Por Katia Kreutz
Dupla Explosiva é um daqueles filmes que você quase se sente culpado por gostar. A história já começa mostrando o típico “cara que só existe nos filmes de Hollywood”: rico, bem sucedido, atraente, com uma namorada linda, um carro importado e uma casa saída das páginas de revistas de decoração. O único diferencial é que ele mora em Londres, não na Califórnia.
Logo nos primeiros minutos da história, um trabalho dá errado e esse homem acaba virando a encarnação perfeita do loser hollywoodiano: falido, deprimido e sozinho. Ryan Reynolds interpreta Michael Bryce, o tal fracassado que está no fundo do poço porque sua empresa de serviços de guarda-costas perdeu a credibilidade depois de um incidente.
Samuel L. Jackson é Darius Kincaid, um assassino de aluguel que, da prisão, acaba fazendo um acordo para testemunhar contra um ditador da Bielorrússia, Vladislav Dukhovich (Gary Oldman, que nunca precisa de muito esforço para interpretar vilões, mas é extremamente mal aproveitado nesse papel). Quando as coisas dão errado no transporte do prisioneiro até a cidade de Haia, na Holanda, onde acontece o julgamento, a agente da Interpol Amelia Roussel (Elodie Yung) acaba chamando seu ex-namorado para proteger Kincaid. Sim, obviamente esse sujeito é Michael Bryce.
Por conta do trabalho de ambos, Kincaid e Bryce já se conhecem e alimentam uma rivalidade de longa data. Quando precisam se unir para sobreviver, sendo atacados por todos os lados por um exército aparentemente infinito de capangas do ditador bielorrusso, é que as diferenças entre os dois se tornam uma vantagem. Bryce é um guarda-costas metódico e Kincaid um matador impulsivo. Os melhores momentos do filme estão nesse conflito entre os dois.
O roteiro não traz muitas surpresas, é repleto de clichês do gênero e tem cenas que beiram o absurdo – como os bandidos tentando acertar os fugitivos com bazucas em uma perseguição a uma lancha dentro de um rio… no meio de uma pacífica cidade holandesa. No entanto, o diretor Patrick Hughes (de Os Mercenários 3 e Busca Sangrenta) consegue manter um bom equilíbrio entre a ação e a comédia. Muito disso também se deve à ótima química entre Ryan Reynolds e Samuel L. Jackson (que claramente se diverte abusando do seu popular jargão – motherf*cker).
Como boa parte dos longas de ação escritos e dirigidos por homens, as personagens femininas são estereotipadas e mal desenvolvidas, servindo apenas como acessórios para os reais protagonistas do filme. Elodie Yung, supostamente uma agente eficaz e bem treinada, cumpre seu papel de donzela em perigo e, no final das contas, precisa ser salva pelo personagem de Ryan Reynolds. Já Salma Hayek faz uma pontinha como a esposa de Samuel L. Jackson, mas acaba caindo na representação superficial de uma “latina exagerada e durona”.
Apesar das falhas, Dupla Explosiva abraça suas referências aos filmes B e não se importa em ser ridículo para ser divertido. A dupla em questão certamente entra na brincadeira, sem medo de ser feliz – em especial Samuel L. Jackson, que cria uma mistura entre seus populares personagens desbocados e sua própria persona. O filme não oferece nenhuma mensagem mais profunda, além do básico: quem é o maior vilão? Aquele que mata os bandidos ou aquele que os protege? Mas o charme dos atores acaba fazendo com que o público se divirta quase tanto quanto eles devem ter se divertido filmando.
Dupla Explosiva (The Hitman’s Bodyguard)
Ano: 2017
Direção: Patrick Hughes
Roteiro: Tom O’Connor
Elenco principal: Ryan Reynolds, Samuel L. Jackson, Gary Oldman, Elodie Yung, Salma Hayek
Gênero: Ação, Comédia
Nacionalidade: Reino Unido
Veja o trailer: