação de que o Lobo comeu a Chapeuzinho. Numa música cantada por ela, depois que cruza com o Lobo na floresta, a menina dá entender que “agora ela sabe das coisas”. “Mamãe disse pra eu seguir sempre em frente/ Eu deveria ter ouvido o conselho dela. /Mas ele era muito bom. /Ele me mostrou coisas que eu nunca tinha visto antes./ E me fez sentir excitada – bem, excitada e com medo”.
E assim também ficou sutil demais o toque dos irmãos Grimm em todo o filme. Foi mais Disney do que Grimm e talvez isso seja um ponto de desapontamento. O filme começa tão silenciosamente misterioso que dá a entender que está por vir uma atmosfera diferente… Mas não.
Mas ó: os príncipes canastrões rendem boas risadas, assim como o casal de padeiros desperta compaixão, a Rapunzel é bonita e coisa e tal e, apesar de na história dos Grimm a mãe dela ser louca por RABANETES, e não feijões, a gente compra a ideia dela querer conhecer o mundo.
Caminhos da Floresta é uma adaptação cinematográfica do musical homônimo da Broadway, de Stephen Sondheim, encenado pela primeira vez em 1987. E está concorrendo ao Oscar de Melhor Direção de Arte (junto com um filme do Wes? Acho difícil levar) e Melhor Atriz Coadjuvante (Meryl Streep, sendo“The Last Midnight” é a melhor performance dela, no filme).
Caminhos da Floresta (Into the Woods)
Ano: 2015
Direção: Rob Marshall
Roteiro: James Lapine e Stephen Sondheim.
Elenco principal: Anna Kendrick, Meryl Streep, Chris Pine, Johnnhy Depp, entre outros.
Gênero: Aventura, comédia, fantasia.
Nacionalidade: EUA.
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