Por Breno Bringel
Os filmes de animação, durante muito tempo, tiveram como padrão absoluto os longas produzidos pelos estúdios americanos, principalmente a Disney. Na última década, porém, vimos a globalização deste gênero com ótimos longas de vários países, inclusive o Brasil, dominando bilheterias e premiações, trazendo, assim, peculiaridades regionais para um gênero cinematográfico tão restrito outrora, principalmente em seu público alvo.
Contando a história de um amor não concretizado entre um pianista e uma cantora, na Cuba pré-revolução comunista, Chico e Rita, filme espanhol codirigido pelo oscarizado diretor Fernando Trueba e pelo famoso desenhista Javier Mariscal, é um bom exemplo de animação que foge dos clichês típicos do gênero.
Mostrando-nos, já em seus primeiros momentos, que não será uma animação voltada para o público infanto-juvenil, contendo, inclusive, cenas de nu frontal feminino, o filme aborda também algumas temáticas consideradas “adultas”, como a discriminação racial nos EUA da década de 1950 e a dura vida no show business, além da própria implantação do regime de Fidel Castro em Cuba. Mas, apesar do panorama social e histórico apresentado, o filme em momento algum desvia do foco principal – contar a atribulada história de amor entre os personagens-título.
Ao recorrer a um processo de animação mais tradicional, o filme acaba nos apresentando, em muitos momentos, planos belíssimos como os que mostram, por exemplo, as luzes de Las Vegas e os arranha-céus de Nova York à noite. Com traços marcantes, preenchidos por cores fortes, o filme muitas vezes parece nos presentear com uma sucessão de obras de arte dignas dos mais renomados museus, produtos do intenso trabalho de pesquisa realizado por Mariscal.
Outro ponto positivo alcançado pelo longa é a ótima trilha sonora, composta, predominantemente, por ritmos cubanos e jazz, contando, inclusive, com a participação de vários músicos famosos da época, também retratados em animação, dentre eles os lendários Charlie Parker e Thelonious Monk.
Escrito pelo próprio Trueba e por Ignacio Martínez de Pisón, o roteiro, mais um êxito do filme, consegue ao mesmo tempo apresentar uma gama de personagens interessantes, desenvolvendo-os satisfatoriamente, e uma história tocante e profunda. Apesar de em alguns momentos as ações de Rita em relação a Chico, principalmente no primeiro ato, parecerem abruptas conseguimos nos identificar e nos importar com aquelas pessoas representadas na tela. A estrutura narrativa, mais um ponto positivo do roteiro, também é bastante curiosa, contando os acontecimentos principais basicamente por meio de flashbacks.
No terceiro ato do filme, porém, a maior parte dos problemas do longa se evidenciam. Apressando absurdamente o andamento, não conseguimos nos envolver com os vários acontecimentos que irão se suceder a partir daquele momento na vida de Chico. Apostando em uma montagem rápida e entrecortada para resumir os muitos anos seguintes da vida de Chico, eacaba culminando em um final que, apesar de belo e até certo ponto surpreendente torna-se repentino.
Apesar dessa falha no terceiro ato do filme, Chico e Rita ainda prevalece como uma obra prima da animação contemporânea, digna dos prêmios conquistados e dos fãs que conquistou pelo mundo, ao mostrar um romance bonito e verdadeiro, conduzido por uma trilha sonora estonteante e belas cores.
Este filme integrou a programação do Festival de Animação do CINUSP.
Ano: 2010.
Diretor: Fernando Trueba, Javier Mariscal, Tono Errando.
Roteiro: Fernando Trueba, Ignacio Martínez de Pisón
Vozes: Eman Xor Oña, Limara Meneses, Estrella Morente
Gênero: Animação.
Nacionalidade: Espanha/Reino Unido.
Assista o Trailer:
https://www.youtube.com/watch?v=ZTWxB9hRjwI
Galeria de Fotos: