Por Wallacy Silva

Corações Sujos se passa pouco após o fim da Segunda Guerra Mundial, em uma comunidade de imigrantes japoneses no Brasil. Segregados pelo Estado, os moradores da comunidade passam a ser reprimidos também por um grupo que persegue todos aqueles que acreditam que o Japão perdeu a guerra, já que corria uma falsa notícia de que o Japão havia vencido, e os nacionalistas acreditavam que o Japão há sempre de vencer. Nesse contexto acompanhamos Takahashi (Tsuyoshi Ihara, Cartas de Iwo Jima), dono de uma pequena loja de fotografia, que acredita na vitória japonesa e acaba sendo eleito um daqueles que vão assassinar os “traidores”, chamados de “corações sujos”.

O longa opta por deixar de lado maiores explicações sobre o momento histórico e político, sobre a organização criminosa que promoveu os assassinatos, que aparece movida apenas por um ultranacionalismo cego, e aborda de leve quais eram as condições em que viviam os imigrantes (eles tinham sua cultura renegada pelo Estado brasileiro, que não permitia que fosse ensinado o idioma japonês ou que fosse hasteada a bandeira do país, como relatam algumas cenas). Deixando tudo isso de lado, os dramas pessoais é que acabam por conduzir o filme, mas de forma exagerada e superficial.

Miyuki (Takako Tokiwa), a mulher de Takahashi, não aceita que seu marido é um criminoso, e ganha um conjunto irritante de cenas nas quais demonstra o seu drama pessoal: primeiro joga o milho na parede, depois joga pras galinhas, aí senta e chora, depois rasga os folhetos da militância radical, depois senta e chora de novo… até que ela toma uma atitude, mas isso só no fim do filme. Já Takahashi trava diálogos com as suas vítimas, mas nunca esclarece suas motivações, provavelmente porque nem ele as conhece. Só consegue repetir a mesma ladainha dos “corações sujos”. O que salva é a atuação de Tsuyoshi, que de forma pungente demonstra que o assassino sofre mais do que a própria vítima. Mas o conflito pessoal não convence, o personagem sai matando todo mundo por aí sem ter a mínima convicção do que está defendendo?

Tiro o chapéu para a direção de arte e para o figurino, assim como para a revelação da atriz mirim Celine Fukumoto, que vive a pequena Akemi. A personagem é uma das poucas que questiona o nacionalismo da comunidade, claro, de forma inocente (“por que você não fala português?”, ela pergunta). Já a fotografia se utilizou de cores quentes sem nenhuma justificativa aparente. Algumas composições são interessantes, como no momento da morte sobre o algodão, em que o vermelho sobrepõe o branco, suscitando a bandeira nipônica. Outras intervenções são de extremo mau gosto, como quando o sub-delegado (Moscovis) solta a frase “no Brasil um bando de amarelos tenta matar um branco e é solto por um advogado preto”. Prefiro imaginar que a cena tem a intenção de mostrar que o Estado não é preconceituoso apenas com os imigrantes japoneses, mas é uma cena desorgânica (e insisto, de mau gosto e desnecessária) se levarmos em conta a proposta apresentada pelo filme.

Dentre mais erros do que acertos, o conjunto da obra é ruim, principalmente pela decisão de fazer um filme de personagens, sendo estes desinteressantes e pouco complexos. O resultado é um filme arrastado, que caminha aos trancos e barrancos, por um território excessivamente dramático, sem nenhuma direção.

Cinemascope---Corações-Sujos-PosterCorações sujos 

Ano: 2011

Diretor: Vicente Amorim.

Roteiro: David França Mendes, baseado no livro “Corações Sujos”, de Fernando Morais.

Elenco Principal: Tsuyoshi Ihara, Takako Tokiwa, Eiji Okuda, Kimiko Yo, Shun Sugata, Celine Fukumoto, Eduardo Moscovis, André Frateschi, Issamu Yazaki, Ken Kaneko.

Gênero: Drama.

Nacionalidade: Brasil.

 

 

Veja o trailer:

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