Baseado no livro de Hilde Berger dirigido por Dieter Berner, o longa relata os aspectos mais relevantes da vida do artista expressionista Egon Schiele, do início do século XX. A narrativa da obra se estabelece entre cortes lineares e não lineares, avançando e retornando a partir do recurso de flashbacks. Essa forma dinâmica de contar a história se encaixa no modo como vivemos a experiência de assistir ao filme, uma vez que somos apresentados a um artista contaminado pela vontade de viver. E essa vontade encontra-se expressa em diversos momentos de sua vida, principalmente na arte e no amor.
Schiele (Noah Saavedra) é um jovem artista e tem como a sua primeira musa Gerti (Maresi Riegner), sua irmã mais nova. A obsessão do jovem pintor pelo modelo vivo é demonstrada na imensa quantidade de mulheres que frequentam o seu ateliê para posar e serem pintadas pelo artista. O filme revela a personalidade provocativa de Schiele, os seus desenhos tidos como “eróticos”, bem como os dramas familiares, os diversos relacionamentos e mulheres que passaram por sua vida.
O filme flerta com aspectos pictóricos, isto é, o diretor se debruça sobre o mundo das artes plásticas, especificamente do desenho e pintura e, nesse movimento, o próprio filme torna-se plástico. Ou seja, em diversos planos vemos a imagem cinematográfica assemelhar-se com a pintura e vice-versa, borrando as fronteiras entre cinema/pintura. Isso se comprova com os movimentos de câmera, figurinos, paisagens sublimes e a gestualidade plástica dos atores do filme.
Nesse sentido, algumas construções de cenários e ambientes são sintonizadas com as pinturas do pintor. O filme faz uma citação direta aos quadros do artista, não apenas os mostrando em diferentes sequências e planos, mas evidenciando o seu próprio movimento de criação, ou seja, a experiência de encontrar o artista em seu ateliê, as diversas poses e conselhos aos modelos vivos.
Se refletirmos sobre o método expressionista de pintar, ou seja, o de colocar em evidência a exacerbação do sentimento, a visão interior de mundo, a subjetividade e a expressão pura do artista, pode-se acreditar que esses valores encontram o seu clímax ao sermos apresentados a Wally Neuzil (Valerie Pachner), a musa de Schiele e o seu grande amor.
Wally e Schiele estão apaixonados o filme todo. É a demonstração pura de um amor onde à liberdade adquire sua plena autonomia. Ao decorrer da narrativa, vemos a separação de ambos devido ao alistamento de Schiele às forças armadas, uma vez que o filme se passa durante o período da Primeira Guerra Mundial.
Talvez, a cena mais emblemática, e como exemplo disso, reitero como o diretor aproxima e borra as fronteiras entre cinema/pintura, bem como literatura, – já que o filme é também baseado em um livro – é a criação do quadro Morte e Donzela, que inclusive, aparece no subtítulo do filme.
Nesse aspecto, temos um grande movimento de tradução entre pintura/livro/cinema que se revela de um modo brilhante quando Schiele posa junto a Wally; sentados e apoiados em um sofá, o artista envolve Wally em seus braços e um espelho reflete a imagem de ambos, possibilitando o olhar do próprio artista sobre si mesmo e a sua obra.
De um modo primordial, o filme aproxima as linguagens artísticas, aglutinando em um projeto audiovisual uma quantidade significativa de citações que despertam o desejo de se aproximar tanto da obra do artista como do livro de Hilde Berger. Belíssimo modo de narrar, com imagens sublimes, o filme se caracteriza como uma obra plural, onde o núcleo central está na figura de Egon Schiele.