Por Joyce Pais

Baseado em fatos reais, Grandes Olhos narra a surpreendente (e cinematográfica) história do casal, Margaret e Walter Keane, que durante anos enganaram a todos e fraudaram o mercado da arte, atribuindo a autoria dos quadros de Margaret a Walter. Depois de enriquecerem à custa de muita mentira, ela resolve pedir o divórcio e reivindicar seus direitos, processando seu ex-marido.

Antes Margaret Ulbrich, a pintora das crianças de olhos evocativos e enormes, viveu os conservadores anos 1950. Uma época ótima para os homens, já que as mulheres não eram vistas da mesma maneira, encaradas com a mesma seriedade e credibilidade. Imagine que ser uma mulher divorciada (Keane foi seu segundo marido), em busca de um emprego que lhe possibilitasse criar sua filha pequena, foi apenas um dos obstáculos que Margaret teve que vencer.

Em Grandes Olhos, Tim Burton troca suas cores frias e soturnas costumeiras por uma paleta e tons vibrantes, que mais tem a ver com o universo de Peixe Grande e suas Histórias Maravilhosas. O verde e o azul, tão presente nas obras de Margarete Keane, são pinceladas também na tipografia escolhida para a abertura do filme, na decoração de alguns ambientes/cenários, figurino e paisagens.

Sempre bem sucedido nos filmes de Quentin Tarantino, Christopher Waltz vive um personagem que, de certa forma, se assemelha aos excêntricos e marcantes Hans Landa (Bastardos Inglórios) e Dr. Shultz (Django Livre), mas dessa vez surge exageradamente acima do tom, o que prejudicou a delineação de seu personagem, que não cresce (e se transforma pouco) durante a trama sendo, inclusive, cansativo em alguns momentos. Já Amy Adams, com a segurança de um papel sem maiores dificuldades, é eficiente na pele da vítima corrompida pelo charlatão (desde sua primeira aparição em cena).

Assinada novamente por seu parceiro habitual, Danny Elfman, a trilha sonora conta com duas músicas da cantora Lana Del Rey (indicada ao Globo de Ouro de Melhor Canção Original), “I Can Fly” e “Big Eyes”, e justamente por terem sido escritas para o longa, são ótimas em retratar aquela complexa relação, ora dominadora, ora passional.

O filme ainda ensaiou uma discussão que antagonizava conceitos de arte erudita e popular, a reprodutibilidade das obras de arte, imortalizadas por Andy Warhol, artista citado algumas vezes no longa e que viveu a mesma época dos Keane. Mas o foco permaneceu na destreza (e cara de pau) de Keane na arte de vender, fazer marketing pessoal e…manipular, etiquentando-o como um vilão inquestionável.

Com uma dispensável narração em off do jornalista que cobriu o caso pontuando alguns momentos-chave da história, o filme conta com uma montagem ágil e dinâmica, mas infelizmente com uma direção pouco inspirada de Tim Burton. Quando anunciado que ele estaria nesse projeto, muita expectativa surgiu em torno do que poderia ser uma reviravolta em sua carreira, uma expressão mais autoral do estilo que o consagrou anos atrás, mas apesar de não ser um fracasso, Grandes Olhos está longe de ser um destaque em sua filmografia.

Cinemascope - Grandes Olhos (1)Grandes Olhos (Big Eyes)

Ano: 2015

Diretor: Tim Burton.

Roteiro: Scott Alexander, Larry Karaszewski.

Elenco principal: Amy AdamsChristoph WaltzKrysten Ritter.

Gênero: Biografia, Comédia.

Nacionalidade: EUA.

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