Por Wallacy Silva

A tradicional história dos Irmãos Grimm, que recentemente ganhou outras versões cinematográficas (como Espelho, Espelho Meu e Branca de Neve e o Caçador), tem também sua versão espanhola. Branca de Neve (Blancanieves) foi o grande campeão do Goya de 2013, a principal premiação de cinema do país. O filme conquista notoriedade pela forte presença da tradição da Espanha e por emular com excelência as feições de películas dos primórdios da sétima arte.

Carmencita (Sofía Oria e Macarena García) não conheceu a mãe, que morreu em trabalho de parto. O pai, Antonio Villalta (Daniel Giménez Cacho), era um grande toureiro que acabou inválido, e foi seduzido por uma aproveitadora enfermeira, Encarna (Maribel Verdú). A enfermeira, claro, é a madrasta megera, que maltrata a enteada. Por essa breve introdução já é perceptível a presença das touradas, e a pequena Carmen vai desenvolver habilidades “hereditárias” nessa arte. O flamenco é recorrente, seja nas danças da pequena com a Doña Concha (Ángela Molina) ou na bela trilha sonora. A música é uma afirmação da tradição da região sul da Espanha, onde é ambientada a trama.

É inevitável a comparação com O Artista, por também ser um filme mudo e em preto e branco, mas eu diria que essa obra de Paulo Berger é ainda mais saudosista do que a francesa, do diretor Michel Hazanavicius. A começar pela razão de aspecto, 4:3 ou 1:33:1. A “tela quadrada” evoca os primeiros anos da arte cinematográfica, e implica numa praticamente inversão da orientação nos enquadramentos (notem como ele procura amparo em elementos verticais, como corredores com pé-direito alto ou árvores). Figuras de linguagem que tinham mais força no cinema pré-som e pré-cor são amplamente utilizadas, como metáforas (a vitrola que para de tocar…) ou raccords visuais (cortes do olho do touro para o olho do toureiro, ou de um desenho na farinha para um retrato). A sobreposição de imagens, em momentos nos quais vemos a imaginação da menina, também remete a fitas como as de Méliès. Ainda sobre a forma, é encantadora a elipse da menina colocando as roupas no varal, na qual a atriz Sofía Oria dá lugar à Macarena García.

Um dos principais defeitos que o público contemporâneo encontra em longas antigos é o fato de eles parecerem ser “cansativos”. O que é completamente compreensível. Era outra época, outra forma de fazer cinema, para outro público, com os olhos menos “treinados” do que os nossos. Pois é aqui que Berger dá um toque de modernidade em seu filme, dinamizando-o através dos cortes. Praticamente a cada 5 segundos há um corte. Não dá tempo de enjoar de qualquer imagem, logo vem outra. E outra. E mais outra. O diretor mostra domínio total sobre a técnica, a montagem ágil se importa com o público, sem deixar de lado importantes ingredientes do cinema dito “clássico”. Branca de Neve é um espetáculo que nos deixa tenso, ansioso e deslumbrado, mesmo estando diante de um conto mais que conhecido.

capaBranca de Neve (Blancanieves)

Ano: 2013

Diretor: Pablo Berger.

Roterista: Pablo Berger.

Elenco principal: Maribel Verdú, Daniel Giménez Cacho, Angela Molina, Pere Ponce, Macarena García, Sofía Oria, Josep Maria Pou, Inma Cuesta, Ramón Barea, Emilio Gavira, Sergio Dorado.

Gênero:  Suspense

Nacionalidade:  Espanha/França/Bélgica

 

 

 

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